Antes de começar a entrevistar William, medalhista de ouro na Olimpíada, precisávamos saber como creditá-lo, se lateral-direito ou meia do Inter. A resposta: tanto faz. William, mais do que tudo, agora, é o pai do Pedrinho.
A história do nascimento do menino, na segunda-feira, tem a ver com o agitado 2016 vivido pelo jogador. Ele havia recém retornado de Recife, no voo que o clube havia fretado depois da partida contra o Sport, por volta das 3h30min. Quando chegou ao CT e entrou no carro, recebeu a ligação mais aguardada dos últimos nove meses:
– Amor, vem logo que a bolsa estourou!
Leia mais:
Exame aponta lesão e Marquinhos pode não ser emprestado pelo Inter
Geferson volta a ganhar espaço no Inter: "Estou pronto"
Criciúma registra no BID jogadores emprestados pelo Inter
William correu para casa, buscou a mulher, Pamela, e partiu para o hospital. Criou coragem para ficar na sala de parto e foi o primeiro a ouvir o choro do primeiro filho. Aos 21 anos, conheceu a paternidade.
– Minha vida mudou para sempre. Antes, tudo o que fazia era pensando em mim e na minha mulher. Agora é o Pedrinho meu foco.
Dali em diante, até o sono mudou. De "dormir como uma pedra", passou a "ouvir até suspirar na madrugada". Acorda com qualquer movimento do pequeno herdeiro. Por isso, até a expressão do rosto parece mais cansada. O menino é o terceiro capítulo de um ano que marcou a história do jogador.
O primeiro episódio foi o mais dramático – e mais exaustivo. Uma cotovelada em Miller Bolaños, no primeiro Gre-Nal do Gauchão resultou em uma fratura no rosto do atacante gremista e em seis jogos de punição para o lateral colorado – no fim das contas, William voltou a entrar em campo só depois do equatoriano. Foram quase dois meses de ameaças, reclusão e tensão.
– Não foi fácil, mas acabou sendo bom para as pessoas conhecerem quem eu sou de verdade – comenta.
William refere-se à volta por cima que deu ao longo do Brasileirão. Suas atuações o levaram à seleção olímpica. Reserva, deu resposta positiva sempre que chamado por Rogério Micale. Entrou na história: estava no time que conquistou a primeira medalha de ouro no futebol masculino para o Brasil. Se ganhou fama de violento, seus números mudaram o conceito: é o líder de assistências, de passes certos, de cruzamentos e de desarmes do time em 2016. Daquele lance com Bolaños até hoje, levou apenas quatro cartões amarelos. Mas tem um zero que o incomoda. Em dois anos de profissional, nunca fez um golzinho sequer.
– Fico me cobrando isso. Ainda mais agora que entro na área, tenho chances. É treino, e tenho feito bastante. Agora é misturar técnica e tranquilidade quando surgir a oportunidade.
Sobre treino, aliás, William tentou explicar porque tendo todos os números positivos ofensivamente, não é ele quem cobra os escanteios:
– Ainda sou lateral, minha função também é defender. Tenho a recuperação em caso de não dar certo lá na frente. Além disso, Valdívia, Seijas e os outros são bons cobradores.
Lateral ou meia, William, na verdade, é titular do Inter. Ganhou elogios de Celso Roth nas duas funções executadas, com as diferenças que as missões trazem consigo. Atrás, precisa correr para marcar atacantes. Na meia, precisa ter presença na área.
Na meia, posição na qual acompanha Luan (do Grêmio), Sasha, Valdívia e "dos europeus, Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi, para ver se aprende", sua maior vantagem é jogar ao lado do ídolo. Tem Ceará como maior referência na posição desde 17 de dezembro de 2006. No histórico Inter 1x0 Barcelona, William garante ter chorado ao ver o lateral anular Ronaldinho e dar ao time da Capital o Mundial de Clubes. Saiu pelas ruas do bairro Guabiroba, em Pelotas, para comemorar o título com os demais colorados "da vila", como chama.
Na lateral, tem a facilidade de estar exercendo a missão desde que chegou ao profissional. Foi nesta posição que chamou a atenção de Rogério Micale e espera ganhar a confiança de Tite em alguma partida da Seleção. E é nela que provavelmente desperte a atenção dos europeus.
– Claro que penso em ir para a Europa, todos os jogadores pensam. Mas não é a prioridade.
Na verdade, a prioridade está dividida. São dois focos, e o primeiro é tirar o Inter do rebaixamento.
– Estamos no Z-4. Isso nos entristeceu, mas temos confiança de sair desta situação. O nosso torcedor merece muito, não temos nada para reclamar. Estão ajudando muito e estão cobrando com razão.
O outro foco, claro, é o menino Pedrinho.