O Grêmio coloca à prova contra o Botafogo, no Rio de Janeiro, a invencibilidade de sua defesa, que completa neste sábado um mês sem levar gols. O último foi contra o Avenida, no jogo de volta da semifinal do Gauchão, com a dupla e zaga formada por Bressan e Paulo Miranda, a mesma escalada no Engenhão, já que Renato poupará Geromel e Kannemann.
O último a superar a defesa gremista foi Diego Torres, meia de 31 anos que atuava no Avenida. A jogada foi de bola aérea e ocorreu aos 18 minutos do segundo tempo, em cobrança de escanteio de Itaqui na cabeça de Torres, que desviou no canto direito, fora do alcance de Paulo Victor. Hoje disputando a Divisão de Acesso pelo Esportivo de Bento Gonçalves, o meia lembra a dificuldade que teve para fazer aquele gol.
— A gente sabe o quanto é difícil enfrentar o Grêmio, já que não só a defesa, mas o time todo vive ótimo momento. A marcação vem lá de cima, o que faz com que a bola chegue mais mastigada para que os zagueiros façam o bote. O estilo de jogo é apoiado, com muita posse, o que torna ainda mais difícil fazer gol neles — avalia Torres.
Desde o gol do Avenida, a defesa do Grêmio está há 657 minutos, sem contar acréscimos, sem ser vazada. No caso da equipe titular, com Marcelo Grohe, Geromel e Kannemann em campo, o tempo sem gols é ainda maior: 750 minutos - o último gol foi de D'Alessandro em cobrança de falta no Gre-Nal de volta das quartas de final do Gauchão.
Outro fato comprova a solidez defensiva do Grêmio. Desde a partida contra o Vitória-BA, dia 18 de novembro de 2017, a zaga titular não sofre gol em jogada trabalhada pelo adversário. Desde então, sempre que o time foi vazado, o gol teve origem em bola parada, na forma de escanteio ou falta - a estatística não inclui os quatro jogos do time de transição, no início do Gauchão.
Naquela tarde, no Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul - a Arena havia sido cedida para o show da banda inglesa Coldplay -, o lance começou com David, que hoje atua no Cruzeiro. Fora da área, o atacante driblou Jailson e Kannemann e serviu a Patric, que venceu Paulo Victor com seu chute. O detalhe é que o autor do gol estava impedido.
Há quem apresente uma interpretação diferente dessa. O último gol em jogada combinada sofrido pelo Grêmio teria sido feito dia 7 de fevereiro, pelo Brasil-Pel. Aos 39 minutos, após cobrança de escanteio, Toty cruzou nos pés de Robério, que se antecipou a Geromel e chutou no ângulo de Marcelo Grohe.
Para o ex-zagueiro Adilson Batista, o êxito defensivo do Grêmio se explica, além da qualidade individual da zaga, pela sequência do trabalho. Ele volta no tempo e lembra que já sobravam méritos ao time montado por Roger Machado. Ainda que reconheça o trabalho do atual treinador do Palmeiras, o capitão do bi da América de 1995 destaca os ajustes defensivos implementados na equipe com a chegada de Renato Portaluppi.
— Tudo é resultado de conjunto, de treinamento. As coisas ficam mais fáceis quando os jogadores se conhecem. A recomposição defensiva é automática. Isso é fruto do trabalho do Renato — aponta.
O fiador de toda a excelência defensiva do Grêmio é Pedro Geromel, sintetiza Adilson. É o zagueiro contratado no final de 2013, depois de fazer em clubes da Europa quase toda a sua carreira, que comanda todo o sistema defensivo, avalia o ex-defensor. Em Kannemann, Adilson destaca aspectos como virilidade e firmeza. Em Geromel, ele vê muito mais:
— Ele tem percepção, boa saída, qualidade técnica, comando, capacidade de recuperação. Tem que ir para a Seleção.
Adilson só não arrisca dizer se a atual zaga do Grêmio é melhor do que a formada por ele e Rivarola, em 1995. Observa que a forma de jogar das equipes se alterou muito desde então.
— Só fico contente pelo reconhecimento que temos ainda hoje — agradece.
O grande momento da defesa do Grêmio também é saudado por Oberdan, ex-zagueiro campeão gaúcho de 1977 que formou dupla de zaga histórica com o uruguaio Ancheta. Sua análise é de que, pelo fato de ceder menos a posse ao adversário, o time expõe menos seu sistema defensivo.
— O sucesso não passa só pela defesa, mas também pela forma como o Renato faz o time jogar. A troca de passes em velocidade ajuda muito. Quanto mais você fica com a bola, menos chance tem de levar gol — entende Oberdan, que também comenta o encaixe de Geromel e Kannemann na zaga:
— A dupla está perfeita. O Geromel tem muita vontade de ganhar, ele mostra isso em campo. O Kannemann também tem este perfil. Quando joguei no Grêmio, eu também não aceitava perder, comandava a defesa com euforia. Isso acontece com eles também, são uma garantia de segurança no time. Ficar tanto tempo sem levar gol é muito difícil no futebol mundial.
Ainda que a defesa titular não esteja em campo neste sábado, caberá a Bressan e Paulo Miranda defenderem a invencibilidade da superdefesa do Grêmio.