O Grêmio tem um jogador que parece uma espécie de termômetro do time: o capitão Maicon. Quando o volante vai bem, a equipe rende mais. Se não está em um dia tão bom, os companheiros normalmente o acompanham, ficando aquém de seus melhores rendimentos. A explicação para esse fenômeno não é tão complexa. Ele é o organizador, o jogador que dita o ritmo dos demais.
Parte dessa importância pode ser observada no quesito passes certos. Se o Grêmio preza tanto pela posse de bola, nada mais imprescindível do que ter em seu meio-campo um jogador cujo aproveitamento neste fundamento é de 95,7% na temporada, com 1.559 passes certos.
O grande problema do camisa 8 tem sido físico. Dos 30 jogos do clube em 2019, Maicon atuou em 19 deles. Em apenas oito, esteve em campo durante os 90 minutos.
Contra o Juventude, na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, na quarta-feira (22), ele foi o atleta que percorreu a maior distância em campo — foram 11,8 quilômetros. Mesmo assim, no sábado, diante do Atlético-MG, fez uma de suas melhores partidas no ano.
Essa foi a segunda vez em 2019 que o volante jogou duas vezes seguidas o tempo todo — a primeira tinha sido nas quartas de final do Gauchão, quando foi a Caxias na goleada por 6 a 0 contra o Juventude e atuou também no 0 a 0 em Porto Alegre, que definiu a classificação gremista às semifinais.
A explicação para essa melhora no rendimento físico do capitão gremista pode estar no aumento da carga de trabalho. Conforme o fisiologista do clube Rafael Gobbato, Maicon tem sido um dos mais dedicados nos treinamentos.
— Ele visa a questão da parte física, por isso está tendo essa melhora. Está correndo mais. Como sempre se dedicou, isso ajuda muito ele. É um atleta muito profissional, acima da média — garante o fisiologista.
Mas, ainda que haja essa evolução, o jogador é acompanhado de perto. Com 33 anos, não tem mais a mesma condição física de outros tempos. Tanto que é constantemente preservado de viagens. Dos 19 jogos em que atuou na temporada, apenas cinco foram longe da Arena — sendo um deles no Beira-Rio e outro no Alfredo Jaconi, cujas distâncias são pequenas.
— A gente passa as informações para o Renato, e ele decide quem viaja e quem não viaja. Ele tem uma ótima avaliação, mas há um debate entre fisiologia, preparação física e departamento médico com o treinador — esclarece Gobbato.
Em abril, Maicon revelou que uma tendinite no joelho esquerdo o incomoda há bastante tempo. Ele relatou que, devido ao desgaste dos treinos e jogos, necessita ser preservado em alguns momentos:
— Carro velho precisa de manutenção. Há mais ou menos um mês, venho com dores no joelho, que vem me atrapalhando. Estou tratando, fazendo fisioterapia e reforço. Já melhorou bastante.
O técnico Milton Cruz, que indicou o atleta ao São Paulo e trabalhou com ele no clube paulista entre 2012 e 2015, garante que Maicon não tem um histórico de problemas físicos. O desgaste, no entendimento do treinador, se deve à alta movimentação do volante.
— Ele se desgasta porque quer ter a bola sempre, não se esconde do jogo. O Maicon sempre teve essa característica de procurar a bola e, quando está sem ela, marca muito. Esse tipo de jogo cansa mais — avalia.
No Grêmio, Cruz entende que, de fato, o capitão é uma liderança técnica da equipe:
— É um atleta chave no Grêmio. Além de orientar os companheiros, faz o time jogar. Então, realmente, quando ele não está bem, a equipe sente. Mas é um cara espetacular, muito dedicado.
Portanto, com as baterias recarregadas, a tendência é de que cada vez mais os gremistas assistam Maicon em campo — e durante os 90 minutos. E, se o capitão estiver bem, a chance de o Tricolor decolar de vez é consideravelmente maior.
Números do Maicon em 2019
- 19 jogos
- 10 vitórias
- 5 empates
- 4 derrotas
- 1,5 mil minutos em campo
- 1 gol
- 5 assistências
- 1.559 passes certos (95,7% de acerto)
- 19 desarmes
- 3 cartões amarelos