Aquele chute de 35 metros de Gustavo Scarpa atrapalhou os planos gremistas de decidir com vantagem a vaga nas quartas de final da Libertadores, contra o Palmeiras, mas não tirou as esperanças. Terça-feira, no Pacaembu, os tricolores demonstram confiança na capacidade de reação de uma equipe que se acostumou a vencer, tanto faz se em casa ou fora. Superar adversidades faz parte da história do Grêmio, e mais uma delas está no horizonte.
Não será novidade para o clube buscar a classificação longe de Porto Alegre. Há dois exemplos do próprio time que deixam ainda mais clara a possibilidade. Em 1989, a equipe perdeu em Porto Alegre para o Estudiantes por 1 a 0 e, na Argentina, aplicou 3 a 0. Mais recentemente, em 2001, o tetra da Copa do Brasil veio após um empate em casa com o Corinthians em 2 a 2, que obrigou o Grêmio de Tite a ganhar no Morumbi por 3 a 1. Naquela edição, a decisão da competição mantinha o gol fora de casa como critério de desempate em igualdade de saldo simples. Ou seja, eram os paulistas que começavam o jogo campeões e coube aos gaúchos buscar o resultado. Fora do âmbito local, o Tottenham pode servir de inspiração. No ano passado, os ingleses perderam em casa para o Ajax e arrancaram a vaga para a final na Holanda. Com o requinte de ter feito o terceiro gol, depois de ter saído perdendo por 2 a 0, no último lance da partida.
Mas apenas se agarrar ao passado ou buscar exemplos de outras equipes não serão suficientes. Para deixar o Palmeiras para trás, o Grêmio precisará também melhorar seu desempenho. Ou, pelo menos, a efetividade.
O estilo de ficar com a bola e trocar passes à exaustão, para cavar um espaço na defesa adversária, eventualmente não funciona. E é aí que Renato Portaluppi precisa encontrar uma alternativa diante de uma equipe experiente e perigosa.
— Não adianta ficar tanto com a bola. Acho que o Grêmio poderia chutar mais. Mas não é nada demais. O time vem jogando bem, não precisa mudar o estilo. E tem de ter cuidado para não levar gol — opina César Pacheco, diretor de futebol do Grêmio campeão da Copa do Brasil, do Brasileirão e da Libertadores entre 1994 e 1997.
O ex-goleiro Danrlei chama a atenção para outro ponto. Em sua análise, o Palmeiras só venceu a partida de ida graças ao aproveitamento de uma cobrança de falta. É nisso que pede atenção em São Paulo:
— O Grêmio precisa manter a posse de bola, repetir o estilo. Só acho que vale tentar ser mais produtivo na bola parada. Aproveitar mais essas situações.
Tanto Danrlei quanto Pacheco consideraram boa a atuação da equipe em Porto Alegre, o que os motiva para acreditar na classificação em São Paulo. O espírito da equipe, a raça e a entrega para o jogo, segundo eles, serão determinantes para alcançar o resultado necessário.
— Ter Felipão do outro lado dificulta. Ele é matreiro, acostumado a esse tipo de jogo. Vai nos esperar, mas atacar — aponta Pacheco.
Danrlei completa:
— O jogo ficou à feição dele (Felipão). Escalou o time com quatro peças leves do meio para a frente, apostando na velocidade para ocupar os espaços. Precisa ter cuidado.
Mas enquanto os dois gremistas ilustres defendem a manutenção da equipe, o ex-atacante Luis Mário, campeão da Copa do Brasil de 2001, mostra-se favorável a uma mudança mais radical.
— O Grêmio vai precisar jogar mais do que na ida. E para isso, eu colocaria Diego Tardelli já no início. Seria o centroavante. Além disso, daria mais tempo ao Pepê. Não como titular, mas colocaria bem cedo — indica.
Mudanças de nome, estilo ou maneira à parte, o Grêmio precisa reencontrar, no Pacaembu, aqueles desempenhos históricos de La Plata em 1989 ou do Morumbi em 2001. E acreditar até o último instante, como o Tottenham do ano passado. Exemplos não faltam, resta apenas repeti-lo.