A presença de Sandro em alguns dos treinos do Inter nos últimos dias chamou a atenção dos torcedores colorados. E os pedidos para que o volante voltasse ao Beira-Rio foram muitos. Mas, por enquanto, o retorno fica apenas nos sonhos e planos do jogador de 26 anos.
Sandro trabalhou no CT Parque Gigante para manter a forma, enquanto esperava a resolução do problema que teve com o visto de trabalho na Inglaterra. Com as questões burocráticas para trás, o mineiro, cria da base colorada, campeão da Libertadores 2010 no seu último jogo pelo Inter, voltará a Londres para defender o Queens Park Rangers nos próximos dias. Mas ele vai à Europa com um plano: o de voltar em breve a Porto Alegre e ao Inter - desta vez, para ficar.
Confira a entrevista com o volante:
O que aconteceu com o seu visto?
Eu estava jogando e recebi a notícia, dois dias antes de um jogo. Os caras ligaram e disseram que eu não ia jogar. Até me assustei, pensei "como assim?". O time precisava que eu jogasse. No outro dia eles me explicaram direitinho, que era um problema com o visto, mas disseram que eu ia jogar a próxima partida. Mas teve um bafafá todo, saiu na imprensa que foi um erro pela transferência do Tottenham ao QPR. Eles deveriam passar o visto de trabalho e não fizeram. Foi um erro bobo, que custou muito ao clube, e não pude jogar os últimos três por isso. Os torcedores pensaram que eu estava machucado de novo. Depois, o clube divulgou o que estava acontecendo, mas sempre falavam que logo seria resolvido. Quando acabou a temporada, ainda fiquei três semanas na Inglaterra aguardando a situação resolver. Mas já não aguentava mais, estava de férias, com a minha família no Brasil e eu sozinho. Voltei ao Brasil e eles disseram para esperar que a situação fosse resolvida. Mandaram o processo, eu apliquei para renovar o visto de trabalho e, agora, só estou esperando ele chegar. Foi tudo aprovado, vou poder jogar direitinho.
Quanto tempo durou todo o processo?
Foram três meses (Sandro e o QPR foram informados do problema no dia 7 de maio).
E como fica a cabeça neste momento?
Eu estava me sentindo muito bem nos jogos, tinha uma sequência em que estava voando e ajudando o time. Então, pô, foi um choque: no meu auge no time não ia jogar! Fiquei muito triste, porque foi um erro bobo. Quando passaram duas semanas, fiquei desesperado. Aí vim para o Brasil e o pessoal viu que não seria rápido. Aqui me acalmei, e logo depois me disseram o que eu tinha que fazer. Aí fiquei tranquilo.
Com isso, apesar de você treinar no Inter, nunca houve a possibilidade de voltar a defender o clube.
Não teve como. Dando certo com o visto, eu voltaria à Inglaterra.
Sandro treinou junto com o grupo colorado nas últimas semanas
Foto: Aguante Comunicação / Divulgação
Mas você não pensou na possibilidade? Afinal, o QPR está na segunda divisão da Inglaterra. Não valeria a pena jogar na Série A do Brasileirão?
Pensei, sim. Pensei muito nisso. Mas também não sou que decido. Sou apenas um funcionário. Teve esta hipótese, o Santos procurou o clube com uma proposta neste sentido, para me valorizar. Mas o QPR pediu dinheiro, pois gastou 10 milhões de libras pra me contratar. Não fazia sentido eles me emprestarem sem ganhar nada, até porque eu só teria depois mais um ano de contrato e poderia sair livre, sem o clube ganhar nada. Tem tudo envolvido. Foi por isso que não teve nada... o Inter me procurou, eu falei a mesma coisa. Ficaria muito feliz em voltar ao clube que me fez, mas o QPR quer "money" (risos). E eu respeito isso. Não vou brigar com eles, pedir pra sair, porque sei que não pode ser assim. Eu quero sair de lá vendido, por um preço bom. Não quero deixar um rombo. Quero sair bem e deixar algo bom lá.
Algum clube da Europa já chegou a ter contato contigo?
Procuraram o QPR, mas eles mesmos filtraram iso. Sei que chegaram propostas da China, mas todos querem apenas o empréstimo com a opção de compra.
Mas você vê futuro no QPR?
Eu conversei com os dirigentes, perguntei sobre o que pensavam pro futuro do time. Porque preciso saber se quero ficar, independente de o time estar na segunda divisão ou não. Se o projeto for bom, eu aceito lugar para subir à Premier League. O diretor disse que estavam com planos de formar uma equipe mais jovem, contratando jogadores novos. Gostei muito do projeto. Mas às vezes é preciso ter caras experientes, mesclar. A Championship (segunda divisão inglesa) é muito forte. Pelas notícias que estou vendo, só estão contratando jogadores da segunda ou terceira divisões. Mas precisamos também de jogadores de qualidade para subir com tranquilidade. O Gomes (ex-colega de Sandro no Tottenham) disputou a Championship com o Watford e me disse que eu não ia me sentir desvalorizado, que podia ir tranquilo.
