Se futebol é decidido por bola na rede, é compreensível que os holofotes da vitória do Grêmio sobre o Caxias, na estreia do Gauchão, tenham caído sobre o centroavante Elias Manoel, autor dos dois gols tricolores. Porém, a jogada que originou a abertura do placar na Arena, construída por Rildo, serviu para lembrar que, apesar de o clube estar na Série B, as categorias de base seguem revelando talentosos atacantes "de beirada".
Desde Pedro Rocha, passando por Everton Cebolinha, Pepê e Ferreira, o torcedor gremista se acostumou a ver pontas habilidosos rompendo defesas a dribles e velocidade. Este foi o gatilho proporcionado pelo camisa 7 do time de transição.
— O Rildo é um atleta que joga na função de meia-atacante, que pode fazer tanto o lado, caindo por dentro, como um meia mais centralizado. Tem um poder de finalização muito grande, bate bem na bola e, então, ter proximidade com o gol é um elemento que vai ajudar muito na construção dele — analisou o técnico Cesar Lopes.
A versatilidade, aliás, faz com que o jovem, que completou 22 anos há uma semana, vire alvo de uma análise mais cuidadosa da diretoria neste início de temporada. Apesar de ter atuado aberto pela esquerda, o atleta é apontado como potencial substituto à vaga que se abriu pelo lado oposto.
Com a saída de Douglas Costa e a lesão de Jhonata Robert, afastado dos gramados por seis meses enquanto se recupera de uma cirurgia no joelho, o Tricolor pretende encontrar reposição interna antes de vasculhar o mercado.
Portanto, é hora de mostrar serviço. E a segunda rodada do campeonato já marca um reencontro para Rildo. Neste sábado (28), a partir das 16h30min, o menino voltará a pisar no Bento Freitas, onde vestiu a camisa xavante por empréstimo, de agosto a dezembro do ano passado.
— Essa rodagem no Brasil-Pel traz uma bagagem para o atleta, com experiência em nível profissional que só tem a contribuir para a sua formação. E agora estes testes que eles estão tendo, de realizar as duas partidas iniciais do Gauchão, vai dando a cara e mostrando um pouco do que ele pode render — completou o treinador da equipe de transição.
Da base do São Paulo ao Bento Freitas
Natural de Rondonópolis, no Mato Grosso, o menino Rildinho começou a jogar futebol no Academia, clube de sua cidade, até chamar a atenção do São Paulo aos 12 anos de idade.
— Nossa captação conheceu ele nestes torneios que acontecem nas cidades, de fazer visitas ao Mato Grosso. Tentamos trazer ele na época, mas não conseguimos. Cheguei a falar com o pai dele, que estava muito inclinado pelo Fluminense, mas acabou fechando com o São Paulo — revela Francesco Barletta, coordenador geral das categorias de base do Grêmio.
No CT de Cotia, dividiu alojamento com alguns jovens que viriam a despontar no Morumbi, como o volante Rodrigo Nestor e os atacantes Helinho, hoje no Bragantino, e Antony, do Ajax e Seleção Brasileira. Ele, no entanto, não teve o mesmo aproveitamento.
Desembarcou em Porto Alegre em 2017, emprestado pelo mesmo Academia, justamente no ano em que o Tricolor conquistaria o tricampeonato da Libertadores.
— Lembro que, em um dos primeiros dias dele aqui, faltou jogador no profissional e acabaram o levando para completar treino. O Alexandre Mendes, auxiliar do Renato (Portaluppi) gostou muito dele e aí começou a construção da carreira — completa Barletta.
Apesar da admiração conquistada junto à comissão técnica, Rildo trilharia um longo caminho para, enfim, emergir no time principal. No início de 2020, foi um dos destaques do elenco vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, derrotado nos pênaltis, na final, pelo rival Inter. A aparição, contudo, rendeu as primeiras chances no grupo principal.
Foi utilizado uma vez no Gauchão, no empate em 0 a 0 dos reservas com o Novo Hamburgo, em Lajeado, e voltaria a ser chamado em duas rodadas do Brasileirão (contra Bahia e Atlético-MG) e pela Libertadores (na derrota para a Universidad Católica, no Chile).
No ano passado, reapareceu quando o time de transição, comandado por Thiago Gomes, foi enviado para encarar o La Equidad, pela Copa Sul-Americana. Ingressou ainda no primeiro tempo, na vaga de Elias, que sofreu entorse no tornozelo esquerdo. Meses depois, quando o clube entrou no turbilhão que o levaria ao terceiro rebaixamento de sua história, foi emprestado ao Brasil-Pel.
— Ele veio para cá e, terminado o período, o pessoal do Grêmio nos disse que tinha outra situação de empréstimo. Não sei se, com a queda para a Série B, o Grêmio repensou e optou por aproveitá-lo. Ele tem uma qualidade de enfrentamento do um contra um muito boa e tem ambição por finalizar a gol. Na minha opinião, não tem por característica retornar e participar das tarefas de marcação, mas muitos outros atacantes também não conseguem fazer isso. Vejo ele com boa possibilidade de ter sucesso no Grêmio — comenta Hélio Vieira, coordenador técnico do Brasil-Pel.
Pelo Xavante, disputou 18 jogos da Série B, sendo 16 como titular, e marcou um gol no empate por 1 a 1 com o Confiança. Porém, se destacou também por jogadas como àquela apresentada na estreia, contra o Caxias, em que constrói a jogada, pifando o companheiro.
— Espero que ele esteja em uma tarde bem ruim. Ruim para o Grêmio e boa para nós — conclui o dirigente xavante.