Quando surgiu, no início dos anos 2000, Bruno Ferraz das Neves era apontado como a mais nova joia das categorias de base do Grêmio. O meia chegou a ser classificado como o sucessor de Ronaldinho, que havia saído para o PSG. O momento do clube, porém, era turbulento e culminaria com o rebaixamento para a Série B em 2004. Por essas e outras condições, a história acabou sendo diferente do que se imaginava.
— No início, eu gostava muito deste rótulo (“novo Ronaldinho”), quando eu era da base. Mas depois, não tive carga emocional. A torcida e a imprensa buscavam um jogador idêntico ao Ronaldo, e eu não tinha nada a ver. Ele era muito mais agressivo e eu era mais técnico, gostava de jogar com a bola no pé. Acredito que isso me prejudicou muito. Tive altos e baixos, mas também não me arrependo. Tudo que tenho hoje, agradeço ao Grêmio — avalia o próprio Bruno, em entrevista concedida a GaúchaZH.
Depois de deixar o Grêmio, Bruno passou por clubes como Cruzeiro, Fluminense e Guarani, até encerrar a carreira no Marcílio Dias, em 2015.
— Não tive mais ânimo para treinar, escutar as mesmas conversas no vestiário... E você ainda pega esses clubes que atrasam salário, não têm compromisso, fui enchendo o saco. Conversei com minha esposa e resolvi parar — revela.
Prestes a completar 36 anos em junho, Bruno vive há uma década em Balneário Camboriú, com a esposa Camila, e os três filhos: Pedro, 14, Maria Luiza, 12, e Theo, cinco anos.
— Quando eu jogava, não parava quieto, não tinha CEP definido. Meus pais já tinham uma casa aqui e eu vim com minha família para cá. Só meu irmão que ficou em Porto Alegre — conta ele.
Foi onde cravou raízes, no litoral catarinense, que o ex-jogador também abriu uma escolinha de futebol. Desde 2006, se divide como administrador e treinador da BF Soccer, que atende cerca de 120 meninos, de 5 a 12 anos de idade. Além de alertá-los sobre as responsabilidades que devem ter na carreira, repassa ensinamentos que apreendeu com sua própria trajetória.
— Eu só jogava com a bola no pé, né? Aí me puseram esse apelido de Soneca. Em mim e em outros jogadores. Até o Alex “Cabeção” foi chamado assim também. Mas isso não me incomoda — comenta.
— Fui aprender a marcar no Japão, onde tive um treinador muito exigente (jogou no Consadole Sapporo, em 2011). Lá, aprendi a jogar sem a bola, taticamente. Queria ter tido esse treinador no início da minha carreira, na base. Hoje você vê jogadores que sabem jogar sem a bola. Na minha época, não. Sou um treinador muito chato. A bola está no ataque, mas eu fico olhando a parte defensiva, se os jogadores estão posicionados na linha de marcação. Passo isso para meus jogadores. O futebol mudou bastante e para melhor — completa.
Conveniada ao Grêmio, a escolinha de Bruno já cedeu atletas para as categorias de base do Tricolor e também do Figueirense. Até por conta disso, ele segue acompanhando o clube que o revelou para o futebol. E, nestas idas e vindas de Porto Alegre, ouviu comparações que foram feitas entre ele e Jean Pyerre, atual meia gremista.
— Sou muito fã do jogo dele. E também acho parecido comigo. Magrão, mais escurinho (risos)... Ele está jogando demais, até porque o time está bem melhor do que na época em que eu subi. Acredito que se eu estivesse em um time desses, bem estruturado, a história seria diferente. O pessoal falava que eu jogava de terno, mas ele (Jean Pyerre) veste dois ternos. É muito elegante para jogar — brinca o ex-atleta.