Ouvi uma reflexão interessante do ex-presidente Fernando Carvalho sobre o Inter de Argel, em entrevista ao Rafael Colling, no Esporte e Cia da Rádio Gaúcha:
– Nosso time é muito competitivo, mas é difícil, em um campeonato longo, manter a corda esticada em todos os jogos.
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Carvalho tem razão. O sucesso do Inter deste início de ano tem muito a ver com a capacidade motivadora de seu comandante. A equipe se entrega em campo, fica evidente o aguerrimento com que disputa cada bola. Ainda assim, não é justo creditar apenas ao aspecto anímico o bom começo de temporada. Há o mérito da organização defensiva, que torna o time seguro quando se retrai e espera o adversário, postura em que parece estar mais confortável.
Faltam, porém, alguns passos para que o Inter seja verdadeiramente confiável e não dependa tanto da "corda esticada" mencionada por Carvalho. O Atlético de Madrid, vice-campeão europeu, pode dar pistas a Argel do caminho a se trilhar.
O Inter muda demais quando joga dentro e fora de casa. Longe do Beira-Rio, parece comportar-se como o time montado por Simeone ao recuar, fechar as linhas e apostar no contra-ataque. Ainda assim, faltam alternativas lúcidas que fujam da previsível ligação direta. Cumpre-se a primeira etapa de bloquear as investidas do rival, mas quando o time retoma a bola, parece confiar demais em seus homens de frente e abusa da bola longa, na esperança de que seus atacantes e meias ofensivos decidam o jogo em uma ou outra estocada.
Mesmo que falte lucidez aos contra-ataques do Inter, o problema mais grave é outro. O time sofre quando tem de propor o jogo, como é o caso dos jogos em casa ou quando sai atrás no placar. As dificuldades surgem, também, pela tentativa de uma mudança radical de estilo. O Inter tenta ser um Bayern ou um Barcelona (guardadas as imensas diferenças técnicas, claro) quando vê uma defesa fechada pela frente. Toca para lá e para cá sem objetividade e, sem ferramentas para transformar posse de bola em chances de gol, desiste e levanta a bola para a área.
Essa é mais uma situação em que o Atlético de Madrid pode servir como um bom espelho. Evidente que um time sedento pelo contra-ataque não gosta de propor o jogo, mas a situação é inevitável em alguns momentos. O que os espanhóis fazem é adiantar as linhas e marcar com agressividade a saída de bola rival. Buscam tomar a bola lá na frente – como fazem Bayern e Barça –, mas não somente para tê-la de volta e valorizá-la em longas trocas de passe. A ideia é encurtar o caminho até o gol e encurralar o rival.
O Inter ainda é tímido demais no início dos jogos em casa. Seria mais interessante ver o time mordendo, exercendo uma pressão intensa, nem que seja por um curto período. Muitas vezes, é o que basta para abrir o placar, obrigando o adversário a sair de trás. Talvez esteja aí a solução para distensionar as partidas em casa e livrar-se da dependência de cruzamentos e bolas paradas.