Desde a primeira passagem pelo Grêmio como técnico, Renato Portaluppi tem papel importante na escolha de reforços para o elenco. Em 2010, trouxe Lins, Diego Clementino, Júnior Viçosa e Paulão para ajudar a classificar o Tricolor para a Libertadores do ano seguinte. Com mais expectativas do que eles, Carlos Alberto decepcionou na competição continental. Em 2016, Renato fez Maicon e Douglas aprimorarem o futebol que pôs fim ao jejum gremista de títulos.
Outros jogadores rodados e vitoriosos chegaram a Porto Alegre como esperança da torcida, também sob o comando de outros treinadores. Portaluppi, no entanto, é o que recebe maior reconhecimento por ajudar jogadores consagrados a recuperar a boa fase em seu vestiário. Sua gestão de elencos pode ser sintetizada pela frase "meu grupo é bom", repetida incansavelmente em coletivas de derrotas e vitórias.
Thiago Neves e Diego Souza são os exemplos mais recentes de atletas contratados como apostas de Renato com mais de 30 anos e títulos na carreira, porém em momentos de pouco rendimento em campo. Apenas um deles conseguiu render o que o técnico disse que ambos renderiam.
Paulo Nunes, que chegou ao Grêmio em 1995 já campeão da Copa do Brasil e Brasileirão pelo Flamengo, para conquistar a América com o Tricolor, elogia a sensibilidade do atual treinador gremista para dialogar e cobrar os boleiros.
— Tem atleta que pode ser bastante cobrado, outros nem tanto. Tem que saber dessa diferença, uns tratados com mais tranquilidade do que outros. E o Renato conhece muito isso dentro do vestiário, além da qualidade dentro das quatro linhas — diz o comentarista da Globo.
Porém, a postura do técnico sozinha não é determinante para o sucesso ou o fracasso de um jogador que chega ao clube. A pressão por títulos, como a vivida pelo Grêmio entre 2001 e 2016, pode ter sido uma dificuldade a mais na preparação dos reforços.
— Depende de como está a gestão, a expectativa da torcida gerada a partir disso e como tudo isso entra no campo de treinamento e no ambiente do vestiário. Se tratarmos de jogadores experientes, a tendência é de que eles não sintam tanto. Ainda assim, é difícil estar em um clube grande com a pressão de mais de 10 anos sem títulos expressivos, tem de estar capacitado e muito forte para resistir a essa pressão — analisa Paulo Nunes.
Outro que chegou ao Olímpico com sua faixa de campeão brasileiro e grife de medalhista olímpico foi Roger Flores, em 2008. O comentarista dos canais SporTv e ex-meia relembra sua própria contratação, quando chegou a Porto Alegre depois de duas temporadas sem sequência de jogos por conta de lesões. Não há fórmula mágica, mas o diferencial no integração de um medalhão em fase questionável, para ele, é a confiança da comissão técnica até o momento do jogador estar pronto para atuar.
— Quando se fala de Renato, a estrutura que ele tem no Grêmio facilita a recepção dos reforços. Salário em dia, CT bom, comissão técnica. Ele, Renato, individualmente treinando, não é nem este mago que recupera pelo toque, mas também não é um impostor que nunca recuperou ninguém — pondera, concordando com Paulo Nunes em outro aspecto da relação de Renato com os jogadores:
— Thiago Neves, baita jogador, ele conhecia desde o Fluminense, mas nos momentos recentes do Cruzeiro as informações eram de que o Thiago saía bastante, tomava um pouco a mais. E o Renato jogador fazia o mesmo. Então vejo que o Renato acredita que o jogador possa, como ele fazia também, curtir quando precisa curtir, relaxar um pouco mais, fazer estas coisas apontadas como erradas.
Os atletas, porém, precisam retribuir a expectativa em campo.
— Conhecer o DNA e os ídolos do clube, com os motivos que os fizeram ídolos para o torcedor, faz toda diferença — opina, dando como exemplo os dois reforços de 2020 com aprovações diferentes: — Diego Souza conhecia o time e a torcida. Tinha sido vice da Libertadores em 2007, já entendia como funcionam as entrelinhas. O caminho dele seria mais curto do que o do Thiago Neves.
