Em litígio com o Grêmio desde março, o atacante Ferreira rompeu o silêncio em live com o jornalista Jorge Nicola. Na conversa, o jogador de 22 anos expôs suas razões para não aceitar a renovação contratual e acusou alguns dirigentes de não cumprirem a palavra.
— Eu coloquei o clube (na Justiça) porque não posso acionar os diretores. Eles me prometiam uma coisa e no papel (contrato) colocavam outra. Então, coloquei o Grêmio por causa das pessoas (dirigentes) que o representam — disse o atacante.
Neste momento, o jogador aguarda pela reapresentação, após as férias, em sua cidade natal, Dourados, no Mato Grosso do Sul. Segundo ele, muitas inverdades foram ditas sobre o processo de sua renovação.
— O que foi falado tem muita mentira. Meu desejo nunca foi sair do Grêmio, sou muito grato ao clube. Eles decidiram me afastar por pressão, para assinar a renovação. Depois que entrei na Justiça disseram que poderia jogar na transição, mas aí veio a parada — disse.
Segundo ele, a direção se mostrou irredutível nas tratativas para a extensão de seu vínculo.
— Eles me disseram: ou renova ou fica fora da lista da Libertadores. Me deram um dia pra decidir. Como vou definir minha vida em 24 horas? Me deixaram contra a parede. A primeira oferta foi de R$ 30 mil, não aumentaram. Não queriam dar luvas, só o percentual do empresário (Pablo Bueno). Não queriam me dar nada porque não confiam no meu futebol, só pode — narra.
De acordo com Ferreira, os valores que lhe foram ofertados são menores do que os recebidos por muitos colegas do grupo de transição.
— Subi e agora me ofereceram um contrato que é menor do que alguns jogadores da transição ganham. Como isso? Acham que a gente (jogadores) não conversa? Muitos me disseram. Eu li que ofereceram pra você e é menos do que ganho — citou, sem dar nomes.
Demonstrando grande mágoa com alguns dirigentes do Grêmio, os quais não quis identificar, Ferreira partiu para o ataque durante a conversa.
— Eles (dirigentes) não dizem que aceitei renovar no ano passado sem aumento. Que jogador aceita isso? Vim ao Grêmio em 2014 através de um projeto de escolinha conveniada com o clube. Não fiquei com percentual dos direitos. É 80% do clube, 20% da escolinha e o Grêmio não queria dar nada — garantiu.
Até mesmo um tratamento para curar lesão, que teria sido bancado por seu representante, foi citado pelo atleta.
— Quando fui para o Aimoré, sofri uma fascite plantar. O meu empresário pagou todo o tratamento. Quando voltei ao Grêmio, já queriam me emprestar de novo e eu disse não. Fico até terminar o contrato. Fiquei, terminei de me tratar no clube e aí veio o Brasileirão de Aspirantes, fui bem, fui artilheiro, chegamos na final e ganhei chance no time de cima.
A relação com o técnico Renato Portaluppi é considerada boa, tanto que Ferreira faz questão de ressaltar os conselhos do comandante.
— O Renato queria a minha permanência. Ele até ligou para meu pai, falou com ele, disse que entendia a situação e que é pai também. Pra mim, ele (Renato) não ligou. Mas ele sempre me deu muitos conselhos, no dia a dia —relata o atleta que em nove jogos com a camisa gremista, fez dois gols e deu três assistências.
O pedido de rescisão contratual não foi aceito pela Justiça do Trabalho, que no dia 16 de março indeferiu a tentativa do atleta de se desvincular do Grêmio. Segundo ele, se essa decisão for mantida, seu futuro é incerto.
— Quando tudo aconteceu, eu tinha algumas propostas. Mas eu nunca disse que quero sair. Agora está difícil (permanecer), depois de tudo. Nessa parada, nunca nos procuraram. Não sei o futuro. A direção é que fez isso, não tinha motivos pra me afastar. Sempre treinei, nunca enganei ninguém — argumenta.
Para Ferreira, a relação desgastada entre seu empresário (Pablo Bueno) e a direção tricolor por conta da saída de Tetê, para o Shakhtar Donetsk, teve reflexos no impasse que está criado em torno de sua permanência.
— Acho que a briga deles (direção) com o Pablo, por causa da saída de Tetê para o Shakhtar, tem a ver sim (com o litígio). Já teve empresário que me ligou e disse: "fecha comigo que eu consigo o que você quiser no Grêmio. Eu tenho moral lá, teu empresário não". Um pouco da raiva deles sobrou pra mim — diz o atacante, que soma 302 minutos no time principal.
Com vínculo com o Grêmio até junho de 2021, Ferreira também rebate as informações de que teria pedido salários de R$ 100 mil para assinar um novo contrato.
— Pedi 50 e não 100 mil ,como disseram. Eu queria luvas para comprar a casa dos meus pais, que vivem de aluguel. Mas não queriam pagar. Dariam só a parte do agente. Mas tudo bem, ele (Pablo Bueno) sabe da minha situação, da família, e ia me dar a parte dele — afirma o jogador, que diz ter Everton e Cristiano Ronaldo como ídolos.
Consultado pela reportagem de GaúchaZH, sobre as declarações de Ferreira, o presidente Romildo Bolzan Junior disse que o atleta seguirá com seu vínculo.
— Assunto muito batido. Realimentado, sei lá com que interesse. O Grêmio não pode proibir ninguém de falar, cada um assuma o que disse e suas consequências. O jogador ficará normalmente no clube com suas obrigações contratuais.