Vou contar aqui uma mania que tenho: quando vou a aniversário de gremista, como ocorreu recentemente no do amigão Sílvio Bressan, procuro dar algo do Grêmio, com a marca oficial do clube, claro. É uma forma de, ao mesmo tempo, presentear com algo legal e ajudar o meu Tricolor. O Sílvio, baita jornalista, vive em São Paulo, onde percorre grande trajetória profissional, mas gosta de vir pra cá celebrar com os amigos, entre os quais tenho a honra de estar incluído. O que dei pra ele? Uma camiseta preta com linda ilustração alusiva ao nosso Penta.
Faço essa introdução para dizer que um cara como eu não entente a permissividade em relação àquela proliferação de pirataria no entorno da Arena - deve ser o mesmo no entorno do Beira-Rio. Ora, onde estão os poderes públicos para deter esse avanço da economia informal nas barbas das autoridades, dos torcedores, da imprensa, de todos?
Andei conversando sobre isso com meu amigo Beto Carvalho, o homem do marketing gremista. E o Beto disse que tenta alertar as autoridades, mas que elas nada fazem. Aí, perguntei ao Beto se ele tem os números de um prejuízo presumido. Ele não tem. Só sabe que é muito grande.
- Quantificadamente, não. Mas, qualificadamente, sim. Imenso.
Essa foi a resposta do Beto.
Claro, a verdade é que na própria Rua da Praia os lojistas convivem com o comércio informal. Só que, pelo menos, os produtos podem ser outros.
Fico pensando também no sujeito que paga aluguel e imposto pra ter sua lojinha no estádio. É saída social para pessoas sob risco social que buscam na informalidade um ganha-pão? Ora, claro que é necessário pensar nisso. Mas poderia haver uma mínima divisão do que é oficial para outros tipos de produto.
Pô, gente. Falo aqui com as autoridades e, também, com os torcedores. Tchê, ao consumir pirataria, você prejudica a sociedade como um todo e, muito em especial, seu próprio clube do coração. Percebe que asneira você faz?!
...
Aproveito a puxada de orelha no poder público para repetir texto que andei fazendo sobre a compra da gestão do nosso espetacular estádio.
Acordem: essa amarração prejudica muito a cidade e a comunidade local.
Aqui o texto:
A forma limitada com que o futebol costuma ser visto em razão dos clubismos e rivalidades nos impede de enxergar algo que transcende tudo isso: a eventual compra da gestão da Arena do Grêmio pelo clube é tema de altíssimo interesse social e urbanístico para o bem da própria capital gaúcha. Andei escrevendo texto no qual mostrava como tanto Grêmio quanto Inter acertaram ao erguer um estádio novo (no caso gremista) e reformar o antigo (caso colorado). Cada um com suas circunstâncias, fizeram o que deveria ser feito e, conforme seus contextos, têm os respectivos ônus resultantes das contraprestações naturais a serem pagas às empreiteiras OAS e Andrade Gutierres (AG).
Mas e a questão social, onde fica?
Ora, a rivalidade não nos permite ver o óbvio: ao erguer aquela fantástica Arena em meio a precários bairros periféricos de Porto Alegre, o Grêmio expande a cidade e dá novas perspectivas para aquelas comunidades pobres em um lugar, às margens da Rodovia do Parque, com altíssimo potencial para ser deslumbrante como o estádio. Só que, com a OAS em situação falimentar, ficam comprometidos a manutenção do estádio e, muito em especial, as socialmente relevantíssimas melhorias no entorno. Há quem diga que, para o Grêmio, real e indiscutível dono da sua arena, fica até mais cômodo deixar com a OAS os custos de manter o estádio e abri-lo em dias de jogo, sempre a custo altíssimo. Só que o clube quer tomar conta da gestão plena, porque a própria torcida deseja isso e porque, ora, é bom se adonar de todas as decisões na própria casa.
Nesta sexta-feira, ao que tudo indica, o Grêmio dirá oficialmente que não moverá mais uma palha para fechar o contrato de compra da gestão. Está corretíssimo! As idas e vindas parecem intermináveis, o clube sempre interessado, os bancos negaceando e a OAS atrasando pagamentos e cumprimentos contratuais – o que, aliás, leva à convicção de que há uma quebra passível de punição e até rompimento judicial. Se a torcida do clube, com a impaciência típica da paixão, angustia-se por uma solução imediata e se esquece da serenidade necessária nesse tipo de negociação complexa, imagina aquela população pobre, sejam gremistas ou colorados. O que pensam de tudo isso? Como lamentam cada frustração? Muito mais que os compradores dos prédios sem habite-se, são essas as pessoas que mais sofrem ao verem estancados seus sonhos de viver em um lugar melhor.
Por isso, é uma pena o Grêmio se ver obrigado a encerrar o diálogo.
E mais lamentável ainda é que os bancos não se dignem a concluí-lo e o próprio Ministério Público imponha empecilhos sempre que quase tudo está resolvido para o desenlace.
Clubismos? Falta de sensibilidade social? Pura tacanhez?
Tudo muito lamentável.