Romildo Bolzan Júnior terminou 2020 orgulhoso e inicia 2021 esperançoso. Mais que isso, confiante de que o Grêmio aprendeu com derrotas recentes e de que chegará fortalecido para buscar o hexa da Copa do Brasil diante do Palmeiras. Após um ano de incertezas na vida de todos e também no futebol pelo coronavírus, o presidente gremista entende que o clube conseguiu lidar bem com as dificuldades econômicas impostas pela pandemia.
Em conversa com GZH, Romildo fez seu balanço do ano que se encerrou com uma temporada que ainda segue, onde os resultados da reta final do Campeonato Brasileiro e também da decisão da Copa do Brasil terão influência direta no que virá nos próximos meses.
O dirigente projetou questões como a renovação de Renato Portaluppi, necessidade de vendas de jogadores, arbitragem e futuro do futebol com a pandemia ainda longe do controle no país. Em tudo isso, deixou sua visão otimista de que o Tricolor está bem preparado para os desafios de 2021.
O que foi fundamental para o Grêmio se recuperar da eliminação na Libertadores e chegar à final da Copa do Brasil?
Essa classificação foi fruto das nossas experiências negativas. Tivemos aquela eliminação para o Athletico-PR, quando tínhamos uma vantagem importante, depois para o Flamengo e, recentemente, para o Santos. Chegamos à conclusão de que acabamos permitindo que a concentração dos jogadores caísse. Dessa vez, nos preparamos de uma maneira em que todos os cuidados foram tomados. O São Paulo estava em um momento melhor, mas acabamos superando pela disposição de vencer e a capacidade de competir.
É melhor enfrentar o Palmeiras relaxado campeão da Libertadores ou pressionado por uma frustração na competição que é a prioridade na temporada?
O que o Palmeiras tem pela frente é muito forte. Eles vão jogar contra o River e, se passarem, terão uma final no dia 30 de janeiro, além do Brasileirão. Creio que esse acúmulo de jogos trará os mesmos problemas que nós tivemos antes do São Paulo. Esse acúmulo de jogos trará uma situação para eles superarem, mas também entendemos que o Palmeiras não está chegando a decisões por acaso. É um adversário que merece nosso total cuidado.
O Grêmio chegará mais preparado?
O Grêmio terá um tempo mais focado porque vamos jogar apenas o Brasileirão, mas também temos de levar em conta o calendário. Teremos o Gre-Nal, Flamengo, Atlético, o próprio Palmeiras. Também passaremos por confrontos importantes, porque o Grêmio irá decidir sua situação no Brasileirão contra times que estão na ponta. Será um desgaste grande, mas eles terão ainda mais com a Libertadores.
Pepê pode ser negociado antes da final da Copa do Brasil?
Eu, particularmente, vou fazer um empenho danado para manter os jogadores ao menos até o final da Copa do Brasil. Acho isso necessário. Quando fizemos o raciocínio da permanência do Pepê, nós tínhamos a convicção, e continuamos tendo, de que ele era fundamental para termos perspectiva de vitórias, de campeonatos. Se por acaso tiver uma situação que não dê mais para sustentar, vamos ver o que acontece. Já temos jogadores que podem substituir, e isso é perfeitamente possível, mas nesse momento seria conjecturar demais, porque não temos nada concreto para avaliar.
A premiação da Copa do Brasil não é suficiente para evitar vendas?
Seria a lógica, mas não é assim que funciona. Tem condições negociais que independem disso e que são importantes. Quando houve a proposta pelo Pepê no meio do ano, fizemos esse raciocínio e seguramos, mas tem outras situações em que não se consegue, que envolvem contratos e outras questões que vão além.
O Grêmio está em condições de resistir a ofertas que não atendam aos valores estabelecidos pelos jogadores?
Temos uma situação financeira em que o fluxo de caixa está garantido até março. Temos uma receita prevista neste sentido. A premiação da Copa do Brasil não estava no nosso fluxo, é algo que vai ficar para 2021 e nos ajudará, mas também teremos de ver o reflexo desse ano nas receitas. O importante é que o Grêmio tem uma solidez. Se conseguirmos nos manter equilibrados, não será fundamental vender para sobreviver. Será fundamental tentar resolver os nossos problemas tendo capacidade de competir nos campeonatos que temos, porque os prêmios estão altos. Tendo bom desempenho, maior é a arrecadação.
O ano de 2020 foi mais difícil do que quando o senhor assumiu o Grêmio em 2015?
Pior foi aquele momento de 2015, que era um projeto que estava sendo iniciado e tínhamos de tomar decisões importantes. Aquele foi um outro momento. Agora, o Grêmio estava em uma situação mais sólida e já havia conquistado títulos. Negociamos com os jogadores, que colaboraram, e com todos que tinham alguma relação econômica conosco com tudo sendo jogado para frente. Fizemos um ano com o raciocínio de não pagar mais do que havia para arrecadar. Conseguimos passar de uma maneira equilibrada. A venda do Everton veio e conseguimos até antecipar situações que havíamos combinado com os atletas para 2022.
