Foram meses de tratamentos, desconfiança e pouco futebol. Nove meses depois de ser contratado pelo Grêmio e conviver com uma sequência de lesões, Beto da Silva finalmente tem a perspectiva de dias melhores. Aos poucos, ganha espaço no time de Renato Portaluppi e, ao mesmo tempo, acompanhou a seleção peruana conseguir uma vaga na repescagem para a Copa do Mundo diante da Nova Zelândia.
O meia-atacante é filho de pai brasileiro e mãe peruana. Na adolescência, passou pela base do Grêmio e fez até treinos na escolinha do Inter. A carreira profissional começou no Sporting Cristal com apenas 16 anos e seguiu na Europa, logo após completar 20. No PSV, da Holanda, desenvolveu características que podem se tornar fundamentais para o sucesso individual na Arena: a recomposição e aplicação tática, úteis para quem ganhar a chance de substituir as tarefas de Pedro Rocha.
Você foi criado no Brasil, depois morou no Peru. Em qual país você sente mais em casa?
Eu vivi mais tempo no Peru, tenho mais familiares no Peru. Lá eu me sinto muito bem. Mas eu também sempre gostei de morar aqui no Brasil, tenho muitos amigos. Estou feliz aqui.
Como foi a decisão de jogar pela seleção peruana?
Eu sou peruano, nasci lá. Me considero peruano, meu sonho desde sempre foi jogar na seleção peruana. Por isso eu escolhi atuar lá.
Você jogou na base do Grêmio e até fez treinos no Inter. Como foi este momento?
Eu cheguei a ir a alguns treinos de escolinha (do Inter) no tempo de infância. Mas jogar mesmo, foi no Grêmio. Foram três anos. Foi bom, eu aprendi muito aqui no Grêmio, a base é forte. O meu desempenho melhorou muito. Depois, eu fui direto para o Sporting Cristal, que foi onde começou tudo na minha carreira profissional e algum tempo da base também.
A adaptação na Holanda foi complicada?
Bem diferente o idioma, até mesmo o clima. O futebol também é bem diferente. Mas eu acho que a adaptação foi boa, também aprendi muitas coisas lá. No começo, foi um pouco difícil por causa do estilo de jogo deles, mas depois eu consegui pegar o ritmo. Nos jogos que eu fiz, fui bem. Consegui demonstrar muito do meu potencial lá.
Como foi o aprendizado do futebol mais tático na Europa?
Eles são muito aplicados taticamente. Às vezes, eles até dão mais importância para o jogador tático do que para um que pega a bola, encara o adversário. É muito tático, tive que aprender muito, além de saber lidar com a ida e volta, que eles pedem muito.
No esquema do Renato, em qual posição você se sente mais confortável?
Eu gosto de jogar por fora ou atrás do atacante. Eu me sinto melhor. Não me considero um nove de área, mas eu também sei jogar ali. Se precisar, estou à disposição, mas a minha posição de origem é mais por fora ou atrás do atacante.
Essa experiência tática na Europa pode ajudar a cumprir a função que o Pedro Rocha fazia no Grêmio?
Essa é a minha ideia. Eu cheguei aqui nesta posição. Nos três do meio, o Renato me colocava nesta posição, que eu ainda não tive oportunidade de jogar. Mas é a minha posição de origem, eu sei fazê-la muito bem. Com o tempo, quem sabe, vou receber a minha oportunidade.
Partiu de você a decisão de voltar à América do Sul?
Foi uma decisão minha com o meu pai. Eu queria muito voltar para o Grêmio, conhecia muito bem e gostava daqui. Eu sei que é um grande clube, é um clube campeão do mundo. Eu sabia que, se conseguisse jogar bem aqui, eu conseguiria ser um jogador muito importante. Minha ideia era vir, jogar aqui e ir para a seleção peruana.
O Grêmio mudou muito em termos de estrutura desde a sua primeira passagem, lá na base?
Mudou, mudou bastante. Mas mudou para melhor. Hoje em dia, o Grêmio tem uma estrutura das melhores. O jogador que vai lá todo dia para treinar e jogar se sente muito bem, porque sabe que tem uma das melhores estruturas.
Como foi este período com a sequência de lesões?
Foi bem difícil, porque eu não estava acostumado, nunca tinha passado por isso. Tive que ter muita paciência e saber que seria complicado. Foi muito tempo, mas graças a Deus eu consegui me recuperar. Agora, estou aí de novo. Quero poder ajudar a equipe, que é o mais importante.
