Foi um sufoco inexplicável. O Lanús é uma equipe forte fisicamente, marca muito bem e não se abriu jamais. Foi preciso que brilhasse a estrela do técnico Renato. Ademais, sua competência já está conquistando o continente sul-americano. A meu juízo muito pessoal, futebol não se analisa somente pela qualidade técnica deste ou aquele jogador. De forma muito modesta, minhas afirmativas dizem respeito a 30 anos vivendo dentro de um clube da grandeza do Grêmio.
Campeonato não se conquista só com craques. Muitas variáveis decidem um jogo. Por isso, é no entendimento dos meandros da partida em campo que reside a competência de Renato. Duas substituições que fez foram decisivas para a vitória. Todos sabemos que Lucas Barrios tem mais técnica do que Jael, mas foi este último quem decidiu a parada. Na coluna de amanhã faço maiores considerações, deixando desde já minha lista dos melhores, pela ordem: o super Marcelo Grohe, Cícero e Jael. Queremos o tri e depois vamos acabar com o planeta!
Nuances da Libertadores
Uma competição tão importante quanto a Libertadores apresenta situações de bastidores – e algumas públicas – inesperadas. Vivi tantas circunstâncias atuando como dirigente que às vezes até me esqueço de algumas. Fatos que nos obrigaram a tomar decisões rápidas, sempre acreditando que o que estava sendo feito era o melhor para o clube.
Em 1995, houve um jogo muito acidentado contra o Palmeiras no saudoso Olímpico. A gremista veio num 5 a 0 inesquecível. Mas naquele jogo houve vários incidentes. Todos se lembram da expulsão de Rivaldo, do Palmeiras. Também do envolvimento do volante Dinho e do goleiro Danrlei com o meio-campista Valber fora do campo. Haveria ainda um segundo jogo em São Paulo contra o mesmo Palmeiras. Dinho e Valber tiveram seus nomes apostos em súmula pelo árbitro da partida. Foram penalizados com suspensão pela Conmebol e ficaram de fora da partida seguinte. Danrlei não recebeu punição.
Punição sorrateira
Preparamos a viagem com todos os cuidados de logística para que o Grêmio voltasse classificado. A torcida estava eufórica diante dos 5 a 0. Respeitando o Palmeiras, que à época era uma seleção, trabalhamos com o objetivo de proporcionar aos nossos atletas todas as condições.
Ao descermos do avião, na capital paulista, fui notificado, como vice de futebol, que o nosso goleiro Danrlei havia sido punido sorrateiramente, na calada da noite, e estava fora da partida. Foi uma comoção generalizada, pela forma como o assunto foi conduzido. Nos restava cumprir. Neste momento, tentamos de todas as maneiras não permitir que tal determinação se tornasse pública, mas era tarde.
O goleiro reserva era Murilo, também excelente, mas estava com uma fratura em uma das mãos, o que tivemos sucesso em manter em sigilo.
Triunfo da coragem
Com todos os prejuízos físicos e pessoais, mesmo tendo sofrido cinco gols, Murilo protagonizou uma bela atuação. Fomos, mais uma vez, prejudicados pela arbitragem, que validou dois gols irregulares do Palmeiras. No banco de reservas, a partir do quinto gol palmeirense, eu e o professor Paulo Paixão nos abraçamos ajoelhados e entregamos o destino a Deus. Mas o Senhor recebeu preciosa ajuda dos valentes e competentes atletas, que garantiram a almejada classificação.
Tenho um filho que, sempre que o Grêmio enfrenta dificuldades e as ultrapassa, grita:
– Isso é GRÊMIO, não esqueçam jamais.
O resultado final daquele campeonato todos sabem: Grêmio bicampeão da América.