Mesmo que o Grêmio não tenha estreado com vitória pelo Brasileirão de Aspirantes, o primeiro gol da equipe não foi um lance qualquer. Depois de receber a bola na ponta esquerda, o atacante gremista Ferreira passa por quatro adversários, dentro da área do Figueirense, e chuta com força para o fundo das redes. Um golaço que, há cerca de três meses, seria impossível para o jogador por questões médicas — uma fascite plantar prejudicava o aproveitamento do atacante.
— Esse gol foi especial, é a primeira vez que consigo jogar sem dores em meses. Foi um período difícil, longe do que mais gosto. É muito bom muito bom poder voltar assim e retomar a confiança. Consegui fazer uma linda jogada, na minha característica, e fui feliz na finalização. Uma pena que não foi suficiente para a vitória — disse Ferreira, autor do gol.
Vestindo a camisa tricolor há cinco temporadas, desde que passou em uma peneira em Dourados-MS, sua cidade natal, o garoto de 21 anos não conseguia desenvolver seu futebol do jeito esperado. Após uma série de lesões, chegou a ser emprestado ao Aimoré, no início deste ano, para disputar o Gauchão. Também não obteve êxito. Até que passou a ser agenciado por Pablo Bueno, o mesmo empresário de Tetê (hoje no Shakhtar Donetsk).
— Quando conheci o Ferreira, ele tinha alguns problemas físicos, mas era um garoto de muito talento. Desde então, iniciamos um tratamento dentário, intensificamos os exercícios de reforço muscular, cuidamos da alimentação e ainda apostamos em um tratamento inovador. No futebol atual, para o jogador se destacar e ter seu melhor nível, ele precisa ser cada vez mais um atleta responsável. O Ferreira aceitou essa condição e agora está colhendo os frutos. É muito bom ver ele podendo mostrar o seu verdadeiro futebol — revela o empresário.
Atacante de lado de campo, Aldemir Ferreira foi levado ao consultório do ortopedista Luiz Felipe Chaves Carvalho, em Porto Alegre. Lá, teve diagnosticada a mesma lesão crônica que atrapalha Luan, a maior estrela do elenco gremista: a tão falada fascite plantar. Por conta desta inflamação na sola do pé, o camisa 7 perdeu a reta final da temporada passada e se viu com um condicionamento físico abaixo dos demais companheiros na largada deste ano. O jovem talento das categorias de base tricolor estava indo para o mesmo destino. A diferença entre os dois foi o tratamento realizado. Ferreira acabou submetido a uma técnica chamada "fatores de crescimento" (growth factors, em inglês).
— É uma técnica teoricamente simples. Não é hemoterapia. Consiste em tirar o sangue periférico e injetar no local da inflamação. A gente identifica a lesão com ultrassom e guia a agulha exatamente onde tem a inflamação. O Ferreira, na ocasião, estava bastante sintomático, quase sem conseguir calçar a chuteira e, obviamente, sem jogar — explica o médico.
Segundo ele, Ferreira não é o primeiro atleta a procurá-lo. Juan, jovem zagueiro da base do Fluminense (hoje no futebol búlgaro), e o tenista uruguaio Pablo Cuevas vieram à capital gaúcha para tratar os mesmos sintomas que caracterizavam a fascite plantar. Porém, a técnica também é aplicada em outras lesões, entre musculares e até fraturas.
— Isso cicatriza mais rápido a lesão. São resultados já consagrados no mundo. Isso é feito na Europa, principalmente na Espanha, onde tem um doutor especialista no assunto, chamado Ramon Cugat. Ele já atendeu jogadores como Messi, Suárez e Cristiano Ronaldo. Não é à toa que eles se machucam menos e, quando se machucam, retornam mais rápido — atesta Carvalho.
O próximo compromisso tricolor pelo Brasileirão de Aspirantes é no dia 31, quando recebe o Sport, às 15h, no CT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul. Mais uma vez, Ferreira estará à disposição do técnico Thiago Gomes, com a promessa de que as dores na sola do pé não irão mais lhe incomodar.