A proposta da direção do Grêmio de ceder ao município uma parte da área das escolinhas, no Cristal, em troca de um terreno maior, ao lado do CT Luiz Carvalho, na Zona Norte, agita os bastidores políticos do clube. Em entrevista a GZH, o presidente Alberto Guerra sustenta que essa permuta é a única possibilidade de o Tricolor ampliar o seu CT e igualar a estrutura do futebol profissional com a dos principais clubes do Brasil.
— É a grande oportunidade de o clube tirar da gaveta o projeto da "Cidade do Grêmio". Temos hoje um CT muito efetivo, mas em uma área pequena e com uma limitação de tamanho que não nos permite crescimento. Com a permuta, vamos triplicar o tamanho do CT e, aí sim, poderemos ter um grande CT, digno do tamanho do Grêmio, como é o caso dos maiores clubes do Brasil e do mundo. Sem dúvida isso facilitará e aumentará o ganho desportivo, o ganho técnico e a chance de alcançarmos grandes títulos — defende Guerra.
Conforme a proposta, o Grêmio cederia ao município 34 mil metros quadrados do terreno do Cristal, o que corresponde a 60% da área atual das escolinhas. Neste local, a prefeitura autorizará que a empresa Multiplan dê sequência às obras de revitalização da Orla, com a construção de um parque às margens do Guaíba.
Como contrapartida, o Tricolor receberia um terreno de 100 mil metros quadrados no bairro Farrapos, ao lado do CT Luiz Carvalho, possibilitando a ampliação do local onde hoje o time profissional realiza os seus treinamentos.
Além disso, a Multiplan pagaria ao clube R$ 15 milhões, que seriam destinados apenas a investimentos em patrimônio, e investiria mais R$ 5 milhões na reforma dos campos das escolinhas e na construção de uma sede administrativa, com restaurantes e lojas, nos 20 mil metros quadrados do terreno do Cristal que seguiriam de posse do clube.
— Nós só entregaremos a nossa parte do terreno do Cristal quando recebermos a área contígua ao CT Luiz Carvalho. Se por algum motivo não conseguirem nos entregar essa área, toda a área do Cristal seguirá com o Grêmio, mesmo que as construções já tenham sido realizadas. É um negócio com risco zero para o Grêmio — pondera Guerra.
A proposta seria votada em reunião desta terça (23), no Conselho Deliberativo. Porém, após solicitação de um grupo de conselheiros, que alegava a necessidade de mais debates, o tema foi retirado de pauta. A direção articula para que a votação ocorra ainda em 2023.
Planos da direção para o CT Luiz Carvalho e o CT do Cristal, se proposta for aprovada no Conselho
"Cidade do Grêmio"
A "Cidade do Galo", do Atlético-MG, e o "Ninho do Urubu", do Flamengo, são algumas das referências que a direção do Grêmio usa para defender a necessidade de um complexo maior e mais moderno para os treinos da equipe profissional. Enquanto o CT flamenguista tem nove campos e uma área de 135 mil metros quadrados, o dos mineiros tem sete campos e uma área de 245 mil metros quadrados.
Situado em frente à Arena, às margens da Freeway, o CT Luiz Carvalho, por sua vez, ocupa hoje uma área de 53 mil metros quadrados, com dois campos. Se a permuta for aprovada, com os 100 mil metros quadrados que serão cedidos pela prefeitura, o CT gremista passará a ter uma área de 153 mil metros quadrados. Segundo o presidente Alberto Guerra, a ampliação do CT é importante para o clube ter um futebol mais competitivo.
— Se a gente analisar os times mais vencedores nos últimos anos, todos eles tiveram por trás um grande investimento na infraestrutura de seus CTs, como Flamengo, Atlético-MG e Palmeiras. E infraestrutura passa por ter espaço. Sabemos que isso está por trás dos resultados de campo — opina Guerra.
De acordo com o presidente, a chamada “Cidade do Grêmio” teria espaço para a construção de alojamentos para os atletas e até um hotel, com possibilidade de venda de diárias para o público em geral. Segundo a direção, a área já tem autorização para a construção de edifícios de até 15 pavimentos. Além disso, a ideia é construir mais campos, inclusive um sintético, para a equipe se preparar melhor para jogos em gramados artificiais.
— A equipe poderia se concentrar no CT, com toda a nossa infraestrutura ao lado do estádio. Poderíamos também construir estrutura para abrigar o departamento de saúde. E poderíamos ter diversos tipos de campos, para usarmos de acordo com o que a gente vai jogar. Poderíamos ter, por exemplo, um gramado sintético ao lado do dos campos naturais — completa Guerra.
Segundo o presidente, com um CT maior, a ideia é que a categoria sub-20 passe a treinar no mesmo local do time profissional.
— Com dois campos, não há espaço hoje para a sub-20. Porém, com mais gramados, isso será possível. Aí o treinador do time profissional poderá ter um acesso mais próximo à equipe sub-20, ver os treinos e conversar com o técnico. Essa convivência mais próxima nos traria muitos ganhos em relação a hoje, já que a gurizada do sub-20 treina em Eldorado — alerta Guerra.
