Em 26 de novembro de 2005, então aos 22 anos, Galatto usou o joelho direito para impedir que o Náutico saísse na frente contra o Grêmio. Mais do que um gol, o gaúcho de Porto Alegre parece ter salvado o futuro gremista, já que o clube teria de ficar, ao menos, mais um ano na Série B caso saísse derrotado do Recife naquela tarde de sábado.
Por isso, enquete realizada em GaúchaZH ao longo desta semana escolheu o lance protagonizado pelo goleiro gremista como a defesa mais marcante nos 116 anos do Grêmio. Hoje aposentado dos gramados, Galatto conversou com a reportagem e falou sobre a importância daquele jogo em sua vida. Confira.
Cinco perguntas para Galatto
Tu lembras bem daquela defesa?
Com certeza. A minha casa é decorada com relíquias do Grêmio. Camisetas, algumas luvas penduradas, e aquilo me faz lembrar meio que todos os dias dos momentos que vivi no clube. Fico muito feliz em recordar. Lembro que, depois daquela confusão, o treinador de goleiros me orientou a não escolher canto, porque quem ia bater não era um batedor oficial. A maioria dos canhotos cruzam a batida, como a gente fala no futebol. Então, optei por aquele lado, mas esperei a batida. Saí no momento certo e tirei com o joelho. Ele deve ter tentado bater no meio, mas a bola foi mais para o lado, eu pulei para a esquerda e, com a perna direita, joguei para escanteio. Não tem como esquecer.
Essa foi a defesa mais importante da tua carreira?
Sem dúvida. Eu tinha apenas 22 anos, precisava daquilo. O jogador de futebol só tem a vitória para crescer. Se tivéssemos saído de lá com um resultado negativo, não sei como seria o 2006. O Grêmio continuaria na Segunda Divisão, cairia a receita do clube, seria tudo diferente. Então, para mim, a defesa mais marcante foi aquela. Fiz outras defesas bonitas, até mais plásticas, mas a que marcou a minha carreira foi aquela, porque foi onde apareci para o mundo como goleiro e, sem dúvida, porque o Grêmio conseguiu entrar nos trilhos novamente nos anos seguintes.
Acha que aquela defesa foi mesmo a mais marcante da história do clube?
Vi que a enquete era a defesa mais marcante. Até brinquei com o Marcelo Grohe que estávamos na disputa um com o outro. Somos amigos até hoje (Grohe era reserva de Galatto naquela partida contra o Náutico). Por beleza, a dele (contra o Barcelona-EQU, na Libertadores de 2017) é a mais linda de todos os tempos do Grêmio, eu acho. Mas pelo momento que vivia o clube, aquele pênalti foi mais importante.
Para ti, como foi aquele jogo?
Tu sabes que, com 22 anos, a gente ouve muito os mais velhos. Naquele jogo, o Cacalo até queria que o time saísse de campo. Eu era um soldado obedecendo ordens. Nunca perdi a cabeça. Pensava que tinha de fazer o meu melhor, e mantive a concentração. O Francisco Cerzózimo, treinador de goleiros, me dizia que para o goleiro o jogo tinha de estar 0 a 0 sempre para evitar o pior. E eu tinha de evitar o pior naquele momento. Apesar da confusão, eu era obrigado a tentar não prejudicar o meu time. Não me passava pela cabeça salvar o Grêmio. Ninguém imaginava como seria aquele jogo, com dois pênaltis para eles, quatro jogadores nossos expulsos. Se não tivesse documentado, todos diriam que é mentira. Quando joguei fora do país me perguntavam se era real mesmo, se não era combinado.
Até hoje os gremistas te agradecem por aquela defesa?
Sim. Isso é muito gratificante. Hoje, faço faculdade de Educação Física e meus colegas mesmo brincam comigo, já que a maioria é mais novo e naquela época tinham sete, oito, 10 anos. Eles lembram daquele jogo. Na rua também, quando pego aplicativo, peço comida em casa, pessoal reconhece e puxa papo. É algo que emociona, sim. Recebo muitos convites de consulados do Grêmio e sempre que tenho a oportunidade me faço presente. Costuma rolar vídeo com os momentos, é bem bacana. De vez em quando estou em casa e a gente vê também, porque a minha filha gosta de ouvir quando o narrador grita Galatto, Galatto. É algo muito marcante poder ouvir e saber que eu fiz o que sempre sonhei, que era jogar no Grêmio.