A produção ofensiva é o grande problema do Grêmio na Série B. O investimento, muito superior aos adversários, não tem se refletido dentro de campo, pelo menos na frente. Com apenas 13 gols marcados em 16 rodadas, o time tem somente o 13º melhor ataque. Entre trocas de nomes, aposta em modelos táticos diferentes e foco nos treinos para ajustes, Roger Machado quebra a cabeça em busca de soluções. A expectativa, agora, é de que os ingressos de Ferreira e Guilherme ajudem a resolver parte das dificuldades.
A estratégia adotada na reta final do Gauchão não teve o mesmo sucesso na largada da Série B. Com a proposta de buscar o contra-ataque nas semifinais, contra o Inter, e também na decisão diante do Ypiranga, o Grêmio encontrou uma realidade bem diferente na principal competição do ano. Em vez de encarar rivais ofensivos, agora a rotina é de retrancas fechadas, que dão pouco espaço aos tricolores.
— É que o Grêmio tem maior necessidade de construir na Série B do que encontrou no Gauchão. As peças à disposição são jogadores mais para jogar em transição. Por isso, parece que o Roger pediu um camisa 10 para tornar a equipe mais criativa. Com exceção do Diego Souza, esses jogadores parecem mais adaptados a jogar em transição, no contra-ataque. E não é isso que o Grêmio encontra na Série B — diz Gabriel Corrêa, analista de futebol do projeto Footure.
No dia a dia, a comissão técnica ainda busca razões que expliquem as dificuldades para ir às redes. Até aqui, são apontados três motivos: desfalques, ambiente de pressão e a inexperiência da maioria dos atacantes. O Grêmio disputará, nesta sexta-feira, a 17ª rodada da Série B, e ainda não teve nenhum minuto com os jogadores considerados titulares juntos em campo.
O primeiro desfalque foi Diego Souza, que perdeu o início da competição. Depois foi Ferreira que entrou no departamento médico, e que segue sem as condições físicas ideais para iniciar uma partida. O último a se lesionar foi Elkeson. O centroavante era uma das esperanças para ajudar Diego a comparecer na frente.
A expectativa é de que o ataque ainda tenha mais uma rodada sem as peças consideradas titulares. Ferreira deve começar como opção contra o Náutico, com Biel e Elias pelos lados para abastecer Diego. O setor receberá ainda Guilherme, que tem projeção de entrada imediata quando estiver habilitado. Com a manutenção do esquema 4-2-3-1, projeta-se o setor com Ferreira pelo lado esquerdo, Guilherme na direita e Diego Souza como centroavante.
Outro ponto citado é o ambiente de pressão. A frustração com o rebaixamento ainda tem repercussão na Arena. E, como as opções são majoritariamente jovens, o reflexo técnico também atrapalha. Por isso, a comissão técnica já alterou quatro vezes o esquema tático, na expectativa de contar os jogadores disponíveis em seus melhores momento. Após iniciar no 4-3-3, com Campaz como um dos pontas, o time tentou utilizar a formação 4-4-2 para contar com Elkeson e Diego Souza juntos.
A troca para o 3-4-3 também não teve o rendimento esperando. Com a volta de Ferreira e a chegada de Guilherme, a expectativa é de que o time siga no 4-2-3-1, com aposta em Campaz ou Benítez para a função de meia.
A inexperiência dos guris de frente também é outro problema, mas essa solução está encaminhada. Dos atacantes mais utilizados, só Diego Souza tem carreira afirmada. Biel começou entre os profissionais no ano passado; mesmo caso de Elias, que também enfrenta oscilações. Campaz recém completou 10 meses de experiência no futebol brasileiro.
Janderson é quem mais tem rodagem, mas só em clubes como o Atlético-GO. A pressão por resultados no Grêmio é semelhante ao que ele enfrentou no Corinthians, onde teve dificuldades em se afirmar. Nas últimas rodadas, Ricardinho e Emerson eram as principais alternativas no banco.
— É uma questão complexa e simples. O Grêmio não marca gols pela qualidades das peças. Tem uma combinação improvável. Os jogadores com técnica, com boas tomadas de decisão, são lentos. E os que são rápidos, ou não têm qualidade técnica ou são muito verdes. Não é uma questão tática, é uma dificuldade técnica mesmo — analisa o comentarista Sérgio Xavier, do Grupo Globo.
Em números que capturam a produção ofensiva como um todo, o Grêmio está entre os melhores em termos de volume. Segundo dados coletados pelo Footstats, o time ocupa a quarta colocação no ranking de finalizações certas. O problema para marcar gols só é observado quando o recorte é mais detalhado.
O portal Sofascore, outro serviço que coleta estatísticas, tem uma métrica chamada "grandes chances criadas", de situações em que se espera um gol. O Grêmio é apenas o 9º na Série B neste item, com 19 oportunidades. E o aproveitamento é ainda pior: 4º entre as equipes que mais erram, com 12 desperdícios.