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Um cara que sabe ser refinado, com passes milimétricos e até gols de falta. Mas que não tem vergonha de dar bico e, de quebra, incorporou a rivalidade a ponto de bater boca publicamente com jogadores do Inter.
Por tudo isso, Maicon Thiago Pereira de Souza tornou-se um legítimo líder no Grêmio. Convidado do Cardápio do Zé, atração esportiva da Rádio Gaúcha, o volante mostra otimismo para 2019, apesar das mexidas no elenco.
Aos 33 anos e com contrato por mais três temporadas, Maicon garante que o time de Renato Portaluppi chega forte para buscar títulos de expressão neste ano.
As mudanças
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As saídas de Douglas, Marcelo Grohe e Ramiro são consideradas perdas por Maicon, embora o capitão faça a ressalva de que os atletas que chegaram já sabem a maneira do Grêmio jogar e não devem alterar radicalmente o funcionamento da equipe, além de estarem já integrados naquilo que é o "espírito do grupo". Juntamente com Geromel, Marcelo Oliveira e Luan, o volante diz que forma o grupo dos "que sobreviveram", em uma alusão aos que eram titulares no time campeão da Copa do Brasil em 2016. Há de parte do capitão uma grande confiança tanto nos jogadores recentemente contratados como nos jovens que neste ano estão mais próximos da equipe principal.
— Quem saiu faz falta pelo entrosamento, mas estamos formando um grupo muito forte.
Na opinião de Maicon, o Grêmio não alterará sua maneira de jogar. Ele conta que, por muitas vezes, já ouviu que este grupo mudou o perfil do Grêmio, com um jogo de toque, valorizando a posse de bola e o componente técnico em detrimento da força.
— Esperamos não perder esta característica. Quem chegou tem uma maneira parecida de jogar. Nós dificilmente perdemos a bola, e quem tem a bola corre menos — justifica.
O recomeço
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Na avaliação do capitão gremista, algumas coisas não mudam no Grêmio na hora de iniciar uma temporada. A permanente ideia de ganhar todas as competições a serem disputadas – neste ano serão quatro – é um dos pontos de partida, mesmo que haja a necessidade de priorização de alguns jogos no decorrer das disputas. Ele salienta, porém, que deste a retomada de títulos (2016), os inícios de trabalho ficaram mais leves em termos de metas a serem atingidas.
— Os dois anos de muitas conquistas tiraram um peso que carregávamos antes. Isso cria uma tranquilidade maior.
Esta pressão menor está longe de significar, segundo Maicon, algum tipo de relaxamento, autossuficiência ou desmobilização.
— Vamos jogar quatro ou cinco competições para ganhar todas — resume.
Maicon se mantém cauteloso para projetar onde o Grêmio pode chegar em 2019. Lembrando as temporadas anteriores, sob o comando de Renato Portaluppi, ele acha difícil comparar.
— Cada ano tem a sua história e não podemos ficar nos escorando no passado. Quem chegou agora já sabe. Eles já conhecem o espírito do time, cujo pensamento é ganhar, ganhar e ganhar. Se você tem este pensamento, você vai ganhar.
Maicon por Maicon

O primeiro semestre de 2018 foi um dos melhores momentos de Maicon desde que chegou ao Grêmio, tanto que valeu uma indicação de Tite para estar entre os 35 jogadores pré-selecionados do Brasil para a Copa do Mundo. O volante reconhece isto e admite que a questão física em função de lesões o prejudicou na segunda metade da temporada, como havia acontecido em 2017. O projeto para este ano, porém, é garantir desde cedo um bom condicionamento.
— Estamos sujeitos a lesões. Não é questão de idade. Olha o Alisson, que já no primeiro jogo teve problema. Quero suportar a carga com uma boa pré-temporada. Quero jogar o ano inteiro sem nenhuma lesão.
Ele reconhece que suportar a série de jogos da temporada depende também de um entendimento com o treinador, como já vem ocorrendo nos últimos anos. Renato Portaluppi mantém com Maicon um diálogo permanente sobre este e outros assuntos.
O segredo do vestiário
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O que mais dá confiança a Maicon de que o ano do Grêmio será positivo é o ambiente do grupo. Líder do elenco junto com Pedro Geromel, o volante tem liberdade para tratar de assuntos com a presidência ou casos isolados com colegas. Foi assim quando Marinho se reapresentou e conversou com colegas e com Renato, foi chamado a atenção internamente e o caso do vídeo vazado nas férias passou a ser assunto superado no vestiário. O capitão garante que não há idade para os jogadores do Grêmio se manifestarem, mesmo que Renato valorize muito a experiência. Ele lembra da rápida adaptação de Arthur há dois anos e cita Jean Pyerre e Matheus Henrique como novos exemplos de evolução técnica e de postura.
— São dos jovens com potencial que pegaram um grupo formado, o que permite a eles amadurecerem. A gente conversa muito com eles para estarem preparados para tudo, desde a vibração, até as vaias. São todos meninos de cabeça boa.
A rivalidade Gre-Nal
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O primeiro Gre-Nal de 2019 está marcado somente para o dia 17 de março. Mas Maicon não foge do assunto. E revela: não ficará de fora da partida de maneira nenhuma. No último duelo, pelo segundo turno do Brasileirão de 2018, vencido pelo Inter no Beira-Rio, o volante foi preservado pela comissão técnica.
— Eu falei para o Renato que queria jogar, mas ele disse que eu estava machucado. Neste ano, não vou correr esse risco. Já vou falar para o Renato: "Antes do Gre-Nal, não quero jogar, para não me machucar e poder atuar".
A vontade de Maicon de se fazer presente no clássico tem explicação. O atleta não esquece o bate-boca público protagonizado por ele e Rodrigo Dourado após o último duelo entre os dois clubes. Na ocasião, o capitão colorado indagou por que Maicon não havia jogado e, um dia depois, ouviu a resposta do dono da braçadeira gremista: "Quem é Dourado?" Maicon descarta qualquer animosidade fora das quatro linhas, mas de uma coisa não abre mão:
— Mas as brincadeiras, as zoações, isso tem que existir, porque existe entre amigos. Imagina se você vai brigar toda vez com teu companheiro porque o time dele ganhou. Não desrespeitando a instituição do Internacional, mas a comemoração tem que ser feita. Senão, futebol não tem mais graça. A gente fala que tem saudade do Romário, Edmundo, Paulo Nunes porque o pau cantava e ninguém falava nada. Hoje tem muita bobeirinha. Ganhou, zoa e acabou. Quem perdeu, atura. Faz parte. Somos rivais, não inimigos.