Diego Aguirre estava com saudades do Inter. Assim como Abel Braga antes de 2006, acredita ter algo a resgatar com o clube. Estava naquela equipe de 1989, que encheu a torcida de esperanças, que fez o Beira-Rio sonhar com a sua primeira Libertadores, sonho que acabou nos pênaltis contra o Olimpia. Nesta terça-feira, na altitude de La Paz, Aguirre volta à competição, agora como treinador.
- Vencer a Libertadores com o Inter seria algo maravilhoso. Não quero nem imaginar agora porque tenho de ir jogo a jogo, treino a treino. Mas só de pensar, já é algo extraordinário. Por que não? - suspira o uruguaio.
Aos 49 anos, Aguirre entende que o seu time estará pronto em 30 dias. Neste prazo, porém, terá jogos de grandes dificuldades, incluindo três pela Libertadores: The Strongest, Universidad de Chile e Emelec. Antes de pegar os equatorianos, ainda haverá o primeiro Gre-Nal da temporada, pelo Gauchão. E tudo isto em 17 dias.
Nesta entrevista a ZH, Diego Aguirre fala sobre a alegria do retorno ao Beira-Rio, sobre o Inter ser um dos candidatos ao título da América, sobre um time com três atacantes ou com mais volantes, sobre Anderson e D'Alessandro, versa sobre a liberdade aos jogadores para decidir quem bate pênalti, diz que aceita o convite de Felipão para um jantar antes do clássico (mas quer saber quem vai pagar) e sobre o drama de estrear na Libertadores nos 3,6 mil metros de altitude de La Paz. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Treinador disse que time ainda busca melhor rendimento
Foto: Lauro Alves/Agência RBS
Como tem sido a adaptação em Porto Alegre?
Já arrumei apartamento, minha mulher, Laura, e meus filhos estão aqui há uns 15 dias. Ajuda muito. Minha adaptação à cidade não foi difícil, nem a volta ao clube. Já sabia para onde viria, isso ajudou. Gostei muito de Porto Alegre na minha época de jogador, e voltei várias vezes. O Internacional mudou, está maior, uma instituição mais importante. Mas não senti dificuldade. Foi importante meu passado aqui. Estou tentando fazer o melhor para o time. Tenho três filhos: Maria de la Paz, 18 anos, Josefina, 15, e Mateo, sete. Estão gostando muito. E se estou bem, eles estão bem. Estamos próximos ao Uruguai. Eles vão e voltam.
O que representa essa porta de entrada no mercado brasileiro?
É uma grandíssima oportunidade, porque é um desafio profissional. Triunfar no Brasil tem suas dificuldades. Muita exigência, nível muito alto. As competições são difíceis. Ter sucesso aqui significa que o Inter vai ganhar alguma coisa. Se abre a porta do Brasil, abre a porta do mundo. Por isso, tenho esse desafio com muita alegria, o maior de minha carreira. Sinto-me preparado, trabalhei muitos anos procurando oportunidade. Achava tudo na Europa... Mas aqui, talvez seja o intermédio para alcançar o máximo.
Há muito técnicos sul-americanos com sucesso na Europa. Parece que os hispânicos tem mais acesso por lá.
Concordo. É verdade. O destino me deu essa oportunidade. Sempre vinha na minha cabeça, sonhava com a possibilidade de vir ao Brasil. E, sinceramente, no Internacional. E não falo isso para ficar bem com ninguém. Vinha muitas coisas na minha cabeça da época de jogador, da vida aqui. Tive oportunidade de jogar em muitos países, talvez 10. Tive muitas coisas boas aqui. E, quando alguém me perguntava que país eu passei melhor, eu falava sempre: Porto Alegre.
Você fez parte de uma equipe que foi muito querida, o time de 1988/1989, apesar daquele trauma do Olimpia. Foi uma das grandes tragédias do clube, mas era um time no qual se confiava para ser campeão.
Na história ficam os times campeões. É normal. Mas vivi um ano maravilhoso aqui com o grupo, com o time, como ele jogava, com a minha vida. Ficou no meu coração uma boa experiência. Então, às vezes, sonhar algumas coisas e ter a chance de voltar, me sinto realizado.
Aguirre implantou estilo diferente de trabalho no Inter
Foto: Diego Vara/Agência RBS
Sonhar em ganhar uma Libertadores pelo Inter, por exemplo?
