Contratar nunca foi tarefa fácil para a terceira gestão de Vitorio Piffero como presidente do Inter. Nem todos os técnicos parecem gostar de trabalhar com o dirigente e tampouco o mandatário se agrada de todo treinador. Foi assim desde o começo.
Favorito à sucessão de Giovanni Luigi, com pesquisas entre os associados que apontavam uma vitória sem sustos (como acabou sendo, com 71,7% dos votos sobre o situacionista Marcelo Medeiros), Piffero teve tempo de sobra para buscar o treinador para a Libertadores. E Diego Aguirre, a quinta opção, foi contratado nove dias após a eleição. Porém, bem antes disso, o Inter já buscava um técnico que se adequasse ao "perfil" traçado pela nova gestão. A questão é que esse perfil sempre foi muito maleável. A cada negativa de um candidato à casamata do Inter, o perfil mudava. E assim Piffero foi de Abel Braga a Diego Aguirre, passando por Tite, por Vanderlei Luxemburgo e por Mano Menezes. Todos nomes buscados, mas sem um acerto ao final.
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Campeão do mundo com Piffero como vice de futebol, Abel Braga rechaçou trabalhar com o dirigente e anunciou publicamente que só permaneceria no clube se Medeiros fosse eleito. E nem adiantou Vitorio afirmar em entrevista que "Abel, com certeza, é o nome da nossa preferência e também do associado e do torcedor. É colorado. É nosso. Se declara colorado". Abel não se comoveu. Tirou férias e assinou com o Al-Jazira.
E assim o perfil desejado pelo Inter foi sofrendo mutações. Tite também não aceitou o convite. Preferiu a segurança do Corinthians às incertezas do Beira-Rio. Mas houve mais tropeços. Antes da eleição, Piffero descartou Mano e Celso Roth – o segundo, porque as pesquisas entre os 21.292 associados que votaram a presidente apontavam grande rejeição a Roth, e os marqueteiros da campanha não queriam que o candidato se queimasse com os eleitores.
– Descartei Mano Menezes e descartei Celso Roth por não se enquadrarem no que eu penso para treinador – disse Piffero, no dia do pleito.
Três dias depois, eleito, e com sérios problemas para contratar um técnico, Piffero disse:
– Eu fiz (o descarte dos dois treinadores) a contragosto. Era um movimento muito forte, me obriguei a isso. Mas isso passou.
Mais além, Mano responderia a Vitorio Piffero, ao vivo, no programa Bem, Amigos!, do canal SporTV:
– Eu não vou trabalhar no Internacional com ele (Piffero). Eu respondi ao vice-presidente do Internacional, na época. Eu penso que técnico é um cargo de muita confiança do presidente do clube.
Já sem opções no mercado, foi a vez de a nova direção olhar para o que havia sobrado: o Mercosul. Um treinador de fora do Brasil. Porém, ainda quando haviam opções de mercado, Piffero havia dito o seguinte a respeito de um gringo:
– Não penso em técnico estrangeiro.
E Diego Aguirre foi oficializado uma semana depois dessa declaração, em 22 de dezembro, como o treinador do Inter para a Libertadores.
É possível seja assim de novo, quando o terceiro treinador desta gestão for contratado. Quando Aguirre foi demitido, a demora e os desmentidos foram semelhantes. O uruguaio foi embora no dia 6 de agosto, devido à eliminação nas semifinais da Libertadores, para o Tigres (MEX). Enquanto que a direção buscava o sucessor de Diego Aguirre, Odair Hellmann era confirmado interino. Foi assim para o histórico Gre-Nal em que o Inter foi goleado por 5 a 0, na Arena – Odair ainda comandou o time na vitória sobre o Fluminense de Ronaldinho.
Nesse momento, Jorge Sampaoli, o argentino que revolucionou a seleção chilena, era o preferido. Por Sampaoli, Piffero e o vice de futebol Carlos Pellegrini viajaram a Santiago. Não houve acerto. Então, Muricy Ramalho passou a ser o Plano B. Também não quis, alegando que estava em férias e que aceitaria trabalhar a partir de janeiro de 2016. Então, Pellegrini foi a Florianópolis e tirou o emergente Argel Fucks do Figueirense, em 13 de agosto. Sete dias depois de demitir Aguirre.
– O prazo é a nossa rapidez. Temos um jogo importantíssimo contra o Palmeiras no domingo – comentou Carlos Pellegrini, ao ser questionado sobre a urgência da direção em apresentar o substituto de Argel.
Portanto, o perfil do novo treinador do Inter dependerá de ele aceitar a oferta de assinar com o clube por apenas cinco meses, até a nova eleição. Abel e Mano interessam. Costuras são feitas, a fim de superar antigas rusgas com esses dois treinadores. Mas é provável que o futuro técnico colorado não seja o Plano A, ainda que ninguém mais seja descartado por Piffero e que o perfil de novo transite do medalhão ao emergente, dependendo das dificuldades para contratar.
* ZH ESPORTES