De férias em São Luís, no Maranhão, ele se reapresenta no dia 8 de janeiro. É funcionário do Inter. Se não surgir proposta interessante para ser técnico principal e deixar o Beira-Rio, deve assumir o time B. Quando foi chamado em meio à tempestade após a demissão de Dunga, récem havia sido promovido, dos juvenis para os juniores.
LEIA MAIS NO BLOG NO ATAQUE
Não seria bom, para o Inter, perder o responsável por uma geração vencedora na base justamente na hora de subir as promessas. Conversará com Abel Braga, seu grande amigo. Nesta entrevista, Clemer analisa a interinidade, revela os bastidores da briga com Willians, agradece aos jogadores, reafirma seu amor pelo Inter e sugere o que deve mudar em 2014. Confira a entrevista:
Zero Hora - Você se arrepende de ter aceitado assumir como interino?
Clemer - De jeito nenhum. Eu sabia que era muito arriscado. Era um momento difícil no campeonato. Ninguém quis pegar. Eu jamais deixaria o Inter na mão. Era para ser só uma rodada, mas aí fizemos bons jogos: Fluminense, Gre-Nal, Náutico. Trabalho com seriedade. Quem acompanha sabe disso.
ZH - O que deu errado depois?
Clemer - O problema é maior do que se imagina. Os jogadores atuaram pressionados sempre. A expectativa criada foi de ser campeão. A cobrança, depois dos títulos da nossa geração (Libertadores e Mundial, em 2006), aumentaram incrivelmente.
ZH - É muito difícil mudar este quadro que quase levou ao rebaixamento?
Clemer - Não digo difícil (pausa). As coisas já estavam acontecendo quando cheguei. Aí é complicado. As regras estavam estabelecidas. Os vícios estavam formados. Não é tão simples assim mudar tudo em alguns jogos, sem tempo para treinar, com tanta pressão sobre os jogadores.
ZH - Que vícios são esses?
Clemer - É que o meu pensamento de futebol é outro. Eu defendo um elenco com energia e velocidade. E nós não temos isso. Os times do G-4 têm explosão. O nosso é muito técnico, mas lento. A transição é demorada. Eu não tinha alternativas para mudar isso. Por isso me socorri da base.
ZH - Mas em alguns momentos você recorreu aos experientes.
Clemer - Pô, imagina se eu tiro todos de uma vez! Iam me comer vivo, com fígado e tudo (risos). Os meninos sentem a pressão, também. Tem de colocar aos poucos. Não tenho nada contra jogadores experientes, que isso fique bem claro. Ao contrário. Aliás, quero agradecer aos jogadores. Todos deram o máximo. Fizeram o que podiam fazer.
ZH - A base pode deixar o Inter mais competitivo em 2014?
Clemer - Não dá para estragar este processo. Acho que esta contribuição eu dei. Nem falo do Otávio. Mas o Artur, que eu coloquei para treinar com a gente, é um baita lateral (esquerdo). O Valdívia (atacante) está pronto. O Baiano (Fernando Baiano, meia) tem de estar dentro (do grupo para 2014). O João Afonso (volante) é importante, joga para o time, faz aquela função com raça e qualidade à frente da zaga. Estes e outros não podem mais descer (para a base).
ZH - E a briga com Willians? O que aconteceu de fato?
Clemer - Ele foi extremamente infeliz (Willians condenou Clemer em público por não usar as três substituições). Cara, eu fiquei brabo. Muito brabo. Pô, eu ali dando a cara para bater, tentando ajudar, e ele me vem com essa? Discutimos. Quer dizer: foi eu falando e ele quieto, na frente de todos. Exigi que pedisse desculpas para os companheiros, em primeiro lugar. Depois, para mim. Do contrário, não jogava mais comigo. Mas não parti para cima dele, como disseram. Ele ouviu em silêncio e obedeceu. Também se desculpou na imprensa, sem que eu pedisse. Admito que não estava com cara de bonzinho (nota do colunista: a fama de Clemer brabo é famosa e respeitada no meio do futebol, daí o apelido mão de raquete conferido por quem já o viu em ação em situações bem piores, sobretudo no Flamengo).
ZH - Escalá-lo no jogo seguinte, em que foi expulso, não premiou a indisciplina?
Clemer - Em outra situação eu o teria punido. Mas não era o momento de sanção. Ele me ajudava a marcar, ali no meio. Eu precisava de energia, de força. Não podia abrir não de um cara que me dava isso na situação em que estávamos. Quando as coisas não acontecem, não tem jeito. Contra o Coritiba tivemos umas 15 chances claras de gol, mas a bola batia na cabeça do Damião em cima da linha e não entrava.
ZH - Técnicos de vários perfis passaram pelo Inter, no começo ou no meio do ano, mas conflitos de vestiário seguem, como se noticiou no Serra Dourada. Por quê?
Clemer - Se eu tivesse assumido em janeiro, poderia falar. Mas fiquei só 13 jogos. Não sei das regras anteriores. Talvez um pouco mais de rigidez nas normas internas. Mas sobre isso, não tenho condições de te falar.
ZH - E se você estivesse desde o começo da temporada?
Clemer - Aí seria totalmente diferente. Pode ter certeza disso.