Simeone é a inspiração de Argel. O estilo do argentino que levou o Atlético de Madrid a duas finais de Liga dos Campeões e conquistou um título espanhol nos últimos três anos é o que o técnico do líder do Brasileirão tenta seguir no Beira-Rio. Não necessariamente o desenho tático da equipe espanhola, mas a forma como encara cada partida, como lida no vestiário, a relação com dirigentes e torcedores.
– É um lance meio de alma, entende? Eles jogam futebol com alma – comenta Argel, subindo um pouco o tom da resposta na entrevista que concedeu a Zero Hora na tarde de sexta-feira, pouco antes do começo do treino no CT Parque Gigante.
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Mas, a rigor, nem precisaria acompanhar uma entrevista completa para compreender o estilo de Argel.
– Se eu falar aqui e vocês falarem aí nós não vamos nos entender – foi o puxão de orelhas em tom de brincadeira que passou nos assessores que ainda se ajeitavam para acompanhar a entrevista. E pediu para fechar a porta que dá acesso à sala de conferências, para dominuir o barulho.
É neste ambiente de organização e seriedade que se inicia a sequência de duas partidas longe de Porto Alegre, o primeiro às 16h deste domingo, contra o Figueirense no Orlando Scarpelli, pela nona rodada, repetiu seus mantras de "tratar sempre o próximo compromisso como o mais importante" e manter o "pezinho no chão". São suas hashtags. Talvez fossem também as hashtags de Simeone, caso o argentino trabalhasse por aqui.
– Infelizmente não trabalhei com ele, é um pouco mais velho do que eu. E não é só dele que gosto. Admiro o trabalho do River Plate, enfrentei o Gallardo algumas vezes, admiro o Rosario Central, enfrentei o Coudet algumas vezes. Eles têm algo a mais – comenta o técnico do Inter.
Mas as comparações com Simeone se limitam apenas ao estilo do treinador. Questionado sobre uma eventual semelhança do Inter com o Atlético de Madrid, no estilo de ser um time sem grandes estrelas, mas extremamente dedicado, rejeitou:
– O Inter não pode querer ser o Atlético de Madrid. Basta ver os títulos de cada um, o número de sócios, a estrutura. O Inter é maior do que o Atlético de Madrid.
Em só mais um momento Argel subiu o tom durante a conversa. Foi quando o nome Romildo Bolzan Jr. veio à tona. Perguntado sobre a discussão pública que teve com o presidente do Grêmio (que, para compará-lo a Felipão, usou o adjetivo "brocador"), limitou-se a dizer:
– Não sou uma pessoa de guerra. Sou de paz. Mas se entro na guerra, não sou soldado. Sou especialista.
E não mais voltou ao assunto.
Preferiu falar até sobre outro tema que pode deixá-lo incomodado: eventuais críticas sobre seu estilo de falar sobre futebol e os termos que usa em entrevistas, que estariam freando seu reconhecimento:
– O vocabulário tático uso para os jogadores no vestiário. Eles é quem têm que entender. Esses dias, recebi um dicionário da CBF, com as palavras modernas. Aí li: pressão alta. É a marcação forte. Amplitude: é a largura. Compactação: time junto. Tudo é uma questão de escolher. Sobre a imprensa, não me incomodo. Parece até que isso deixa vocês mais brabos do que eu. Não é nada disso. Até porque o jornal que hoje fala bem ou fala mal de ti amanhã estará enrolando peixe no mercado.
As frases de efeito não são usadas apenas nos assuntos espinhosos. Por exemplo: usa a expressão "portas escancaradas para voltar" na descrição de sua relação com D'Alessandro. Fala que não foi para a Disney, na pré-temporada, para "brincar com o Pateta, com o Mickey, com o Pluto". Para ele, o período na Florida Cup está se refletindo neste começo de Brasileirão, pelo intercâmbio que teve com equipes europeias – Schalke, Bayer Leverkusen e Shakhtar Donetsk. Sobre reforços, também recorre ao bordão: "sempre estamos abertos para receber bons jogadores". E a grenalização é simplificada: "deveríamos exaltar que os técnicos da Dupla são pessoas formadas nos próprios times".
Treinadores gaúchos, aliás, também foram abordados por Argel. A escolha de Tite para comandar a Seleção – completando uma década de comandantes nascidos no RS –, foi saudada:
– É o melhor treinador do futebol brasileiro. Preparou-se para isso, começou no Interior, foi subindo os degraus e chegou até a Seleção. Tudo como tem que ser.
Aos 41 anos, Argel revelou que pretende trabalhar "até os 55, 58 anos". Depois, "vai abrir espaço para os mais jovens", como fez quando era zagueiro.
Até lá, aproveita a liderança. E a hashtag #pezinhonochao, o trending topic do Inter no Brasileirão.
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