Sete dias depois do rebaixamento do Inter à Série B, Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi, o técnico Lisca, de 44 anos, ainda recorda o pouco tempo em que esteve no comando do time profissional. Convocado por Fernando Carvalho para assumir o Inter, Lisca recebeu por missão evitar o descenso do clube à Série B em três jogos. Logo na primeira partida, uma pancada: derrota por 1 a 0 para o Corinthians.
– A derrota para o Corinthians, com um pênalti inexistente, a 15 minutos do segundo tempo... Aquela derrota nos derrubou. Senti que o Inter estava rebaixado ali. Senti que a direção e os jogadores já não acreditavam mais. Tentavam acreditar, mas não conseguiam mais.
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A seguir, os principais trechos da entrevista de Lisca a Zero Hora:
Quais são os seus planos a partir de agora?
Eu tinha duas situações em vista, antes de receber o convite do Inter. Mas, como optei pelo Inter na época, perdi ambas. Passou. Agora, espero assumir um time de Série B ou de Série A, ainda no primeiro semestre.
Você se arrepende de ter assumido o Inter?
Não me arrependo. Não me arrependo mesmo.
Após o jogo do rebaixamento, em Mesquita, você foi aplaudido pela torcida do Inter. A sua carreira não parece ter ficado marcada pelo descenso.
Não fiquei marcado. Acho que a torcida e a imprensa sabem que assumi o time já com poucas esperanças. Sempre me disseram que eu havia sido contratado para apenas três jogos (Corinthians, Cruzeiro e Fluminense). Também sabia que a Oposição havia conversado com Milton Mendes e com Antônio Carlos Zago. Fernando Carvalho me disse que eu não teria sequência, pois ele não tinha influência com a nova direção. E acho que mão fui mal. Tive 44% de aproveitamento (uma vitória, um empate e uma derrota), contra 60% do Argel, 13% do Falcão e 36% do Roth (os seus antecessores no Beira-Rio).
Você comentou que, logo após a sua estreia, contra o Corinthians, você sentiu time e direção desesperançosos. Mas o Inter venceu a partida seguinte contra o Cruzeiro e chegou à última rodada com alguma chance...
Mas algo se perdeu em meio a isso. Houve a tragédia com a Chapecoense, e a rodada foi adiada. Chego ao vestiário e sou surpreendido com os jogadores me dizendo que não querem mais jogar. Ceará, Alex e Ernando lideraram o movimento. Tentei argumentar, perguntei a eles se tinham noção das consequências daquele ato. E me disseram que sim, que sabiam que se o Inter não jogasse seriam rebaixados e que eles estavam cientes daquilo. Me disseram que estavam conversando com jogadores de outros times e que precisavam se posicionar também.
Você foi surpreendido com essa atitude?
Muito. Fiquei espantado. Tanto é que voltei a argumentar sobre as consequências. Mas eles insistiram que queriam expor isso também para a imprensa, que precisavam se posicionar. O meu posicionamento era completamente outro. Era diferente do posicionamento das lideranças do grupo. Mas aceitei, pois era eu contra 30. Então, comuniquei à direção. Os dirigentes estavam cientes do que aconteceria. Acho que essa foi a minha maior surpresa. Nunca havia passado por algo assim antes.
Mas a rodada foi confirmada e apenas Chapecoense e Atlético-MG não ocorreu, com o duplo WO.
Exato. E, a partir disso, ainda tínhamos uma semana e meia para trabalhar. Os jogadores disseram, então, que dariam sequência ao trabalho... Mas a mensagem que ficou clara para mim era outra: acho que eles não acreditavam mais.