De todas as posições, os goleiros são os que estão com treinos mais próximos da "normalidade". Distantes dos demais companheiros por natureza, eles já costumavam trabalhar em separado dos colegas, participando apenas em alguns momentos das atividades coletivas. Agora, com as regras restritivas impostas pela bandeira laranja do decreto estadual para o combate ao coronavírus, essa situação ficou mais clara, e o desafio é desenvolver as habilidades enquanto os exercícios com contato ou aproximação não estão liberados.
No Grêmio, o preparador Mauri Lima tem realizado tarefas praticamente normais nos goleiros. Eles participam dos treinos de finalização que os atletas de linha executam e, além disso, desenvolvem atividades para aprimorar alguns fundamentos. O que falta, de verdade, é a situação de jogo, que ainda não está liberada. Por situação de jogo, entenda-se o um contra um ou cruzamentos a partir de cobranças de falta e de escanteio com a presença de mais atletas.
Os goleiros têm seu próprio grupo de trabalho. Vanderlei, Paulo Victor, Júlio Cesar e Brenno normalmente fazem as atividades juntos, mas eventualmente podem ser divididos em duas duplas quando o treino dos jogadores de linha pede a presença deles para exercícios de finalização, por exemplo. Quando fazem só entre si, ficam bem próximos aos treinos regulares.
— Os treinos de finalização são um pouco diferentes, com distanciamento, um ou dois jogadores por vez. A hora que o grupo todo voltar a fazer trabalhos coletivos é que vamos acrescentar mais situações — reforça Mauri.
Segundo ele, a retomada só foi possível porque os goleiros cumpriram bem a cartilha que lhes foi passada nos períodos de férias e de quarentena. Eles chegaram em boa condição física, o que facilitou o recondicionamento e agilizou o recomeço do trabalho com bola. Agora, tudo é uma questão de recuperar gestos técnicos.
— Eles não tinham como fazer muito em casa, sem bola. Mas o que dava para ser feito fisicamente, conseguiram — elogia o preparador.
Como não há confirmação de partidas (a previsão é de que voltem os jogos no final de julho ou início de agosto), a ordem agora é dosar as atividades para que, quando houver uma flexibilização dos treinos, eles possam participar dos coletivos. Outro ponto a ser trabalhado é o desenvolvimento das habilidades que normalmente o calendário impede. Em entrevista recente a ZH, o professor do curso de Educação Física da UFRGS Eduardo Cadore, doutor em ciências do movimento, lembrou que esse período de treinos sem jogos deveria ser aproveitado para aprimoramento de fundamentos, como domínio, condução, passe, conclusão, cabeceio, entre outros. No caso dos goleiros, o aperfeiçoamento se dá em velocidade, impulsão, lançamentos, reposições e passes.
ENTREVISTA
Mauri Lima — Preparador de goleiros do Grêmio
Os goleiros foram mais prejudicados do que os jogadores de linha no período em que não puderam treinar no clube?
Todos foram prejudicados de uma forma igual. Claro que os goleiros têm uma dificuldade a mais por não poder fazer a parte técnica, com a bola, mas como a gente tem esse tempo até começar o campeonato, existe uma facilidade para recuperar. E tudo o que fizeram em casa ajudou para o complemento da parte técnica, específica, a recuperação entre um treino e outro. Dentro do que saíram e como voltaram, os goleiros estão numa condição excelente. Eles foram profissionais demais.
As atividades atuais dos goleiros são muito diferentes daquelas que fazem normalmente?
Trabalhamos em grupo, e podemos acrescentar os goleiros na parte de finalização, divididos. Mas na parte só nossa, com treinador de goleiros e os quatro é bem próximo ao do dia a dia. Temos de moldar para não sobrecarregar porque ainda falta para começar o campeonato. Trabalhos posicionais e em grupo vão ser complementado quando for liberado.
Quais fundamentos podem ser aprimorados pelos goleiros neste momento? Cobranças de falta, jogo com os pés, reposição?
Depende de cada goleiro. Na nossa atividade, nenhum cobra falta e ninguém pediu para fazer esse tipo de trabalho. Não temos essa ambição, já temos a nossa responsabilidade, bem grande, de defender. Queremos estar nas melhores condições para executar da melhor maneira possível. O que fazemos é deixar aberto para que coloquem algo que queiram. O treino de habilidade com os pés é feito normalmente, mas o campo reduzido é o que mais facilita para o goleiro adquirir essa habilidade. Só que não podemos fazer atividade coletiva. Mas dentro do trabalho aqui, podemos melhorar a reposição os passes, e estamos fazendo isso. De resto, vamos fazendo as melhorias e as correções necessárias e que o tempo nos permite.