Sim, seria algo maravilhoso. Não posso, não quero nem imaginar, porque tenho de ir passo a passo, jogo a jogo, treino a treino. Mas só de pensar uma coisa assim, seria algo extraordinário. Por que não? Temos grandes jogadores, time com história. Acredito muito na história dos times na Libertadores. Tem peso na hora das definições. É difícil, porque tem times bons. Mas o Inter é um dos candidatos naturais. Temos jogos não só do Gauchão, tem o da terça, no começo. Sempre com muita dificuldade na frente. Sempre pensando que tudo é possível.
O Inter está pronto para a Libertadores?
Penso que sim. Estamos trabalhando muito. Mas pronto não significa que estamos com máximo potencial. Estamos bem, mas o Inter estará muito bem dentro de 30 dias, com mais rodagem na competição. Acho que seria bom começar com vitória para seguirmos crescendo com confiança. Tem jogadores que precisam jogar para pegar ritmo. Mas isso vai acontecer com o passar dos dias e dos jogos. Estamos bem, porque desde o primeiro dia, a atitude dos jogadores foi excelente. Eles tiveram aceitação com a nossa proposta de trabalho, talvez um pouco diferente. As coisas vão por um bom caminho. Obviamente que sempre tem de ganhar, sempre tem cobrança. Se o Inter não ganha, parece que as coisas estão mal. Eu não acho isso. O tempo vai dizer como as coisas vão.
E a altitude de La Paz?
É uma dificuldade a mais. Não quero falar muito da altitude, porque é uma dificuldade que temos de superar. Se falo, parece desculpa. A altura está aí, temos de enfrentar, sermos fortes. Temos de tentar fazer um bom jogo. E, se não ganhar, empatar não seria mal. Mas temos de chegar na Bolívia pensando algo positivo.
Seu conterrâneo Jorge Fossati dizia que a altitude afetava 20% o físico e 80% o mental do jogador. Concorda com isto?
Respeito o que fala Jorge. Mas é comprovado que o rendimento não é o mesmo. Você pode falar com (Luiz) Crescente (fisiologista do Inter). Se você ver alguma coisa que aconteceu ao longo da história... a Seleção Brasileira perdeu quando não deveria acontecer. A seleção argentina tomou seis gols em um jogo na Bolívia. É realidade que o rendimento cai e eles se sentem fortes por estarem adaptados. Nós temos de ser fortes e tentar superar as dificuldades. Temos de ter capacidade técnica para fazer um bom jogo. Estamos falando que o objetivo principal é a Libertadores. Então, está na hora de demonstrar e assumir essa responsabilidade com as dificuldades que estão na frente.
A ideia dos três avantes (Vitinho, Sasha e Nilmar) parece boa. Mas estamos em um futebol e em um Estado mais conservadores. Até quando esta ideia prevalecerá?
Eu também venho de um futebol mais conservador. É uma ideia que experimentei e gostei. O time mostrou coisas boas, dificuldades. Mas também passa muito por rendimentos individuais. Não é jogar com mais volantes, mas, sim, quem é o volante e como está. Contra o Cruzeiro, quando fui colocar o Anderson, eu não encontrava um jogador para tirar, porque estavam todos bem. Pensei, tiro D'Alessandro, Vitinho, Nilmar? Eles estavam bem. Mas não é nada definitivo que vamos jogar sempre com mais meias.
D'Alessandro é um dos medalhões do time colorado
Foto: Diego Vara/Agência RBS
A entrada do Anderson mudou o meio-campo do Inter e, daqui a pouco, você pode deparar com a substituição de D'Alessandro, Nilmar, os ditos medalhões. Isto será um problema?
Ninguém tem assegurado nada. Falo sempre que é o rendimento que vai colocar o melhor time no campo. Faz parte do meu trabalho. Ninguém tem nada garantido. Anderson também não tem nada garantido. Na hora do jogo, precisa mostrar um nível bom. Anderson jogou apenas 30 minutos, estou conhecendo ele. Não quero falar de soluções, nada definitivo.
Anderson chegou a treinar no lugar de Nilton. O que você pensa para ele?
