Titular da meta gremista em grande parte do Campeonato Brasileiro de 2020, Vanderlei foi um dos goleiros com menor participação no jogo com os pés. Entre os que mais jogaram em cada uma das 20 equipes da competição, foi o que menos deu passes para os companheiros — foram 19 por jogo, em média, sendo 16 certos. Enquanto isso, o líder no quesito foi Felipe Alves, do Fortaleza, com 35 passes (30 certos). A média do campeonato foi de 26, bem acima da participação do goleiro do Grêmio.
Os números não indicam se um goleiro é melhor ou pior, mas refletem o pensamento do treinador sobre o jogo. No caso gremista, Renato Portaluppi prefere que os goleiros deem um chutão a correr o risco de perderem a bola e darem chance para o adversário marcar.
— Se dá para sair jogando, se está livre, eles fazem, mas se tiver algum risco o Renato gosta que faça a quebrada lá na frente — explica Mauri Lima, treinador de goleiros do clube.
O preparador relata que os treinamentos com os pés fazem parte do dia a dia da equipe, com atividades para aprimorar a batida na bola, a cobrança do tiro de meta, um voleio, uma virada de bola e até mesmo o domínio. Mas o principal, segundo ele, é fazer os goleiros simularem as situações de jogo, tendo que jogar sob pressão, usarem os dois pés e pensarem rápido.
— O goleiro não tem a obrigação de ser aquele cara que vai fazer um passe para o gol. Existe a possibilidade de ele fazer um lançamento, existe. Mas a gente vê tantos gols por falhas na saída de bola, por isso acho que tem de ser precavido. É importante trabalhar com os pés, mas no meu entender o goleiro tem que defender. É a primeira situação. A segunda, a gente acrescenta — salienta, antes de complementar:
— Um estudo feito no mundo mostra que, depois que os goleiros começaram a jogar mais com os pés, os treinadores esqueceram a parte técnica, a parte específica, e o número de gols no mundo cresceu 40% só de erro de trabalho com os pés dos goleiros.
Mauri Lima lembra, ainda, que a "quebrada" para o ataque por vezes serve até mesmo como estratégia. No caso do Grêmio de Renato, essa é uma orientação para aproveitar a capacidade do centroavante.
— É uma questão daquilo que o Renato pede. É a maneira que ele gosta que saia jogando, que essa bola chegue para o Diego Souza poder segurar para o time sair ou então para o Diego desviar de cabeça para pegar os jogadores em velocidade — justifica.
Com Brenno no gol, possivelmente como titular nesta temporada, ainda é preciso esperar para ver se as orientações serão as mesmas. Nestes primeiros jogos, o garoto de apenas 21 anos teve pouca participação com os pés e fez milagres com as mãos. Para Renato, isso basta.