Romildo Bolzan encerrou de vez uma polêmica que se arrastava no Grêmio. O presidente do clube convocou uma entrevista coletiva e comunicou oficialmente que não aceitaria ao convite feito pelo PDT para ser o candidato ao Piratini. Desta forma, cumprirá seu mandato no clube até o final deste ano, com atenção exclusiva na missão de recolocar o time entre a elite do futebol nacional.
Segundo pessoas próximas a Bolzan, a decisão foi tomada nos dias que antecederam o início da disputa do Grêmio na Série B. Somente os familiares e amigos de maior confiança estavam convictos de que a resposta ao chamado do partido seria rejeitada, mesmo que o próprio Romildo nunca tenha dito categoricamente que não aceitaria. O mistério era tanto que nem mesmo o círculo mais próximo da rotina diária de Bolzan no clube sabia qual seria a decisão sobre a escolha de representar o partido nas eleições ao governo do Rio Grande do Sul.
— Deveria ter encerrado este assunto antes. Às vezes, lamentavelmente, a gente erra. Mas, agora, esta é uma pauta encerrada, ultrapassada e definitiva — disse Bolzan.
Bolzan brincava com seus companheiros de gestão de que tinha "99,9% de certeza de que não seria o candidato do PDT", mas aquele 0,01% ainda causava preocupação nos corredores da Arena. Muitos conselheiros próximos da gestão acreditaram que a entrevista coletiva convocada nos dias que antecederam a partida contra o Guarani poderia ser a do anúncio da desistência. A resposta mais evasiva sobre a possibilidade de concorrer aumentou a pressão nos bastidores do clube de que a opção seria pela busca do Piratini em vez de focar esforços no retorno à Série A.
Nos últimos dias, o presidente passou a compartilhar indícios de que permaneceria no Grêmio. Mas, em nenhum momento até o início da entrevista coletiva, Bolzan foi categórico sobre sua posição. A manifestação estava prevista para acontecer na próxima semana, antes da visita de Ciro Gomes ao Rio Grande do Sul. O pré-candidato a presidente do PDT pretendia reforçar pessoalmente os apelos a Bolzan em encontro previsto para a próxima quarta-feira, mas a opção foi encerrar a possibilidade antes mesmo da vinda de Ciro.
— Recebi convite do meu partido para concorrer ao governo do Estado. Como cidadão e militante, me sinto extremamente orgulhoso desse convite. Sou muito grato ao PDT, mas disse a eles que não poderia aceitar, que vou cumprir meu compromisso com o Grêmio. Isso é definitivo — afirmou Bolzan.
Um outro elemento inesperado também acelerou o planejamento. As críticas que voltaram a pipocar com força nas redes sociais após a derrota para o Cruzeiro se multiplicaram desde o surgimento do episódio Ferreira. As acusações de foco dividido entre política e futebol ganharam mais um elemento com as citações a presença de Ciro Simoni como diretor do departamento médico e o uso da Arena para encontros com diferentes políticos.
Pela manhã de quinta-feira, Romildo começou a procurar as lideranças do PDT para comunicar oficialmente que daria uma resposta ao convite. Entre ligações e áudios, o dirigente gremista explicou que iria se posicionar de vez a respeito, e pediu compreensão com a decisão tomada. Os indícios de permanência começaram a se tornar convicção por volta do meio-dia nos bastidores do Grêmio.
Bolzan informou ao executivo da área de comunicação do clube que realizaria um pronunciamento antes do treinamento. Recebeu a visita de diversos companheiros de movimento político do Grêmio, suportou a pressão de última hora dos companheiros de PDT, mas manteve a posição tomada. Entre o clube e a busca pela chance de concorrer ao cargo de governador, optou pelo Grêmio.
— Fui o pré-candidato mais discreto de todos — brincou, antes de deixar o prédio do CT Luiz Carvalho ao final do dia.
O clima de apreensão que se espalhava pelo CT também se dissipou no início da noite. Funcionários e dirigentes comentaram que agora as críticas externas perdem um caminho que não tinha como ser rebatido. A pauta do clube volta a ter foco apenas no futebol.