Quando defendeu o pênalti de Suárez na semifinal da o Gauchão, Caíque exibiu repetidas vezes o lance para a alegria do filho. O ritual contava também com a visitação às redes sociais para confirmar ao filho que o uruguaio era amigo de Messi. Imagine a alegria de João Pedro, então com 4 anos, quando ficou sabendo nesta quarta-feira (2) que o seu pai não irá mais impedir os gols do camisa do 9, mas passará a jogar junto com ele no Grêmio.
A chegada à Arena é um retorno do goleiro ao Brasileirão. Caíque terá o status de reserva de Gabriel Grando, já que Brenno deve ser vendido para o Exterior, tendo o Bari como um dos possíveis destinos. Considerado uma revelação, demorou mais do que o esperado para defender a meta de uma das camisas mais pesadas do futebol brasileiro.
Nas categorias de base seu futuro era considerado brilhante. Oriundo do Vitória, foi o goleiro do Brasil no Sul-Americano Sub-20 de 2017. Entre os que faziam parte do grupo estavam Guilherme Arana, Caio Henrique, Richarlison, Lucas Paquetá e Felipe Vizeu (ele mesmo). O novo contratado gremista foi titular em quatro das nove partidas da competição. Nos outros jogos, Lucas Perri, hoje goleiro do Botafogo, foi o escolhido pelo técnico Rogério Micale.
A sequência da carreira não foi suave. Em tempos bicudos, a culpa pelas crises tende a cair nos ombros dos pratas da casa. Foi o que aconteceu na campanha do Vitória em 2018. O ano terminou com rebaixamento e críticas ao desempenho de Caíque. Tanto que voltou a jogar nas categorias inferiores no ano seguinte.
— É um atleta com alto potencial. Quando eu estava no Athletico-PR, indiquei o nome dele duas vezes. Quando cheguei ao Vitória, ele estava em um processo de ter participado da queda. A imagem dele estava desgastada. Sempre se pensou no Caíque em um clube grande. Para ele, foi um processo sofrido, teve um caminho tortuoso. Pelo que vejo, ele melhorou bastante a resiliência — conta Luciano Oliveira, um dos preparadores de goleiros do Vitória naquela época.
Com 1m98cm de altura, o goleiro não precisa esticar muito os braços para tocar o travessão. Em compensação, muitas vezes, a estatura elevada pode ser um problema para alcançar os chutes rasteiros. Oliveira acredita que esse não seja um empecilho para o baiano de Salvador.
— Ele defende muito bem a meta. É rápido, apesar da altura. Tem boa velocidade de reação.
Até ficar frente a frente com Suárez naquele jogo de Gauchão, Caíque passou, depois que saiu do Vitória, pelo CSA. Depois se aventurou em terras cipriotas no Ermis Aradippou. Ainda teve passagem pelo Rochester New York antes de virar referência no Colosso da Lagoa.
Os dias com a camisa canarinho não foram só de flashes pelas defesas. Em maio, Caíque acusou a torcida do Altos de ter proferido insultos racistas em partida pela Série C.
— Todas as vezes em que ouvi esse tipo de fala eu fiquei calado, mas acho que a gente tem que começar a falar. Acho que mancha o espetáculo — lamentou após o confronto.
Aos 26 anos, Caíque está em um dos grandes do Brasil e poderá contar para seu filho João Pedro que joga no time de Suárez.