No Inter, você treinou com Abel Braga, Tite, Jorge Fossatti e Celso Roth. Trabalhou com Harry Redknapp e André Villas-Boas no Tottenham. E Dunga e Mano Menezes na Seleção Brasileira. Qual foi o melhor técnico com quem trabalhou?
Tite. Foi com quem eu mais trabalhei, um tempo bom. Gostei muito do Dunga, também, apesar do pouco tempo na Seleção. Mas acho que ia me dar muito bem com o estilo dele, é um cara muito sério.
Depois de cinco anos na Europa, você voltou a ter a experiência de treinos com um técnico brasileiro com Argel, no Inter...
E você acredita que é a mesma coisa? Disse isso para o Argel, que é a mesma coisa que treinamos lá. Falei para ele que está muito avançado. E fiquei feliz, porque estou treinando como se fosse lá. Mesma intensidade, mesmo formato. Foi uma coisa que disse para o meu empresário: na Inglaterra, os treinos eram mais curtos e intensos, e isso nos deixa loucos para jogar. Aqui você treinava muito e chegava fatigado no jogo. Lá a gente ia mais tranquilo para a partida. Sem precisar concentrar, com menos treino... Aqui, com concentração, a gente chegava nos jogos já estressados, por conta de toda a preparação.
A torcida do Tottenham te chamava de "the beast". Você é um cara de marcação, e enfrenta grandes jogadores do futebol mundial. Qual foi a melhor jogada de marcação que lembra?
Eu dei uma pegada boa no Hazard (risos). Foi lindo. Eu já estava no QPR e pensei "cara, essa foi linda". Vibrei. Ele é muito rápido, cheguei rasgando. Só na bola! Mas cheguei rasgando (risos). O árbitro mandou seguir.
Já que você falou em arbitragem, vê muita diferença nos juízes da Inglaterra e do Brasil?
É o que mais tem de diferente! Fui no jogo (contra o Ituano) e pensava "não, juiz, não faz isso! Deixa a bola rolar". É muita faltinha que os juízes dão. Lá é difícil de o jogo parar. Às vezes pensamos em pedir falta, mas logo pensamos que não dá, temos que levantar. E lá o pessoal chega junto, mas na bola. Aqui é mais catimba, o pessoal te dá uma cotovelada do nada, passa a mão, tenta provocar. Lá tem menos maldade. Mas eles também gostam de provocar lá.
Volante foi ao Beira-Rio acompanhar o jogo contra o Ituano
Foto: Aguante Comunicação / Divulgação
E você se vira bem nas provocações? Responde?
Ah, mas em mim eles nem chegam. Têm medo (risos). A fama já ajuda. Eu já chegava e dava na primeira, aí resolvia. Joguei contra o Joey Barton, que gosta muito de provocar. Mas comigo ele foi bem tranquilo.
E quem foi o cara que você não conseguiu marcar?
O Agüero. Passei mal. Tentei dar um tapão nele, mas não consegui. Ele é muito rápido, e o time dele estava muito bem. Não gosto de deixar o cara passar, e ele passava. E neste jogo nós perdemos de 6 a 1.
Falando um pouco de Inter. A gente vê que você acompanha o clube, pelas redes sociais, e você está aqui mesmo sendo mineiro. Como explica essa identificação?
É de coração mesmo. Cheguei aqui na base, com 17 anos, humilde, e o pessoal cuidou de mim. Eu não me via jogando no Inter, quando cheguei, porque tinha muitos jogadores bons. Mas me deram moral. E eu fui torcedor, morava no Beira-Rio, e isso cria afinidade. Fiz amigos aqui. Foi especial o tempo que eu morei aqui _ como foi especial o tempo que morei em Londres. Isso faz parte da minha vida.
E você pensa em, no futuro, voltar ao Inter?
É outro sonho que tenho. Quando estava aqui, sonhava em jogar na Europa. Realizei, joguei, e agora penso em voltar ao Inter. Ter o gosto de novo, já sabendo como vai ser.
Você jogou com D'Alessandro e Alex do atual grupo do Inter. E com o Edinho e o Giuliano, que estão no Grêmio. Chegou a falar com eles?
Eu estou louco para falar com o Giu, a gente teve muito contato. Joguei contra ele na Europa League, quando ele estava no Dnipro. E dei uma chegadinha forte nele também (risos). Foi falta. Mas não conseguimos falar ainda.
Com quantos anos você pensa em voltar para o Brasil?
Até uns 30 eu quero voltar. Quero voltar bem, ter energia para gastar, chegar nos caras. Os treinos são muito intensos aqui também, vi a qualidade dos jogadores, com muito potencial.
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