Agora você está conseguindo se firmar e jogar mais. É um sentimento de alívio?
É isso que eu fico pensando. Fico pensando que eu não joguei, mas agora estou bem, estou saudável. Consigo treinar de novo, e isso é o mais importante, é sempre estar à disposição.
Quais são os seus melhores amigos no elenco e como é a relação com o grupo?
Eu tenho muitos grandes amigos, o Barrios é um deles. Agora também tem o Arroyo. Até por causa do idioma, nós temos uma relação muito boa. Mas o grupo é muito bom, todo mundo é amigo de todo mundo. Eu converso com todo mundo, todo mundo sempre me ajudou de alguma maneira. Sou agradecido a eles.
Você fez jogos pelo time de transição e com os reservas. Como foram essas experiências?
Foi importante para a minha volta. Na transição, o ritmo que eles jogam também é muito bom, é intenso. Me ajudou muito para perder o medo, para ganhar confiança. O professor Renato me pediu para jogar lá para ganhar essa confiança. Agradeço a oportunidade de ter jogado lá, porque eu sei que me ajudou muito.
Como está a tua readaptação a Porto Alegre?
Aqui no Brasil, morei sempre em Porto Alegre. Para mim, é bem tranquilo. Agora estou morando com a minha família, com minha mulher e meu filho. Eles gostam daqui também.
Como o seu filho ajudou no retorno às atividades?
Foi uma bênção para mim. Acho até que aquele gol (contra o Fluminense) foi por causa dele. Desde que ele chegou, minha vida mudou bastante, eu não tinha morado com eles ainda. Eu aprendo muito a cada dia, agora sou pai, então muita coisa muda para melhor.
Você ainda planeja uma volta ao futebol europeu?
Sim, é para isso também que eu decidi vir para o Grêmio. Para jogar num grande campeonato, muito forte, que é o Campeonato Brasileiro. Poder demonstrar que eu posso voltar para a Europa, quem sabe, no futuro. Mas a minha ideia agora é jogar aqui no Grêmio, mostrar aqui no Grêmio, se Deus quiser ganhar a Libertadores e conquistar muitos títulos.
Você ainda tem contrato até 2020. Quais os seus planos no Grêmio para este período?
Eu quero logo me firmar como titular, conquistar muitos títulos. Seria um sonho. Conquistar títulos, ir para a seleção também, fazer muitos gols e dar muitas alegrias para a torcida.
O Grêmio teve uma queda de rendimento nas últimas semanas. Tem algum clima de preocupação no vestiário com essa série ruim no Brasileirão?
Nós conversamos, mas sabemos que não poderíamos contar com todo mundo o ano todo, porque nós jogamos muitos campeonatos. É bem difícil. São lesões, o cansaço também de alguns jogadores. Nós fomos um dos únicos times que jogaram tantos campeonatos. O time tem que mudar muito os jogadores. Agora eles (os lesionados) estão voltando e vão poder nos ajudar de novo. O time está bem, não podemos perder o foco.
As derrotas no Brasileirão podem ter influência no desempenho na Libertadores?
É uma competição diferente, nós já viramos a página do último jogo. Infelizmente, nós perdemos, mas vamos treinar pensando no jogo da Libertadores como nós sempre pensamos, porque é um torneio muito forte. Mas nós sabemos que também temos que pensar no Brasileiro. É muito importante ficar pelo menos entre os três primeiros, porque nós sabemos que o líder está bem longe. Temos que focar também no Brasileiro e, se Deus quiser, poder ganhar a Libertadores, que é o mais importante.
Vocês já começaram a estudar o Barcelona de Guayaquil?
Nós já conhecemos alguns jogadores deles. Até o Arroyo, que conhece alguns, já indicou quem é perigoso e com quem temos que ter cuidado. Sabemos que é um time de grandes jogadores e temos que estar atentos, porque vai ser um jogo bem complicado.
Você ainda não viu o Peru jogar uma Copa, a última foi em 1982 e você nasceu apenas 14 anos depois. Como é ter a chance de poder ver o seu país na Copa pela primeira vez?
É um sonho, você pode ver como nós comemoramos a classificação para a repescagem depois de muito tempo. Foi bem difícil, nós tivemos um processo muito longo para isso acontecer. Estou muito feliz de estarmos na situação em que estamos, poder brigar com a Nova Zelândia agora. Se Deus quiser, vamos conseguir e vamos realizar este sonho.