Poucos perceberam na última Expointer. Mas entre criadores de sobrenomes seculares e empresários ligados ao meio rural, Anderson circulava com desenvoltura. Visitava estandes, conversava com pecuaristas e negociava a compra de animais de estirpe elevada e DNA superior.
– Só eu sei o quanto caminhamos naquela Expointer – suspira Marco Aurélio Santos, o Marquinhos, amigo de longa data e braço direito do meia em Porto Alegre.
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Anderson é cabanheiro. Cria angus e brangus em sua fazenda na divisa de Quaraí com Alegrete. Também tem rebanho de ovelhas e começa a investir em genética bovina. Sua fazenda, a A8, já ganha relevância na Campanha. Seu plantel foi acrescido de 600 animais em 2015 e chegou a 1,6 mil cabeças. Entre elas, está a vaca Gabriela, campeã da raça Brangus na última Expointer.
Anderson virou entendedor de pecuária. Comprou a fazenda há três anos e, desde lá, costuma mergulhar na internet em busca de informações e conhecimento sobre o assunto. Quando não consegue na rede as informações se serve dos conselhos de amigos fazendeiros.
A veia rural do guri criado no Rubem Berta originou-se de um sonho de infância. Sempre imaginou-se um jogador bem-sucedido com investimentos em terras. Quando nasceram as duas primeiras filhas, Alícia e Isabela, hoje com cinco anos, começou a levar a ideia da fazenda mais a sério. Ali, as gurias teriam espaço de sobra para correr e brincar em segurança. Depois, veio Giovana, hoje com três anos. Foi a senha para investir numa fazenda. Quando o caçula Li Andow, de dois anos, chegou, o sonho já estava realizado.
A agenda de jogos e treinos o impede de visitar mais vezes as terras. Mas ele se mantém atento ao que acontece lá, apesar dos quase 600 quilômetros de distância. Quando faltam informações sobre seu rebanho, o meia ordena a Marquinhos que ligue ao veterinário ou telefone para a sede. Se a folga no Inter é de mais de um dia, ele sai direto do estádio e pega a estrada para Quaraí.
Anderson concedeu entrevista coletiva na sexta-feira:
O meia fez da Campanha o seu refúgio. Lá, ele relaxa. Sai a cavalo, observa seus animais e faz churrasco com os amigos. Por vezes, as crianças o acompanham. Se esbaldam do playground que mandou instalar em frente à casa, com vista para a o campo. No último Natal, Anderson promoveu uma festança na fazenda para toda a família. Dois ônibus com tios, tias, primos e conhecidos singraram o Rio Grande até as bordas da fronteira com Artigas.
Na fazenda A8 aparece um Anderson que só os mais próximos conseguem ver. Ali, ele baixa a guarda, exibe sua versão mais original. Passa longe do jogador celebridade e desinfla o peito. Os amigos saem em defesa dele. Garantem ser só imagem o ar marrento. No dia a dia, dizem, é um sujeito afável, descontraído e de coração generoso. E extremamente reservado. O círculo de amizades não fecha uma mão. Anderson se cercou de três parceiros da antiga. Mário Grejo, que o conhece desde os 15 anos, faz as vezes de seu segurança. Através de Mário, numa das férias nos tempos de Porto, foi apresentado a Marquinhos, o braço direito, e a Leandro Antunes, o Lelê, vocalista da banda de pagode Louca Sedução. Neste período de Inter, juntou-se ao grupo Rodrigo Santos, o Chocolate, motorista da trupe.
Apesar da velha amizade com Lelê, o pagode está fora da trilha preferida. Anderson até escuta. Conhece as letras e vai na onda. Mas no rádio do seu carro ou em casa curte mesmo são as batidas de hip hop e house. Nas baladas, escolhe casas noturnas como a Liv & Fly, vizinha ao Jockey Club, e à concorrida Provocateur, no Mont Serrat. Aqui está outra faceta de Anderson. Ele aprecia lugares elegantes, boas roupas e a boa mesa. Nas férias, atravessou o mundo para curtir o mar azul turquesa das Ilhas Maldivas, um paraíso no Oceano Índico. Os amigos garantem ser impossível vê-lo desleixado. O guarda-roupa é feito de peças trazidas da Europa e outras de etiqueta exclusiva compradas por aqui. Quando sai para jantar, dificilmente foge dos mesmos endereços. Estão entre os preferidos o Dado Pub no Moinhos de Vento, e o restaurante Bah, no Barrashopping. Se a ideia é trinchar alguns cortes de churrasco, elege a Na Brasa.
