A forma limitada com que o futebol costuma ser visto em razão dos clubismos e rivalidades nos impede de enxergar algo que transcende tudo isso: a eventual compra da gestão da Arena do Grêmio pelo clube é tema de altíssimo interesse social e urbanístico para o bem da própria capital gaúcha. Andei escrevendo texto no qual mostrava como tanto Grêmio quanto Inter acertaram ao erguer um estádio novo (no caso gremista) e reformar o antigo (caso colorado). Cada um com suas circunstâncias, fizeram o que deveria ser feito e, conforme seus contextos, têm os respectivos ônus resultantes das contraprestações naturais a serem pagas às empreiteiras OAS e Andrade Gutierres (AG).
Mas e a questão social, onde fica?
Ora, a rivalidade não nos permite ver o óbvio: ao erguer aquela fantástica Arena em meio a precários bairros periféricos de Porto Alegre, o Grêmio expande a cidade e dá novas perspectivas para aquelas comunidades pobres em um lugar, às margens da Rodovia do Parque, com altíssimo potencial para ser deslumbrante como o estádio. Só que, com a OAS em situação falimentar, ficam comprometidos a manutenção do estádio e, muito em especial, as socialmente relevantíssimas melhorias no entorno. Há quem diga que, para o Grêmio, real e indiscutível dono da sua arena, fica até mais cômodo deixar com a OAS os custos de manter o estádio e abri-lo em dias de jogo, sempre a custo altíssimo. Só que o clube quer tomar conta da gestão plena, porque a própria torcida deseja isso e porque, ora, é bom se adonar de todas as decisões na própria casa.
Nesta sexta-feira, ao que tudo indica, o Grêmio dirá oficialmente que não moverá mais uma palha para fechar o contrato de compra da gestão. Está corretíssimo! As idas e vindas parecem intermináveis, o clube sempre interessado, os bancos negaceando e a OAS atrasando pagamentos e cumprimentos contratuais – o que, aliás, leva à convicção de que há uma quebra passível de punição e até rompimento judicial. Se a torcida do clube, com a impaciência típica da paixão, angustia-se por uma solução imediata e se esquece da serenidade necessária nesse tipo de negociação complexa, imagina aquela população pobre, sejam gremistas ou colorados. O que pensam de tudo isso? Como lamentam cada frustração? Muito mais que os compradores dos prédios sem habite-se, são essas as pessoas que mais sofrem ao verem estancados seus sonhos de viver em um lugar melhor.
Por isso, é uma pena o Grêmio se ver obrigado a encerrar o diálogo.
E mais lamentável ainda é que os bancos não se dignem a concluí-lo e o próprio Ministério Público imponha empecilhos sempre que quase tudo está resolvido para o desenlace.
Clubismos? Falta de sensibilidade social? Pura tacanhez?
Tudo muito lamentável.