Uendel será o camisa 6 do Inter em 2017. A contratação do jogador do Corinthians é um tanto emblemática para esse começo de retomada do orgulho colorado, afinal, o clube tirou o titular de um dos principais times do futebol brasileiro. Uendel assinará por três temporadas com o Inter e, ainda que o Beira-Rio não confirme, os direitos econômicos do lateral foram adquiridos por R$ 3,5 milhões. Segundo a imprensa paulista, em Porto Alegre, Uendel receberá o dobro de seu salário atual, que é de R$ 150 mil. O jogador deverá ser apresentado no Beira-Rio até o final de semana.
O Inter mirou o lateral-esquerdo de 28 anos por quatro motivos: experiência na Série B com a Ponte Preta, números positivos com o Corinthians na temporada passada, comprometimento e a confiança do técnico Antônio Carlos Zago. Como a nova ordem no CT Parque Gigante é fazer de tudo para evitar os erros de contratações, diversos nomes foram descartados para a função até que o Inter se decidiu pelo corintiano.
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– Para começar, Uendel tem um caráter extraordinário – atesta Tite, treinador da Seleção Brasileira e técnico de Uendel na conquista do campeonato nacional de 2015, com o Corinthians. – Como jogador, tem muita técnica e habilidade, além de qualidade de passe, por ter começado como meio-campista – conta o treinador gaúcho.
Tite elogia ainda o toque de bola do novo reforço do Inter. Lembra que Uendel aprimorou a sua marcação e que precisa ser permanentemente treinado na bola aérea:
– Uendel não é um jogador que te dá profundidade, ele não vai receber um lançamento longo, para pegar a bola e ter a velocidade de uma transição, mas te dá muita qualidade técnica. Em termos de marcação, ele desenvolveu um senso defensivo muito forte. Aprendeu muito devido a sua origem no meio-campo, aprendeu a trabalhar em linha de quatro e a fechar a cobertura do zagueiro, do lado contrário de onde está a bola. Mas precisa ser constantemente trabalhado no cabeceio, para que essa situação possa ficar bem marcada.
Auxiliar de Tite, no Corinthians e na Seleção, Cléber Xavier também destaca a evolução de Uendel e a boa fase do lateral no Corinthians.
– Nos movimentos defensivos, ele tem o domínio da função, com bom posicionamento, cobertura e bloqueios – comenta Xavier. – Não é um jogador de força, mas nos movimentos ofensivos, ele é o que chamamos de construtor: um jogador que tem bom domínio de bola, bom passe e que vai bem no apoio, com passagens e infiltrações, além de ter aprimorado os seus cruzamentos, assistências e finalizações. Na parte comportamental, é um exemplo de atleta – destaca o auxiliar-técnico da Seleção Brasileira.
A lateral-esquerda do Inter nem sempre foi uma posição das mais abençoadas. Depois dos campeões brasileiros nos anos 70, Vacaria e Cláudio Mineiro, o clube penou por anos e anos sem um jogador que convencesse e assumisse de vez a função. Em 2004, Alex foi contratado ao Guarani como lateral-esquerdo. Dois anos depois, se tornou o principal armador do Inter.
Ainda em 2006, Abel Braga tirou um coelho da cartola para conquistar a Libertadores: Jorge Wagner. O meia-atacante virou curinga no time de Fernandão e companhia e, em meio ao torneio, ganhou a posição de Rubens Cardoso. O inédito título chegou com Wagner como ala-esquerdo e Ceará, contratado no ano anterior para a lateral-esquerda, como o ala pela direita. Em 2010, o time bicampeão da América tinha em Kleber um lateral-esquerdo confiável, ainda que contestado por parte da torcida. Em 2013, ele perdeu a posição para Fabrício. Depois, ainda passaram pela posição Alan Ruschel, Geferson, Artur e Raphinha – além de Alex, Ernando e Ceará, em algumas partidas.
– Essa é uma contratação surpreendente. É surpreendente que Uendel troque a primeira divisão pela segunda, sendo que tem prestígio. O Corinthians não está na Libertadores, é verdade, mas é o Corinthians. Foi uma opção curiosa de carreira. Para o Inter, acho uma ótima contratação. Quando Fábio Santos saiu do Corinthians, Uendel se mostrou no mesmo nível e até melhor, em alguns jogos – analisa o comentarista do canal Sportv, Sérgio Xavier Filho.
Revelado em 2007 pelo Criciúma, o catarinense de Sombrio Uendel passou pelo Fluminense, em 2008, e fez boa campanha com o Avaí, do técnico Silas, no ano seguinte. Contratado pelo Grêmio, em 2010, Silas indicou om lateral-esquerdo. No Estádio Olímpico, Uendel não teve chances. Ficou atrás de Fábio Santos, titular absoluto e que não deu chances aos concorrentes (Lúcio e Uendel). Acabou cedido ao Flamengo, também a pedido de Silas. Não jogou. Até que na Ponte Preta de Guto Ferreira teve o seu melhor momento. Ficou em Campinas até o final de 2013, quando foi comprado pelo Corinthians.
– Uendel é muito bom no apoio e, na Ponte, com Guto, e no Corinthians, com Tite, ele aprendeu a marcar muito bem, uma deficiência que tinha até então. Para as necessidades atuais do Inter, é uma grande contratação. Uendel é um cara que se entrega ao time. Joga de volante, de zagueiro e até meia, se precisar, como ocorreu no Corinthians – atesta Silas.
Treinador campeão gaúcho com o Grêmio de 2010, Silas relata que, no Flamengo, Uendel não jogou porque chegou com uma defasagem muscular na perna direita. Passou por um trabalho de recondicionamento e, quando estava pronto para jogar, Silas foi demitido após o décimo jogo. Vanderlei Luxemburgo foi contratado e Uendel acabou deixando a Gávea.
– Luxemburgo pediu a contratação do André Santos. E já havia Juan para a função. Uendel não teve chances e foi cedido à Ponte Preta, onde deslanchou. Uendel quer vencer na vida. Sabe que o Inter está construindo uma base para os próximos anos e aposta nisso para seguir em alta na carreira – acrescenta Silas.
Com a lateral-esquerda ganhando um novo dono, o Inter agora passará a focar o outro lado. A inesperada decisão de William, de não renovar com o Inter, deixou a direção de mãos atadas. Ceará o único lateral-direito do elenco de Zago. O gaúcho Maicon, 23 anos, que pertence ao Livorno-ITA e que estava emprestado ao Sport, e Alemão, 26 anos, que está deixando o Botafogo.
* ZH Esportes