A barulheira das máquinas da Andrade Gutierrez levanta poeira no Beira-Rio. Dia desses, uma retroescavadeira subiu ao primeiro andar do estádio e arrastou tudo o que via pela frente. As obras andam a pleno, e seus atores apresentam sotaques de todos os tipos. São operários paulistas, mineiros, catarinenses, baianos, gaúchos. A construtora os impede de falar, mas eu posso jogar a isca, ouvir a resposta e contá-la sem revelar os nomes dos brasileiros que estão reformando o palco da Copa de 2014 em Porto Alegre:
- Será que o Oscar joga?
- Mas ele não está livre para jogar? O pessoal está dizendo aí....
Eis a prova da tensão pela espera de Oscar. Só se fala nisso. Oscar, Oscar, Oscar. Nunca um nome foi tão repetido. Ele começou o treino com o jaleco dos titulares, numa das formações trabalhadas por Dorival Júnior. Tudo com portão fechado, cadeado e segurança em frente. Mas tanta obra acaba liberando frestas para quem é suficientemente enxerido e paciente.
E repórteres, como se sabe, são enxeridos e devem ser pacientes por definição. Além do mais, o entra-e-sai de máquinas garante o portão abrindo e fechando. Ali está: a certa altura, depois da notícia de que a CBF achou confusa a sentença do ministro do Tribunal Superior do Trabalho e adiou sua condição de jogo, Oscar está de cabeça baixa, imóvel, visivelmente chateado. Queria jogar, mas não o deixaram.
O fim do sonho de escalar Oscar resultou num anticlímax no Beira-Rio. O Inter acordou com Oscar e vai dormir com Jajá. Seguem de fora DAlessandro, Oscar, Kleber, Nei e Dagoberto. Talvez tenha sido por isso que Dorival tenha mostrado tanta serenidade na sua entrevista. Brincou, sorriu. Se é preciso passar confiança ao grupo com tantos desfalques, o exemplo deve partir do comandante:
- É o Gre-Nal mais decisivo que disputei desde que cheguei ao Inter. Vamos para o clássico com este espírito. É hora de decidir - disse.
Quem bate?
O Inter vai para a decisão da Taça Farroupilha sem definição quanto aos batedores de pênalti, se der empate no tempo normal (não tem prorrogação). O critério será o mesmo que culminou na cobrança de Dátolo contra o Fluminense. Treinaram todos na última parte do trabalho, mas Dorival Jr. irá decidir na hora, conforme a avaliação emocional de cada um ao final do jogo.
A oração solitária de Guiñazu
Guiñazu tem uma rotina que nunca muda quando chega ao vestiário em dia de jogo, e ela se repetirá no Gre-Nal. O argentino vai direto para a capela, fica em pé rezando por alguns instantes, depois toca a imagem da santa e, somente aí, vai se fardar.
Meio palmo do inferno
Na brincadeira de Dorival Júnior, uma crítica com elegância e algum talento aos jornalistas. O técnico do Inter volta e meia usa a seguinte frase sobre contestações após este ou aquele resultado:
- A distância entre o céu e o inferno no futebol é meio palmo.
Nessa sexta, ele brincou sobre o cenário pós-Gre-Nal, em caso de derrota. Saiu-se bem, sem estresse:
- Olha, estou mudando minha frase. Acho que a distância é menos de meio palmo!
Titularíssimo
Há uma convicção no Beira-Rio. Sandro Silva firmou-se e hoje pode ser considerado o esteio do meio-campo. É isso mesmo, Dorival?
- Tanto é assim que nem penso em deslocá-lo para a lateral-direita. Sandro ficará onde está.
Invenção
Se Bolívar aparecer na lateral direita em vez de Elton, terá sido invenção repentina de Dorival. No treino fechado, o técnico testou três alternativas de time. Em nenhuma delas Bolívar substituiu Nei.
Azul, não
Não adianta mesmo. Vermelho não entra no Olímpico e azul fica fora do Beira-Rio. O logotipo da Andrade Gutierrez, que é azul e branco em todos os canteiros de obras espalhados pela empreiteira nos cinco continentes, virou branco e preto nas imediações da Padre Cacique. Nos tapumes e nos jalecos dos operários, é zero de azul.
Gre-Nal à vista
Barulho de obras e mistério no Inter: o trabalho pré-clássico no Beira-Rio
Sexta-feira foi de treino fechado, esperança em Oscar e Dorival Júnior bem-humorado em entrevista coletiva
Diogo Olivier
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