Na rasa e por vezes lamentável rivalidade Gre-Nal, a sanha por sobrepujar o outro é tão grande que, quando falamos sobre os nossos lindos estádios, todos se tornam especialistas em engenharia e direito societário.
Pois bem, esse tema complexo pode ser tratado de forma bem mais simples naquilo que vem ao caso.
E o que vem ao caso? Ora, tanto o meu Grêmio quanto o Inter são donos dos seus estádios, e ambos fizeram, dentro dos seus contextos, o que deveria ser feito. A OAS e a AG têm participações nos dois? Natural.
Falemos o óbvio, então:
1) A Arena é um estádio novo e deslumbrante. Foi construído, e não reformado. O Olímpico já não tinha futuro. Além do desconfortável e perigoso balanço nas arquibancadas, lá na Azenha não tinha como se expandir. Aliás, nós, gremistas, temos tendência ao negativismo: quando comparamos a atual localização da nossa casa com outro local, não é o do Beira-Rio, que sempre foi privilegiado pela sua beleza (inclusive em relação ao Olímpico), mas a Azenha. Ora, por favor, eu já estou acostumado a chegar ao meu estádio pela AJ Renner e curto demais pegar a Rodovia do Parque olhando com profundo pertencimento aquela minha belezura. O Grêmio, com aquele monumento arquitetônico e naquele local, tende a crescer e se popularizar ainda mais, desbravando e expandindo a nossa cidade. O clube, quando assumir a gestão, poderá explorar aquele estádio que é um fabuloso shopping center. Quando Paulo Odone ergueu a Arena, estava fazendo o que tinha de ser feito para o futuro do Grêmio. Quando Fábio Koff segurou a chave do Olímpico, permitiu-nos ter um contrato mais justo. Adversários na política interna do clube, a ironia é de que fizeram um trabalho a quatro mãos, mesmo que de forma involuntária. Agora, o meu amigo Nestor Hein tem sido um leão ao destravar a compra da gestão, o que seria muito bom. Mas, se a OAS tiver de continuar nessa atual gestão terceirizada por mais 15 anos, suas obrigações contratuais são de manutenção impecável do nosso complexo arquitetônico e urbanização do seu entorno. Caso não faça isso, a porta de saída é serventia da casa, por simples e óbvia quebra de contrato. O contexto é esse, e é natural que, para ter seu rutilante estádio novo, o estádio mais fantástico em que já pisei (e olha que já fui a muitos...), o Grêmio tenha um ônus mais pesado do que o de quem fez uma reforma.
2) O Beira-Rio, um belo cartão postal na linda paisagem do Guaíba (aliás, com a nossa Arena onde está, esse privilégio paisagístico já não é exclusivo...), foi reformado, acertadamente. Repito: o Inter também fez o certo. Seu belo estádio já estava em um local adequado para se expandir e para mirar o futuro. O clube não precisaria arcar com um ônus pesado como o nosso. É mais um truísmo que me vejo obrigado a dizer aqui. Mas evidentemente, apesar de ter se aproveitado da urgência de uma Copa do Mundo (e da ansiedade que a presidente Dilma Rousseff teve, muito mais para resolver logo a questão às vésperas da competição planetária do que por ser colorada), a Andrade Gutierres não é o Papai Noel. Tem propriedade de parte relevante do estádio e exige uma série de compromissos do Inter, como em qualquer contrato de parceria. Mas aí entra um detalhe: é evidente que, por um estádio que foi reformado e não erguido desde os alicerces, qualquer possibilidade de compra da gestão plena é muito mais simples que as negociações promovidas pelo Grêmio. Claro, o Inter precisará ter de onde tirar o dinheiro para resolver essa pendenga bem mais simples – mas, enfim, deve ser de mais simples resolução no momento em que a AG quer vender sua parte. E a parceria deve ser vista como natural. A do Grêmio inclui o Olímpico. Quando pensamos na Arena e nos negócios que a envolvem, o Olímpico e seu terreno fazem parte do complexo em discussão e do compartilhamento entre clube e empreiteira. E o Grêmio, por méritos inequívocos de Fábio Koff, manteve a chave do antigo estádio, o que torna a situação equivalente a uma posse compartilhada do conjunto todo. Mas o fato é que a situação do Inter é mais simples, e isso deve ser motivo de alegria para os colorados. Só que, gente, a Arena merece todo o esforço do meu amigo Nestor e todo o investimento ali feito diariamente, seja no aspecto pecuniário ou no aspecto emocional. Porque ela é fantástica!
Dito isso, analisando a platitude das duas situações, a conclusão deste jornalista é a seguinte: estádio novo requer investimento maior e resulta em ônus mais pesado; estádio reformado (e isso não é demérito, é o que tinha de ser feito) requer investimento menor e ônus mais leve. Cada um com suas circunstâncias.
E agora, já que o espaço é gremista, vem a opinião deste tricolor apaixonado: vale muito a pena! Amo aquela Arena já batizada pelo Penta. Frequento com meus filhos e já fizemos dela um porto afetivo da família. Meu filho mais velho, aliás, sempre me disse que a Arena tem toda a nossa história, porque a alma da Baixada e do Olímpico se incorporou a ela, assim como evidentemente a do Eucaliptos está lá na Padre Cacique. Tenho imenso orgulho! E digo ao meu amigo Nestor e, claro, ao presidente Romildo Bolzan: sigam em frente na brava luta para mantermos a situação mais adequada aos nossos interesses, com serenidade e perseverança. O tempo corre a nosso favor, e o objeto de tantos esforços e desgastes é um estádio absolutamente deslumbrante e inigualável, que foi erguido para nos dar grandes alegrias, como vimos em 2016.