Thiago Neves não é mais atleta do Grêmio desde o início de setembro, mas a sua contratação — e, principalmente, a maneira como foi costurado o seu contrato, em janeiro — segue sendo motivo de explicações. Demitido do cargo de executivo de futebol há menos de um mês, Klauss Câmara concedeu entrevista à Rádio Gaúcha neste domingo (4) e deu a sua versão sobre a chegada do meia de 35 anos à Arena.
— Penso que, em algum momento, eu teria que falar a respeito disso. Escolhi um momento que não tivesse nenhum tipo de prejuízo e que as pessoas não pensassem que eu sou oportunista. Não queria causar nenhum tipo de prejuízo interno. Então, mesmo diante de tantas coisas que se falaram a meu respeito, eu aceitei e esperei o momento certo para falar, que foi depois da classificação na Libertadores — manifestou. — É muito chato esclarecer contratos, que nunca deveriam ter vazado. Mas já que vazou e estou sendo responsabilizado por ter feito a cláusula tão polêmica, que poderia causar prejuízo ao clube, eu só falei a respeito para esclarecer quem realmente era o responsável, que era o (Carlos) Amodeo, CEO do clube. Se eu ficasse calado, quem cala consente, e eu estaria consentindo com algo que eu não tinha feito.
A cláusula referida por Klauss estabelecia que, caso o jogador fosse relacionado em súmula para 20 partidas da temporada, seu contrato seria automaticamente renovado por mais um ano, com aumento salarial. O vazamento desta informação gerou a rescisão do vínculo do atleta e, semanas depois, foi um dos motivos para a demissão do dirigente.
— Na época, o Amodeo sugeriu isso, porque o Thiago queria dois anos fixos de contrato. E quando ele (Amodeo) diz que eu já tinha fechado dois anos, eu nunca finalizei nenhum contrato sem a permissão do presidente e da direção do clube. Ele sabe disso. E, neste momento em que o Thiago pedia dois anos, a gente se reuniu e tentou definir o contexto, se traríamos ou não. Foi quando ele sugeriu essa cláusula, praticamente dando esses dois anos ao Thiago e, para o contexto interno, passando que estava preocupado com a opinião pública e perante o Conselho de Administração do clube — declarou o antigo executivo gremista.
Atualmente no Sport, Thiago Neves disputou 14 jogos com a camisa tricolor, tendo marcado somente um gol (pelo Gauchão, antes da paralisação das competições). Seu desligamento custará R$ 3,4 milhões aos cofres gremistas, quase R$ 2 milhões referentes à indenização ao atleta.
— O valor da indenização que foi pago ao Thiago foi referente aos dois anos que ele tinha garantido em contrato. Se for olhar bem, a cláusula dizia isso. Meu intuito nunca foi causar nenhuma confusão, ou de alguma forma criar algum embate entre Klauss e Amodeo, ou qualquer outra pessoa. Até porque, se fosse assim, devido a todo o contexto interno criado por ele mesmo (Amodeo), se tivesse que gerar algum tipo de conflito dele com o departamento de futebol, seria necessário uma legião de pessoas. Mas, enfim, esse não é o objetivo. A gente fica apenas com aquilo que foi bom dentro do clube — disse Klauss.
— A verdade é que o presidente confia nas lideranças que ele elegeu dentro do clube. O CEO é o cargo executivo máximo dentro da instituição. Só que, pela proporção que isso ganhou, está sendo necessário esclarecer. O Thiago, naquele momento, estava livre e existiam clubes interessados nele. Por isso, fui a Belo Horizonte tentar fechar o contrato. Ele queria dois anos e, dificilmente, se não fosse feito desta forma, ele viria. Claro que depois, com a saída conturbada dele, as questões ficaram mais relevantes. Mas o Thiago veio com aprovação e com unanimidade, perante o próprio torcedor e no contexto interno. Todas as contratações sempre foram feitas com aprovação de um colegiado dentro do clube. A questão do Thiago Neves, por ter sido uma questão conflitante na saída, gerou muito desgaste — concluiu.
Procurado pela reportagem de GZH, o Grêmio disse que não irá se manifestar sobre este assunto.
Cavani
Outro tema abordado na entrevista de Klauss Câmara foi a tentativa do clube em contratar o atacante uruguaio Edinson Cavani, que neste fim de semana acertou sua ida para o Manchester United. Segundo o ex-dirigente, as tratativas foram feitas sem sua participação.
— O que posso falar a respeito disso é que o presidente e o Paulo Luz (vice-presidente de futebol) vêm dizendo. Eu não participei de nada referente ao Cavani — explicou. — Claro que seria uma atribuição do executivo conduzir isso, mas já teve situações dentro do clube em que não participei da condução de alguns negócios, e este não era um contexto problemático. Eu sabia que existia uma conversa (com Cavani), mas entendo que era de uma magnitude muito grande um projeto como esse. Então, relevo isso.
Klauss Câmara atuou como executivo do Grêmio de janeiro de 2019 a meados de setembro de 2020.