A nona vitória seguida esteve mais próxima do que nunca para o Grêmio no domingo (22), e esse desperdício precisa ser analisado para não ocorrer uma repetição indesejada. Contra o Corinthians, o time de Renato Portaluppi teve dois jogadores a mais por meia hora e mal conseguiu ameaçar a meta adversária. Pelo contrário, viu os paulistas chegarem bem perto de marcar, não fosse um milagre de Vanderlei.
Por mais que essa partida faça parte do passado e que não adiante lamentar a chance que escapou, é bom tirar algumas lições do 0 a 0 para que haja um novo comportamento na quinta-feira, contra o Guaraní-PAR, na partida de ida das oitavas de final da Libertadores.
Trata-se de uma competição matreira, perigosa, na qual uma noite infeliz desmancha um caminho construído ao longo dos meses. Os argentinos costumam ter como lema que a Libertadores só começa, mesmo, nos mata-matas. Listamos alguns pontos para o Grêmio abrir o olho no Paraguai.
Desatenção
Pode ter sido efeito do relaxamento pela sequência positiva ou até pela facilidade que o Grêmio encontrou nos primeiros minutos diante do Corinthians, mas o fato é que os comandados de Renato Portaluppi não mantiveram o giro alto das apresentações anteriores. O treinador até comentou:
— Às vezes, por ter jogador a mais em campo, alguém pode achar que não precisa correr, acompanhar. Enquanto isso, o outro time está se dedicando mais, cobrindo um pelo outro.
A desatenção gremista foi tão grande que permitiu ao Corinthians um contra-ataque que deu rebote, sobra dos paulistas e conclusão de Fágner da marca do pênalti. Contra o Guaraní-PAR, essa desatenção pode não ser salva.
Lentidão
O meio mais leve e movediço, com Darlan, Matheus Henrique e Jean Pyerre, abrindo velocistas como Pepê e Luiz Fernando, não funcionou desta vez. A formação que deu nova "velha" cara ao time, com troca de passes e posse de bola, ficou estática, presa à marcação, submissa à força corintiana.
A lentidão era a principal queixa de torcedores e analistas quando a formação tinha atletas menos móveis, tipo Lucas Silva, que engessavam o time, mesmo que reconhecidamente reforçassem a marcação. Renato não tem razões para desmanchar o sistema que voltou a dar resultado e desempenho, mas a cobrança aos atletas, especialmente Jean Pyerre, é fundamental.
— Vamos manter o bom trabalho, estamos em uma sequência de 12 jogos invictos e bem nas três competições — declarou o vice de futebol Paulo Luz, para passar tranquilidade e confiança ao grupo e à torcida.
Ansiedade
Não é incomum, apesar de soar paradoxal. O time fica com vantagem numérica, tem tempo para transformá-la em gols e, mesmo assim, perde a tranquilidade. Renato fez esse diagnóstico sobre o Grêmio diante do Corinthians. Como o adversário se fechou bem, retirou os espaços e ainda por cima levou perigo, a equipe gaúcha se impacientou, simplificou lances demais, alçou bolas para a área sem observar a movimentação e desperdiçou ataques.
— Temos de ter tranquilidade, não cruzar de qualquer lugar, longe da área. Não pedi isso _ analisou Renato.
Como o Grêmio tem jogadores mais acostumados a disputas decisivas do que os paraguaios, precisa usar a experiência a seu favor.
Desorganização tática
Na tentativa de ser mais ofensivo, Renato trocou lateral-direito por centroavante e volante por meia. Recuou Jean Pyerre e, no final, chegou a ensaiar algo semelhante ao modelo que Tite usou nas partidas da Seleção, especialmente contra Bolívia e Venezuela, adiantando laterais para as pontas, formando um trio no meio e deixando dois jogadores fixos na área.
O técnico não esclareceu sua ideia — e até não foi perguntado, diga-se —, mas pareceu, mesmo, tentar um 2-3-5 quando tivesse a bola. O problema é que seus jogadores ou não entenderam ou não eram os adequados, já que foi nesse momento que quase levou o gol. A correção veio com o ingresso de Victor Ferraz.
— Vou mostrar para eles no vídeo os erros que cometemos, que é inadmissível o time adversário chegar perto da área, quanto mais chutar — avisou o treinador.
Se precisar ser mais ofensivo, talvez o técnico deva utilizar recursos que tem em campo, já que o atropelo do calendário impede treinos mais específicos.