Pode cumprir diferentes funções. Tem uma qualidade técnica excepcional. Isto ajuda muito para organizar o time. Concordo que ele jogou muito bem (diante do Cruzeiro). Bom que posso contar com ele mais para frente, mais para trás. Posso jogar com três volantes, pela esquerda, dois volantes e ele como meia. Ele pode jogar com um volante de marcação. Ele jogava assim na Europa, no Manchester United. Então, pode jogar em diferentes posições.
Quem será o cobrador de pênaltis do Inter? D'Alessandro ou Anderson? Anderson cobrou (e errou) contra o Cruzeiro. Os jogadores decidirão sempre quem baterá?
Tanto D'Alessandro quanto Anderson têm muita qualidade para bater pênaltis. Se Anderson bateu na final da Champions League, contra o Chelsea (quando converteu o pênalti, na vitória por 6 a 5 do Manchester, em 2008, conquistando o torneio europeu), acho que tem condições de bater no Gauchão. Isso passa pelo momento do jogo, de como se sentem em campo. D'Alessandro vem batendo há anos no Inter, mas, um dia, pode estar cansado ou lesionado. E há Alex também. Passa pelo treinador indicar os cobradores, mas eles têm total liberdade para decidir. Não posso obrigar ninguém a bater pênalti. É preciso respeitar o sentimento dos jogadores.
E sobre Alex? Ele ainda precisa renovar contrato e se fala em interesse do Cruzeiro. Quais seus planos para ele?
Alex tem contrato com o Inter e, para mim, é jogador do clube. É uma grande opção para o time. Não sei o que ocorrerá no futuro, mas trata-se de um grande jogador, que ajuda muito no vestiário. Estou feliz que seja parte da equipe.
Vem aí uma sequência dura: The Strongest (nesta terça), Universidad de Chile (dia 26), Gre-Nal (dia 1° de março) e Emelec (dia 4 de março). O que o senhor planeja para estas partidas?
Teremos de estar prontos. Já teremos um pouco mais de rodagem e, aí sim, poderemos falar sobre jogos decisivos. É uma semana decisiva porque teremos dois jogos em casa e precisaremos vencê-los. E há o Gre-Nal, que temos de ganhar. Não é o ideal jogar uma partida tão forte como o Gre-Nal e, três dias depois, enfrentar o Emelec. Teremos de ver o que faremos. Não quero pensar nisto ainda.
Nico chegou para ser suplente de Nilton?
Vem para ser parte do plantel. Vamos ver jogo a jogo, ver os rendimentos. Será um ou outro, pois têm características semelhantes. Ou, em determinadas situações, posso usar os dois juntos.
O volante Nico Freitas foi uma indicação sua. Como é este jogador?
Estávamos precisando, com a saída do Willians, de um volante com recuperação de bola. Nico foi meu jogador no Peñarol. É muito tático, organizado. Tem boa referência defensiva. Acho que vai ajudar. Tem jogo aéreo, raça.
Você pode ir com um time misto para o Gre-Nal?
Tudo pode acontecer.
Felipão disse que vai convidá-lo para jantar antes do clássico. Já chegou o convite?
Não chegou ainda (risos). Mas acho ótimo. Gosto da ideia. Se a ideia é ajudar a não violência e jantar com Felipão, um dos grandes, será um prazer. E com um pouquinho de vinho (risos). Quem vai pagar? Ele? (risos)
O senhor chegou a fazer um estágio com Felipão?
Fui ver um treino do Felipão, como vim assistir a um do Abel. Fiquei uma semana aqui, foi muito bom. Conversamos muito sobre futebol.
Como você recebeu a declaração do presidente Vitorio Piffero, que sugeriu a saída de um dos atacantes?
Ele agiu de forma natural, sem má intenção. O futebol é muito passional. Fiquei muito mal quando tomamos quatro gols (do São José). Recebo como algo normal. Tenho um bom relacionamento. Falamos sobre várias coisas, sempre com respeito. Podemos até falar de futebol, mas não se tem de jogar um ou outro. Isto está bem claro que a determinação futebolística passa por mim e pela comissão técnica.
Aguirre e Brando: achou parecidos?
Foto: Montagem sobre fotos de Agência RBS e Banco de Dados
O senhor se parece com Marlon Brando. Já lhe disseram isto?
Uma vez me disseram, faz muito tempo. Agradeço (risos).
Confira o vídeo: 5 perguntas para Diego Aguirre
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