A primeira escalação do técnico Vagner Mancini neste retorno ao Grêmio mostrou que, ao menos neste início de trabalho, a aposta será nos jogadores mais experientes, chamados de "cascudos" na linguagem do futebol. O time que foi a campo contra o Juventude tinha, se somarmos a idade de todos os titulares, 315 anos. Ou seja, média de 28,6 anos.
As escolhas por Paulo Miranda, 33 anos, na defesa, em detrimento a Rodrigues, 24, e de Diego Souza, 36, no ataque, no lugar de Ferreira, 23, indicam a ideia de Mancini aproveitar os veteranos. Os retornos de Thiago Santos e Rafinha, também jogadores com mais de 30 anos, ajudaram a elevar a média de idade da equipe gremista.
— Tivemos uma conversa na sexta-feira com toda a comissão e ela foi fundamental, porque era importante saber em que pé estava a pressão, quais atletas vinham jogando. Analisamos cada um individualmente para que eu tomasse a decisão. Muita gente deve ter pensado, por que fulano? Porque também entra a intuição do treinador. Eu conhecia os atletas e era importante que a gente colocasse um time de força, de imposição, muito diante daquilo que eu vejo nos atletas de enfrentá-los — explicou Mancini após a vitória sobre o Juventude, domingo (17).
Dentro de campo, os atletas sentiram-se à vontade com as alterações. Ao menos foi o que garantiu o lateral Rafinha, um dos mais experientes do time, com 36 anos, e que também é uma das lideranças do vestiário tricolor.
— Sou sempre a favor dessa mescla, de ter os jogadores mais experientes com os jovens dentro do campo. Mas estamos em um momento delicado, muito tempo na parte debaixo da tabela. Não é que o jogador jovem vá sentir, mas o mais experiente nesse momento segura mais a responsabilidade. Fiquei feliz de ter um time mais maduro em campo, mais cascudo para enfrentar essa partida contra o Juventude — destacou Rafinha em entrevista na terça-feira.
Quem já vivenciou situação parecida foi o ex-atacante Cláudio Pitbull, que jogou no Grêmio no início dos anos 2000. Ele esteve nas campanhas de 2003 e 2004. Na primeira, o time conseguiu se livrar do rebaixamento. Na segunda, não teve a mesma sorte. O ex-jogador, porém, entende que é uma medida acertada do treinador apostar nos veteranos.
— Claro que depende muito da personalidade dos jogadores, mas é importante nesse momento ter os cascudos para ajudar os mais jovens a não sentir tanto. Eu sempre me dei bem com a pressão, gostava, mas tem gente que não está preparada para isso, que sofre e não consegue render com a cobrança, em uma fase complicada assim — afirma Pitbull, que acredita na reação do Grêmio:
— O que falta para o Grêmio é aproveitar melhor as oportunidades para sair da zona. Por ter vivido duas vezes essa situação, sei bem como é. Precisa de uma sequência de vitórias. Não adianta ganhar uma e perder outra. Mas o time é bom, tem qualidade, acredito em uma arrancada.
Outro personagem que viveu mais de uma vez situações como essa é o ex-treinador Cláudio Duarte. Em 2002, Claudião salvou o Inter do rebaixamento na última rodada. Porém, em 2004, assumiu o Grêmio na lanterna do campeonato, a oito rodadas do fim, e não conseguiu evitar a queda. Na avaliações dele, porém, a idade pouco importa nesse contexto. A personalidade e a força mental de cada um, sim, tem de ser levadas em consideração.
— Acho que o perfil emocional, o tipo do jogador, se é sanguíneo, influencia muito mais do que a idade. Ela contribui pelas experiências passadas. Mas, na minha concepção, o experiente pode ser um problema se não tiver um perfil adequado. Às vezes, um jovem se revela mais útil, porque tem um perfil emocional, psicológico, mais adequado para esse tipo de situação — pondera Claudião.
Parte física
Outro ponto a ser levado em conta é a parte física. Com atletas mais velhos, é preciso uma atenção ainda maior à questão do desgaste para evitar uma queda de rendimento ao longo das partidas.
— Na fase que o Grêmio está, não pode dar qualquer brecha. Tem jogadores com certa idade que precisarão ser poupados. Mas também já vi muitos atletas mais velhos correndo mais do que os guris. A gente sabe que a parte física faz diferença, muitos jogos sendo decididos no final, mas a comissão técnica certamente vai prestar atenção nisso — entende Cláudio Pitbull.
Ex-treinador do próprio Pitbull no Grêmio, Claudião defende a ideia de que a idade pouco interfere na questão física. O impacto, segundo ele, está na preparação e na avaliação do dia a dia.
— Não vejo como um impacto físico a idade, desde que estejam na plenitude da sua condição. Se entrar em campo com uma média mais avançada, é preciso estar preparado, ter intensidade. Mas não é pela idade, é por estarem bem preparados ou não. O que não se pode é ter atletas com idade avançada e mal condicionados fisicamente, porque aí vai se complicar. Mas hoje, com cinco substituições, dá para planejar algo interessante nesse sentido — defende o ex-técnico.
Com os veteranos ou não, o Grêmio tem mais 13 jogos para tentar escapar do Z-4, onde está desde a segunda rodada. Caberá a Vagner Mancini decidir se é hora dos cascudos ou dos guris. Mas, pela primeira amostragem, é bom a torcida se acostumar com um time mais velho para os próximos jogos.
As diferenças de idade
Grêmio contra o Juventude (primeiro jogo com Vagner Mancini):
- Brenno (22 anos);
- Vanderson (20 anos)
- Paulo Miranda (33 anos)
- Kannemann (30 anos)
- Rafinha (36 anos);
- Thiago Santos (32 anos)
- Villasanti (24 anos);
- Douglas Costa (31 anos)
- Jean Pyerre (23 anos)
- Alisson (28 anos);
- Diego Souza (36 anos)
Média: 28,6 anos
Grêmio contra o Fortaleza (jogo com o interino Thiago Gomes):
- Brenno (22 anos);
- Ruan (22 anos)
- Kannemann (30 anos)
- Rodrigues (24 anos);
- Vanderson (20 anos)
- Lucas Silva (28 anos)
- Jean Pyerre (23 anos)
- Darlan (23 anos)
- Guilherme Guedes (22 anos);
- Ferreira (23 anos)
- Alisson (28 anos)
Média: 24 anos
Grêmio contra o Santos (último jogo com Felipão):
- Brenno (22 anos);
- Ruan (22 anos)
- Kannemann (30 anos)
- Rodrigues (24 anos);
- Vanderson (20 anos)
- Lucas Silva (28 anos)
- Thiago Santos (32 anos)
- Rafinha (36 anos);
- Douglas Costa (31 anos)
- Alisson (28 anos)
- Diego Souza (36 anos)
Média: 28 anos