O futuro da escolinha
Se a permuta for aprovada, o Grêmio cederá à prefeitura 34 mil metros quadrados da área onde hoje funcionam as escolinhas, no Cristal. Neste terreno, a empresa Multiplan irá construir um novo parque, dando sequência às obras de revitalização da orla. As escolinhas do clube seguirão funcionando no mesmo local, porém, em uma área de 20 mil metros quadrados e não mais em uma área de 54 mil metros quadrados. Com a redução do espaço, o Grêmio ficaria com dois campos no local — hoje tem cinco gramados normais e um de dimensões reduzidas.
Como uma das contrapartidas, a Multiplan investirá R$ 5 milhões em melhorias nas escolinhas, reformando os gramados e construindo uma sede administrativa, com lojas e restaurantes abertos ao público, que serão geridos pelo Grêmio. O presidente Alberto Guerra crê que a redução na área das escolinhas não trará prejuízo para a captação de novos atletas.
É a grande oportunidade de tirarmos da gaveta o projeto da "Cidade do Grêmio"
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
— A nossa escolinha permanecerá no Cristal e com uma infraestrutura melhor do que tem hoje. Obviamente, com uma área menor, mas isso não vai impactar nas nossas demandas. É uma questão de otimização. Podemos perder um pouco a capacidade de alunos que pagam para jogar na escolinha de forma recreativa, mas não vamos perder na captação, pelo contrário. A formação nas escolinhas terá uma área menor, mas muito mais moderna, otimizada e muito mais a cara do Grêmio — explica.
Um dos pontos polêmicos do projeto é o fato de o Grêmio ceder à prefeitura uma das áreas mais valorizadas na cidade, na Orla, em troca de uma outra, em tese, mais desvalorizada, na Zona Norte. O presidente Alberto Guerra, contudo, rejeita este argumento, pois afirma que o clube não tem hoje autorização da prefeitura para realizar qualquer empreendimento no terreno do Cristal que não seja a escolinha. Além disso, segundo o dirigente, a área que será cedida ao Tricolor ao lado do CT Luiz Carvalho é muito mais valiosa para o clube, pois permite a possibilidade de ampliar e melhorar a estrutura do futebol profissional.
— As escolinhas não usam toda aquela área do Cristal, pois a área é bastante grande. Além disso, ela foi doada para o Grêmio com uma finalidade específica de utilização. Já a área na Zona Norte, ao lado do CT Luiz Carvalho, talvez para outros não valha nada, mas, para o Grêmio, ela vale muito, pois é o único lugar para onde a gente pode crescer. Se gente não pegar essa área, ficaremos limitados ao CT que nós temos hoje. Então, ela é muito importante para o crescimento do Grêmio, para que a gente conseguir ter um CT moderno e para conseguirmos ter a nossa "Cidade do Grêmio" — avalia.
Guerra acredita ainda que o Grêmio poderá aproveitar a proximidade com a nova Orla do Guaíba para criar novas atrações na área das Escolinhas.
— Podemos ter uma área pública para o torcedor assistir aos jogos dos meninos em um deck com vista para o Guaíba. Podemos fazer um Sports Bar, ter uma loja do Grêmio e memorial. Apesar de ficar menor, a área das escolinhas será ainda mais valorizada — avalia Guerra.
Os R$ 15 milhões que serão repassados pela Multiplan
Para ampliar o CT Luiz Carvalho e erguer a "Cidade do Grêmio", o clube precisará angariar recursos. Se concluída a permuta, a direção deve elaborar um projeto e buscar investidores para viabilizá-lo. A tendência é de que os R$ 15 milhões pagos pela Multiplan sejam aplicados na ampliação do CT. Contudo, o valor é insuficiente para uma obra desta magnitude.
É um negócio com risco zero para o Grêmio
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
Segundo Alberto Guerra, o acordo com a prefeitura estipula que os R$ 15 milhões sejam investidos em patrimônio, não necessariamente no novo CT.
— Isso foi uma das condições que eu mesmo coloquei desde o início. Nós não vamos nos desfazer de patrimônio para fazer caixa. Logo, este dinheiro poderá ser usado em qualquer situação que que seja patrimônio do clube. Pode ser usado em Eldorado do Sul (no CT Hélio Dourado, utilizado pelas divisões de base) ou na Ilha do Grêmio. Vai ser em patrimônio. Mas a nossa ideia é usar este valor no CT Luiz Carvalho, pois mesmo no CT já existente a gente precisa fazer reformas. Mas o valor precisa ser usado no patrimônio — explica Guerra.
Realocação das famílias que vivem na área pretendida pelo Grêmio
Após eventual aprovação da permuta no Conselho Deliberativo, a prefeitura terá ainda de realocar 54 famílias que vivem hoje de forma irregular no terreno. Conforme acordado com a Multiplan, a empresa irá indenizar cada família com o valor de R$ 113 mil reais para que elas possam comprar uma nova moradia.
Após, o terreno passaria ainda por um processo de descontaminação e recuperação ambiental, cujos custos seriam pagos pela Multiplan. A estimativa do Grêmio é de receber a área entre seis meses a um ano a partir da aprovação da permuta no Conselho Deliberativo.