– Sabe o cara que gosta de coisa boa? Esse é o Anderson – diz Léo Ferreira, agente do técnico Roger e que conheceu o meia ainda morador do Olímpico ao oferecer-lhe uma carona.
– Ele estava saindo do Olímpico, e eu indo para casa. O vi a pé, sabia que jogava no juvenil. Ofereci carona sem perguntar para onde ia. Me dei mal (risos). Ele ia visitar uma namoradinha na Cefer (zona leste da Capital). Anos depois, o empresário português Jorge Mendes me acionou aqui para dar um suporte ao Anderson. Quando nos encontramos, ele se lembrou na hora daquele dia, disse que havia ficado marcada nele aquela carona. Desde lá, ficamos amigos.
O fato de frequentar lugares selecionados da cidade faz de Anderson um sujeito bem relacionado. Um dos amigos fora do círculo fechado do dia a dia é Martin Carvalho, filho do ex-presidente do Inter Fernando Carvalho. A teia se expande com empresários e alguns sobrenomes conhecidos na cidade. A quem o meia ouve com atenção quando planeja algum investimento. Ex-drigentes e empresários do meio do futebol apontam Anderson como exemplo de jogador que aplica bem o dinheiro. Com salários polpudos desde a mudança para Portugal, no final de 2005, é dono de vários imóveis em Porto Alegre. Ele mantém ainda seu apartamento no Porto e a casa em Manchester. Nos últimos meses, passou a cogitar de alugá-la. O staff do megagente Jorge Mendes, o mesmo de Cristiano Ronaldo, a mantinha em ordem e cuidava de Wes, um golden retriever que morreu em janeiro. Anderson é o que se pode chamar de cachorreiro. Na volta a Porto Alegre, adotou Brad, um buldogue inglês.
Confira a galeria de fotos de Anderson:
Em breve, Brad e seu dono estarão de mudança. O meia iniciou as obras no apartamento recém-comprado na Bela Vista – hoje, tem endereço nas imediações do Shopping Iguatemi. No Snapchat, o meia mostrou a nova casa e os planos de uma ampla sala de vídeo, para as partidas de videogame. Anderson é ativo nessa rede social de vídeos e fotos. Em um deles, dirige sua Mercedes conversível pela cidade e foca no símbolo da montadora alemã na direção. Volta o celular para seu rosto e, antes de acionar o fechamento da capota, solta um sorriso maroto:
– Guardou!
Em outras redes sociais, como o Instagram, é possível perceber em fotos o orgulho com os filhos. O quarteto mora com as mães, mas sempre que o calendário de jogos permite, Anderson está com eles por perto. Aproveita o tempo no playground do condomínio em que mora ou leva os pequenos para passeio no shopping. As mais velhas já frequentam as aulas em um colégio tradicional da cidade. Os mais novos frequentam uma escolinha bilíngue. O meia faz questão de buscá-los sempre nas aulas.
– O Anderson passou nove anos fora. Poderia ir para qualquer lugar, mas Porto Alegre é o chão dele. Gosta daqui, tudo dele está aqui – diz Marquinho.
A volta para casa só precisa ser completada pela afirmação em campo. Nesta temporada, o meia teve a oportunidade de participar da pré-temproada e ganhou uma sequência de jogos como titular. Atuou em alto nível contra Cruzeiro e Juventude, mas ainda está longe de ser o jogador que o Inter imagnou ao buscar na Inglaterra – talvez porque a direção o visse como o meia-atacante que saiu do Grêmio com 17 anos.
Se fora do campo ouve protestos da torcida e restrições às suas atuações, no grupo o tratamento é o oposto. O zagueiro Paulão é o mais próximo. A gurizada o vê com deferência. Estaciona para ouvi-lo e curte suas histórias dos tempos de Manchester. Quer saber mais de Cristiano Ronaldo, o amigo com quem ele troca mensagens semanais. Não é à toa que todos o chamam de Mister no dia a dia do Beira-Rio. Mas bem poderiam tratá-lo como o cabanheiro do Rubem Berta. Ou o lord inglês de Quaraí. Qualquer um desses apelidos resumiriam o Anderson, um sujeito de múltiplas facetas que ainda busca a afirmação na mais exponencial delas, a de jogador do Inter.
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