Para um clube do tamanho do Grêmio, acostumado a brigar por títulos nacionais e continentais, a conquista da Recopa Gaúcha tem menor expressão. Por isso, a festa protagonizada no gramado da Arena, na manhã deste domingo (6), foi bem mais tímida do que a vista há duas semanas, quando o mesmo elenco se sagrou tetracampeão estadual. Ao mesmo tempo, a vitória tranquila de 3 a 0 sobre o Santa Cruz, campeão da Copa FGF de 2020, mostrou novamente que as categorias de base seguem funcionando a pleno vapor.
Com uma brecha no calendário do Brasileirão, graças ao pedido do Flamengo para adiar o confronto da segunda rodada, o Tricolor pôde escalar alguns jogadores que não vinham sendo utilizados no elenco principal, como Victor Ferraz e Everton Cardoso — improvisado no meio. Mas foi a meninada que garantiu mais um troféu no museu gremista: Guilherme Azevedo, Léo Pereira e Jhonata Robert anotaram os gols da equipe, todos na segunda etapa.
— Esses jogadores hoje estão integrados ao elenco, atletas de potencial. A ideia é prepará-los e deixá-los em condições de atuar em bom nível para que, com a sequência de jogos que teremos no decorrer do ano, e no momento em que o Tiago (Nunes) tomar a decisão de escalá-los, eles estarem à disposição para render o que a gente espera — salientou o analista de desempenho Pedro Sotero, que comandou o time outra vez, na ausência do treinador principal.
Apesar de todo o cuidado para que a valorização não se transforme em um peso a mais aos garotos, sobraram elogios para jovens, como o lateral-esquerdo Guilherme Guedes e os volantes Fernando Henrique e Victor Bobsin. Sem dúvidas, o mais saudado foi Guilherme Azevedo, que ao final da partida recebeu a braçadeira de capitão das mãos de Paulo Miranda.
— Estou muito feliz por este título e pelo gol. Quero dedicar esse gol ao meu pai, que está com covid-19. Vai dar tudo certo, confio muito em Deus — revelou o próprio atleta, em entrevista à RBS TV. — Perdi minha vó faz quase um mês. Lá de cima, ela está feliz pelo gol. Estou muito emocionado. Agora, é seguir trabalhando — complementou ele, que, por baixo da camisa gremista, carregava outra que homenageava a avó Derci.
Esta não foi a única homenagem prestada na festa do título. Depois de permanecer os 90 minutos no banco de reservas, o zagueiro Geromel entrou em campo e chamou para erguer a taça com ele o massagista Zezinho, com décadas de serviço prestado ao clube.
— Para nós, é muito importante ganhar a Recopa, porque é um troféu e queremos criar uma mentalidade vencedora no clube. E foi uma homenagem muito bonita para o Zezinho. Ele passou um ano fora por conta da pandemia, de resguardo, e os jogadores o chamaram para receber o troféu. Achei uma homenagem linda e pertinente — declarou o vice-presidente de futebol, Marcos Herrmann.
Temporada longa
A mesma covid-19 que causou o drama familiar na vida do atacante e o afastamento do funcionário histórico do clube também tem desfalcado o vestiário gremista. Além dos 10 profissionais que testaram positivo nos últimos dias, o clube anunciou no sábado que o goleiro Gabriel Chapecó foi diagnosticado com a doença. Porém, o surto de coronavírus que atingiu o vestiário parece ter chegado ao fim.
— O Tiago (Nunes) poderia estar com a gente hoje (domingo), mas acho que amanhã (segunda) estará normalmente. E os jogadores já estão treinando. Ontem (sábado), Ferreira, Diego Souza e Rafinha já trabalharam fisicamente. Os vi correndo e parece que não sentiram nada. Se fosse necessário, poderiam ter sido escalados hoje (domingo). Como não era, precisarão fazer um ciclo de recuperação — atestou Herrmann.
Por outro lado, Brenno e Matheus Henrique, que estão com a seleção olímpica, seguem fora. Até por conta disso, o entendimento da direção é manter todo o elenco, sem dispensar ninguém. Ou seja, atletas que antes pareciam próximos de deixar o clube, como Victor Ferraz e o goleiro Paulo Victor, ganham sobrevida e poderão ficar à disposição para encarar o Brasiliense, na próxima quinta, fora de casa, pelo jogo de volta da terceira fase da Copa do Brasil.
— Teremos em torno de 50 partidas até o final do ano e precisamos de plantel. Com relação ao Paulo Victor, nosso entendimento é que ele é um goleiro de primeira linha do futebol brasileiro. Talvez, o Weverton e o Santos estejam em um nível superior. Então, não temos preconceito. Tínhamos quatro goleiros. Um está na seleção e o outro com covid-19. Se não utilizássemos o Paulo Victor, só teríamos o Adriel. E se jogássemos uma partida do Brasileirão com um goleiro só, sem reserva, iam nos chamar de irresponsáveis — explicou o dirigente.
E, assim, o Grêmio continua sua trajetória, sem abrir mão da experiência, mas sempre disposto a lançar jovens talentos que surgem da base.