Anunciado como novo técnico do Grêmio nesta quarta-feira (21), Tiago Nunes teve uma carreira precoce iniciada aos 25 anos, em 2005, mas que ganhou destaque nacional no Athletico-PR, onde conquistou a Copa Sul-Americana, em 2018, e a Copa do Brasil, em 2019. Agora ele terá o desafio de voltar ao Rio Grande do Sul para comandar o Tricolor substituindo Renato Portaluppi. GZH projeta como deverá jogar a equipe gremista com o novo comandante.
Tiago chegou ao Athletico-PR para comandar o time sub-19 depois de treinar o Veranópolis no Gauchão de 2017. Com a equipe de aspirantes conquistou o Campeonato Paranaense e teve a oportunidade de substituir Fernando Diniz no time principal durante a temporada 2018, onde levou o clube ao título da Copa Sul-Americana. No ano seguinte subiu mais um degrau ao vencer a Copa do Brasil.
Quando Diniz saiu, o Athletico-PR estava na zona de rebaixamento do Brasileirão com apenas duas vitórias em 12 jogos. A defesa era um dos pontos fracos do time, o que Tiago Nunes priorizou corrigir.
Aos poucos foi colocando em prática os conceitos que deverá implementar também no Grêmio. A começar pelo esquema tático, que não será novidade. Tiago Nunes tem como preferência o 4-2-3-1, o mesmo adotado por Renato Portaluppi. Quando alterou a formação, usou o 4-1-4-1, que também não é estranho para o atual elenco gremista.
— Mesmo depois do título da Sul-Americana, o Tiago viu a necessidade de mudar o esquema tático. Algo que não é muito comum entre treinadores brasileiros, ainda mais depois de um título. Ele mudou inicialmente para o 4-1-4-1 para que o time fosse menos previsível. Não deu muito certo e voltou para o 4-2-3-1 uns meses depois, mas isso mostra bem que é um técnico que não tem medo de mudar, mesmo quando está vencendo — observa o setorista do Athletico-PR do globoesporte.com Fernando Freire.
Como joga
Na forma de atacar, Tiago Nunes deixou o time mais direto do que nos tempos de Fernando Diniz, adepto de um jogo de alta troca de passes. A equipe campeã da Sul-Americana tinha os laterais Jonathan e Renan Lodi avançando bastante para gerar duplas com os extremas Marcelo Cirino e Nikão. No ano seguinte, na Copa do Brasil, Rony ganhou a vaga no setor esquerdo ataque já com Márcio Azevedo na lateral pela saída de Lodi para o Atlético de Madrid. Essa ideia casa com o que oferece o grupo do Grêmio, com os laterais Rafinha, Vanderson e Diogo Barbosa, de perfis ofensivos.
Em relação aos extremas, a tendência é que o Grêmio passe a ter dois jogadores agressivos pelos lados, casos de Ferreira, Léo Chú, Guilherme Azevedo e até mesmo Pepê, que ficará no clube até o meio do ano. Isso será uma mudança em relação ao que o Tricolor teve nos últimos anos com Renato dando prioridade a contar pela direita com atletas que possibilitavam maior sustentação ao meio, casos de Ramiro e Alisson.
No centro do campo, Nunes gosta de ter um meia armador e forma sua dupla de volantes tanto com dois jogadores criativos, casos de Maicon, Matheus Henrique e Darlan, como um criativo e outro mais marcador. No começo do trabalho, porém, quando prioriza a parte defensiva, a tendência é que opte por ter Thiago Santos como titular. Esse primeiro volante tem a função de recuar entre os zagueiros para fazer a saída de três dando liberdade para os dois laterais apoiarem simultaneamente. O goleiro terá participação com pés mais exigida.
Forma de marcar
Com a chegada de Tiago o Grêmio passará por mudança na forma de marcar. Diferente de Renato, que gostava de encaixes individuais, o conhecido "cada um pega o seu", o novo treinador é adepto da defesa por zona. Isso significa que cada defensor gremista será responsável por um determinado espaço e marcará o adversário que cair nele sem fazer grandes perseguições saindo do seu setor para acompanhar os rivais em suas movimentações.
Outro ponto sobre a marcação de Tiago Nunes é a busca por tentar recuperar a bola logo após a perda, o chamado "perde-pressiona". Como ataca colocando muitos jogadores no campo adversário, se torna fundamental fazer uma pressão assim que a posse for perdida para evitar os contra-ataques. Nesse momento, o time se posiciona no 4-4-2 com o meia central ficando ao lado do centroavante. Isso exigirá, por exemplo, que Diego Souza e Jean Pyerre contribuam com essa pressão.
Passagem sem sucesso pelo Corinthians
Depois do título da Copa do Brasil, Tiago Nunes terminou 2019 como o técnico brasileiro mais valorizado no momento no qual os clubes olhavam com maior atenção para o Exterior após o sucesso do português Jorge Jesus no Flamengo e o bom trabalho do argentino Jorge Sampaoli no Santos. O gaúcho de Santa Maria então recebeu a oportunidade de treinar o Corinthians com uma missão: mudar a forma de atuar da equipe, que havia se acostumado a um jogo reativo nos últimos anos.
A temporada começou com uma grande decepção, com a eliminação na fase preliminar da Libertadores para o Guaraní. Essa turbulência inicial contribuiu para atrapalhar a progressão do trabalho.
Com um elenco que ainda tinha muitos jogadores campeões sob o comando de Fábio Carille em um modelo de jogo muito mais defensivo, Tiago Nunes encontrou resistência para implementar suas ideias. Houve também reclamações por uma cartilha do técnico considerada rigorosa pelos jogadores que continha ações como a obrigatoriedade de todos os jogadores realizarem as refeições juntos sem relaxamento nos horários.
— O Tiago veio para mudar a maneira do Corinthians jogar e até começou bem colocando jogadores leves em campo. Era um time com poucos jogadores de marcação, mas durou pouco. Aí teve uma culpa dele de não conseguir manter a equipe confiante, mas também muito do cenário. O Corinthians não era um clube pronto por questões políticas e de elenco para fazer o que o Tiago queria. Ele teve também alguns problemas de relacionamento, não é um cara tão fácil de lidar, mas tendo a achar que o problema maior estava no clube — avalia o comentarista dos canais Espn Gustavo Zupak.