Apenas dois pontos conquistados em 15 disputados deixam o Grêmio na lanterna do Brasileirão. Nem mesmo o argumento de ter tido dois jogos adiados ameniza a situação já que por aproveitamento — de 13,3% — a campanha do Tricolor também é a pior da competição. Mesmo nesse cenário, o técnico Tiago Nunes mantém o otimismo no seu discurso. A confiança na recuperação está em uma avaliação de que o time tem demonstrado evolução apesar dos resultados.
Após o empate sem gols com o Fortaleza - o terceiro em que o time não balançou as redes -, ele pediu um voto de confiança dos torcedores e apontou a falta de sorte como um fator que tem influenciado para o Grêmio não converter as situações criadas.
— Tivemos um maior controle no meio-campo, muitas jogadas pelas laterais. Tivemos bastante finalizações e cruzamentos. Às vezes a bola também não entra, está faltando um pouco de sorte. O resultado tem que ser determinante, mas, principalmente, temos que valorizar o processo porque estamos crescendo e o torcedor pode ter certeza que vamos melhorar — avaliou o treinador.
Tiago Nunes não deixa de ter razão quando fala das oportunidades perdidas. O Grêmio finalizou mais que seus adversários em quatro partidas do Brasileirão. Isso só não aconteceu na estreia contra o Ceará, quando os dois times igualaram no número de chutes, 12 cada. Por outro lado, a falta de pontaria tem sido um problema. Com um gol a cada 12,75 finalizações, o Tricolor tem a segunda pior média de aproveitamento nos arremates na competição.
Além de desperdiçar chances, o Grêmio também tem oferecido oportunidades a seus adversários. Na última quinta-feira, o Santos anotou dois gols na Arena. No domingo, se Diego Souza perdeu um pênalti, o Fortaleza deixou de marcar da marca penal com a defesa de Gabriel Chapecó na cobrança de Pikachu. O mesmo Pikachu e o centroavante Robson perderam chances de frente para o gol gremista no segundo tempo.
Para o ex-atacante gremista Cláudio Pitbull, a equipe de Tiago Nunes mostrou involução da partida contra o Santos para o jogo com o Fortaleza. Ele, no entanto, ressalta que o momento do Grêmio torna a vitória algo mais importante que um bom desempenho diante do Juventude nesta quarta-feira (30).
— Eu penso que o Fortaleza fez uma partida melhor no domingo. A solução do Grêmio é ganhar o jogo. Não tem que pensar em jogar bem agora. Depois que vencer a primeira, a pressão vai sair. A gente vê coisas que não são normais. O Diego Souza não é der errar pênalti e perdeu. A fase é ruim porque a pressão interfere. O que aconteceu com o Matheus Henrique (discussão com Tiago Nunes durante o jogo contra o Santos) é reflexo desse momento —observa.
Campeão da Copa do Brasil pelo clube em 1989, o ex-zagueiro Luís Eduardo acredita que o desempenho do time crescerá assim que a primeira vitória for conquistada.
— O Grêmio precisa ganhar um jogo. Quando tu tens a vitória, sai um peso dos ombros. Quando o time está correndo atrás de forma forçada, as coisas não dão certo. O adversário está leve e o teu time joga pesado. Uma vitória pode ser o que falta para o time embalar — avalia.
MUDANÇAS PARA VOLTAR A VENCER
Os resultados ruins geram dúvidas sobre escolhas de Tiago Nunes e também em relação a jogadores antes inquestionáveis no Grêmio. Artilheiro entre os jogadores da Séria A na temporada passada, Diego Souza errou um pênalti e teve a atuação criticada contra o Fortaleza. Craque do Gauchão, Ferreira não tem gol nem assistência no Brasileirão. Até mesmo a dupla de zaga formada por Geromel e Kannemann vem tendo atuações irregulares. Para quem esteve dentro do campo com a camisa gremista, porém, o momento não é de caça às bruxas. Cláudio Pitbull e Luís Eduardo dizem que o treinador tricolor deve fazer ajustes sem mexer nas principais peças do elenco.
— São jogadores extremamente importantes e é preciso olhar para o momento. O Grêmio não está bem pelo conjunto. Diego Souza e Ferreira resolveram muitos problemas, ganharam jogos com gols. É importante lembrar que Geromel e Kannemann ficaram muito tempo sem jogar juntos. O conjunto não está bem e isso prejudica os jogadores. Sem resultado é pior ainda — avalia o ex-atacante.
Diante do Juventude, Kannemann irá cumprir suspensão pela expulsão no empate com o Fortaleza. Com um problema coxa direita, Thiago Santos também deverá ser desfalque. É nessa peça do meio-campo que Luís Eduardo avalia que Tiago Nunes deve mudar sua forma de montar o time. Ex-zagueiro acredita que o time necessita um jogador mais criativo que Lucas Silva para o setor.
— Eu penso que um volante já estaria bom. Alinha ele ao Matheus Henrique e tem o Jean Pyerre. O Matheus Henrique não é esse meia. Contra o Athletico-PR, por exemplo, o Grêmio teve Lucas Silva e Thiago Santos juntos e eles mais correram atrás dos meias adversários que jogaram — analisa Luís Eduardo, que vê Douglas Costa por dentro como uma alternativa para Tiago Nunes considerar.
— O Douglas Costa pode ser esse jogador. Sem meia, o Diego Souza tem recuado muito para ajudar a armar. Ele até enfia algumas boas bolas, mas não consegue chegar ao ataque. Ele tem que estar mais adiantado e um meia fazer essa bola chegar nele — completa.
— O Thiago Santos vinha sendo um dos melhores volantes do futebol brasileiro. Ele ajuda muito e vai fazer falta. Eu vejo o Jean Pyerre ainda como um jogador que pode fazer a diferença, mas precisa estar bem fisicamente. Se você está bem fisicamente, consegue ser decisivo — opina Pitbull.
Começar o Brasileirão com apenas dois pontos nos primeiros cinco jogos não é novidade para boa parte do elenco. Em 2019, sob o comando de Renato Portaluppi, o Tricolor também iniciou a competição dessa forma. Na ocasião, o clube conseguiu arrancar e terminou o Brasileirão em quarto lugar, algo que pode servir de exemplo para os comandados de Tiago Nunes na atual temporada.