Qual o maior aprendizado de 2020?
Foi uma experiência inédita. Praticamente se desativou a vida profissional minha e de vocês (imprensa) da forma como era, e ainda não voltou ao normal. No ponto de vista do Grêmio, tivemos de nos reinventar para passar por tudo isso. O que mais eu trago de aprendizado é que o homem é capaz de ter um instinto de sobrevivência fantástico. Ele consegue se adaptar, se organizar, sobreviver e compreender as dificuldades. O que fica para mim é esse instinto de sobrevivência. Esse é o maior legado que esse momento vai nos deixar.
A renovação do Renato para a próxima temporada vai acontecer de forma natural?
Creio que vai ser uma renovação natural, até porque no futebol brasileiro eu não vejo uma situação de algum clube conseguir cobrir todas as dimensões, não só as salariais, mas, principalmente, a forma de relacionamento que o Renato tem conosco aqui, com o clube e com a torcida. Só em situações excepcionalíssimas, que fujam do nosso controle (não renovará). Acredito que acertaremos rapidamente a renovação. É um custo-benefício barato porque, além de ser um treinador que ganha títulos, ele toma conta de várias atividades e tem um gerenciamento que vai além da situação técnica. Ele se preocupa com tudo e acaba sendo um treinador barato. Na verdade, barato eu não diria, mas dentro do preço do que se paga e é justo (o salário). Essa questão é mais importante.
Quando assumiu o cargo, imaginava ter um mesmo treinador por tanto tempo?
Como conceito, sempre achei que ter um trabalho de longo prazo com técnico é o melhor. Ter dado certo foi a glória, a salvação da lavoura. É um cenário extremamente favorável. Como conceito e resultados, tenho absoluta contemplação.
Qual a sua perspectiva para retorno do público nos estádios? Há alguma manifestação nova por parte dos clubes ou da CBF?
Foi decidido pelos clubes que só teria público na Série A quando todas as cidades com times liberassem de forma igualitária. Eu, particularmente, só vou defender o retorno no momento em que tiver a vacinação em massa e possibilidade em todas as praças.
Qual o impacto da ausência de públicos no quadro social? Quais ações o Grêmio tem feito para evitar uma perda maior?
Fizemos várias promoções e haverá outras para a manutenção de sócios. Fizemos uma manutenção do percentual de desconto, não aumentamos valores das mensalidades, e os sócios terão vantagens quando o público voltar aos estádios. Temos também vantagens na loja, brindes no pagamento antecipado. A queda no quadro social em 2020 foi na ordem de 16%, não foi tão expressiva assim diante da situação. Tivemos uma resposta boa no pagamento da primeira onda de adiantamentos, que ficou em R$ 52%. Arrecadamos R$ 5,5 milhões. Na próxima onda, penso que poderemos chegar a R$ 8 milhões, o que seria uma grande demonstração de confiança na perspectiva do clube de disputar os campeonatos. Imagino que teremos uma queda, mas vai ser suportável dentro do que viveremos ao longo do ano.
Mesmo com VAR, as reclamações com a arbitragem seguem constantes. O que fazer para melhorar a arbitragem brasileira?
Acho que a arbitragem brasileira foi inferior a outras temporadas e que pecou em vários aspectos na questão política. Mas é muito cômodo sempre que for injustiçado reclamar. A meu pedido, o jurídico do Grêmio fez um trabalho sobre essa situação de como poderíamos criar uma situação melhor para a arbitragem. Esse trabalho foi enviado para a CBF a fim de colaborar com a profissionalização da arbitragem brasileira. Em primeiro lugar é a criação da profissão árbitro de futebol. É criar a exclusividade para a função de árbitro e as formas como ele irá se vincular a essa profissão. No tamanho do negócio que o Brasil tem no futebol, a arbitragem não pode ser mais bico. A arbitragem precisa ser profissional.
Como será o planejamento para a próxima temporada para contratações com os Estaduais começando dias depois do Brasileirão? Será possível usar o time principal desde o início do Gauchão?
Penso que todos os prazos serão refeitos. Vamos ter de observar e fazer o planejamento dos elencos de maneira antecipada. O planejamento sobre necessidade de acréscimo nos elencos terá de ser feito agora. A ideia é disputar todas as competições em condições de vencer, e a fórmula do Gauchão será diferente. Teremos de analisar bem isso, mas dependerá dos nossos desempenhos na Copa do Brasil e no Brasileirão. Teremos de conseguir uma condição boa agora para depois pensar no que vai ser feito no Gauchão.
Para encerrar, o seu nome aparece como possível candidato do PDT ao governo do Estado ou ao Senado. Pretende se candidatar em 2022?
Não tenho a mínima perspectiva nesse sentido. Meu compromisso é com o Grêmio, e meu raciocínio sempre foi o mesmo. Se tem candidatura, não tem clube. Se tem clube, não tem candidatura. Deixar o Grêmio para uma atividade política, seja majoritária ou proporcional, não me passa pela cabeça nesse momento.