Hablar na Europa
Brasileiros com passagens pelo futebol europeu e estrangeiros também frustram a esperança do torcedor. O comentarista dos canais SporTv e escritor Sergio Xavier destaca essa receptividade dos gaúchos aos jogadores castelhanos. Ele cita D'Alessandro e Guerrero como exemplos recentes de reforços que souberam assumir a postura de ídolos longe do eixo Rio-São Paulo.
— Isso ocorre graças ao pioneirismo que Grêmio e Inter tiveram importando jogadores de países vizinhos antes do resto do país fazer isso. Lá nos anos 1970, quando o Inter traz Figueroa, o chileno já era um craque. Com o Grêmio acontece o mesmo trazendo os uruguaios Ancheta e depois Hugo de León. Mas acontece que nem todo estrangeiro é craque assim — comenta o jornalista.
O exemplo mais recente dessa expectativa frustrada é o do uruguaio Cristian Rodriguez. O atacante foi contratado em 2015 e deixou o clube três meses depois de chegar, por conta de lesões que o impediriam de trabalhar por quase todo tempo de contrato.
— Todo mundo sentiu o pesar dele por receber uma festa que ele sabia que não merecia. Aeroporto lotado, aquela coisa toda. A impressão era que ele era o Suárez, mas não. Ficou feliz, era um baita trabalhador, mas aí veio a lesão e ele nem joga — relembra Xavier, ampliando a análise: — São jogadores que foram estrela com um físico, e quando chegam ao Grêmio tinham outro.
O comentarista cita mais dois medalhões artilheiros e protagonistas de títulos importantes como a Libertadores, mas pouco fizeram pelo Tricolor:
— Em 2007, Amoroso claramente já não tinha mais a velocidade, e ele vivia demais da velocidade. Colocava na frente e ninguém buscava. Depois, com as lesões, virou outro jogador. É o que também aconteceu com o Tardelli. Chega e não tem o físico para entregar. No início deu até uma certa pena de ver as coisas que ele tentava mas o corpo não conseguia fazer — avalia, concluindo: — O pecado do Grêmio é comprar essas figuras do passado e estar sem plano B caso não correspondam.
Relembre as passagens de alguns "medalhões "
Amoroso (2007)
Chega como campeão da Libertadores pelo São Paulo em 2005, além de todo destaque como promessa dos anos 1990. Desembarca em Porto Alegre com passagens por Borussia Dortmund, na Alemanha, e Milan e o então poderoso Parma, na Itália. Fez 11 jogos e não marcou nenhum gol pelo Grêmio.
Carlos Alberto (2011)
Surgiu como promessa no Fluminense e saiu muito cedo para o Porto, de Portugal, ainda com 19 anos, em 2003. Lá ganhou a Liga dos Campeões, com direito a gol na final. Pelo Tricolor, no entanto, atuou 12 vezes e marcou um gol.
Thiago Neves (2020)
Era sonho antigo de Renato Portaluppi, desde a boa campanha do Fluminense vice-campeão da América em 2008. Foi apresentado em janeiro e teve o contrato rescindido em setembro sem encantar. Apesar da pandemia e da pouca sequência, entrou em campo 14 vezes e deixou um gol.
Cristian Rodriguez (2015)
O uruguaio é apresentado como reforço do Grêmio depois de atuar por 10 temporadas em clubes europeus e ser figura constante na seleção nacional. Entre 2005 e 2015, PSG, na França, Benfica e Porto, em Portugal e Atlético de Madrid, na Espanha, contaram com "Cebolla" em pelo menos 20 partidas por ano, cada, um par de gols. Foi recebido com muita festa da torcida gremista, mas entrou em campo apenas duas vezes. Por conta de séria lesão muscular, rescindiu o contrato de empréstimo e chegou a devolver valores à direção em pedido de desculpas por não corresponder às expectativas.
Diego Tardelli (2019)
O campeão da Libertadores pelo Atlético-MG em 2013 também era um desejo de Renato Portaluppi no tricolor gaúcho. Chegou e saiu em 2019, com polêmicas envolvendo posicionamento em campo e forma física, sem atuações encantadoras nem sequência por conta de lesões. Jogou 47 jogos e marcou sete gols.