Faltam poucos detalhes para Thiago Neves ser anunciado como reforço do Grêmio. As bases do contrato com um ano de duração já estão definidas, e o documento deve ser assinado nos próximos dias. A ideia da direção gremista é vincular o salário do jogador ao seu rendimento em campo. Com a ida de Romildo Bolzan ao Uruguai, quinta-feira, para compromissos pessoais, é questão de tempo a formalização da negociação.
O jogador de 34 anos está livre para fechar com o Tricolor depois de rescindir com o Cruzeiro e levar a questão para a Justiça — ele cobra cerca de R$ 17 milhões do clubes por salários e premiações atrasados. Uma reunião em Belo Horizonte entre o diretor-executivo Klauss Câmara, o atleta e seu empresário, Leandro Lima, encaminhou o acerto na terça-feira.
Caso a negociação se concretize, Thiago Neves brigará por vaga no time de Renato Portaluppi, em princípio, na vaga de Jean Pyerre. Embora o garoto ainda não tenha se recuperado da lesão que o tirou dos gramados em setembro do ano passado e não fixe data para seu retorno, com os dois à disposição, o treinador deve optar por apenas um na escalação. O veterano costuma jogar centralizado, atrás do centroavante.
— O aspecto mais diferente entre os dois é a intensidade e a velocidade. O Jean Pyerre, pela idade e o tipo físico, é mais veloz. O Thiago Neves cadencia mais, é mais pensante. Tem um chute e uma bola parada muito boa — avaliou Alexandre Simões, editor de Esportes do Jornal Hoje em Dia.
Mesmo que Renato Portaluppi ainda busque uma peça para o ataque, dificilmente Thiago Neves deve atuar como centroavante. No Cruzeiro, houve o mesmo dilema com a chegada de Rodriguinho. O veterano foi testado pelas beiradas do campo, mas não rendeu e virou reserva do armador.
— Como peça principal do elenco, Thiago nunca foi improvisado. Chegou a ficar no banco em algumas oportunidades. Não vejo, neste momento da carreira, ele aceitando com muita facilidade uma improvisação, ainda mais como centroavante. Sua principal característica é enxergar o jogo. Acho que o Grêmio também perderia se Renato optasse por improvisá-lo — opinou o repórter Tiago Mattar, do jornal Estado de Minas e do portal Superesportes.
Embora tenha saído do Cruzeiro com a imagem arranhada e sendo responsabilizado por parte da torcida pela queda inédita à Série B, Thiago Neves começou sua trajetória causando boas impressões à torcida mineira em 2017. Anunciado como presente na data do aniversario do clube, em 2 de janeiro, rapidamente se tornou o principal jogador do elenco, liderando a conquista do bicampeonato da Copa do Brasil.
— Na mesma velocidade em que alcançou esse status, porém, o meia viu tudo desmoronar. A defesa fiel de dirigentes que mancharam a história do clube, a vida desregrada fora de campo, com exposição frequente, e a queda de rendimento no momento em que o Cruzeiro mais precisou, são, sem dúvidas, os principais pontos para sua derrocada em Belo Horizonte — analisa Mattar.
Thiago Neves não conseguia dar boa resposta dentro de campo. O clima conturbado em que a política do Cruzeiro estava mergulhado - com denúncias de má administração, dirigentes do clube passaram a ter que responder à Polícia Civil e ao Ministério Público por supostos crimes de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica - potencializava a crise.
— A queda de desempenho do Thiago já tinha ocorrido em 2018, mas foi atenuada com as conquistas do Mineirão e da Copa do Brasil, em que ele marcou o gols nos dois títulos. O ano de 2019 foi desastroso para ele, principalmente porque, na reta final do Brasileirão, ele erra um gol de cabeça impressionante contra o Avaí e perde pênalti contra o CSA. A vida noturna dele sempre foi muito agitada em BH. Não foi só em 2019. Sempre teve muitos relatos. Só que em 2019 isso teve peso maior pelo desempenho do time — pondera Simões.