A Máfia Tricolor, torcida organizada do Grêmio, emitiu na noite de quarta-feira uma nota oficial em que relata desrespeito e perseguição das autoridades de seguranças com os torcedores antes do clássico Gre-Nal de domingo.
Segundo a publicação, os torcedores ligados à Máfia passaram pela segurança, entregaram os ingressos comprados por R$ 80 e foram informados de que não poderiam entrar no Beira-Rio por conta de estarem uniformizados com roupas que identificam a organizada.
– Tal procedimento é, no mínimo, estranho e mais parece uma "higienização" dos estádios de futebol. O mesmo seria aceitável caso a Máfia Tricolor estivesse envolvida em ao menos um dos incontáveis casos de confrontos entre torcidas do Grêmio nos últimos meses. Desafiamos qualquer cidadão a encontrar o nome de nossa entidade envolvido em confusão – diz a nota.
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Um outro ponto também foi abordado pela torcida. De acordo com o comunicado, como a Brigada Militar impediu que eles entrassem com qualquer roupa que fizesse referência à Máfia, bonés, abrigos e camisas foram tiradas. Um torcedor, no entanto, estava com uma calça e não teria sido autorizado a ir no banheiro para que ela fosse desvirada – opção dada pela BM.
– Ao interpelarmos sobre a impossibilidade da retirada da calça, foi exigido que o rapaz a virasse do avesso. Os mesmos policiais não permitiram que o torcedor fosse até um banheiro para tal procedimento, tendo ele que se despir na frente dos demais torcedores, gerando constrangimento. Após atendida a exigência da Brigada Militar, os policiais intimidaram o torcedor, falando que o mesmo seria preso por desobediência caso desvirasse a calça dentro do estádio. O jovem ainda foi obrigado a fornecer nome completo, número de documento de identidade e telefone.
Em contato com Zero Hora, o tenente-coronel Rogério Stumpf, comandante do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, afirma que a Máfia Tricolor não poderia entrar com identificação no estádio por não ser reconhecida como torcida organizada pelo clube. Segundo Stumpf, a Máfia não participou das reuniões ocorridas antes do clássico para definir os procedimentos durante a realização do comboio.
– A Máfia não é reconhecida pelo Grêmio e não participa das reuniões conosco. Para ser organizada, cabe ao clube o reconhecimento, como devido cadastramento. Para a Brigada Militar, é uma torcida que não está cadastrada. Por isso, não identificamos como organizada. Enquanto não tiver o cadastro reconhecido, não será tratada como organizada – afirma Stumpf.
O Ministério Público, através de Márcio Bressani, responsável pela Promotoria do Torcedor, esclarece que recebeu apenas fichas de alguns integrantes da Máfia. Mas afirma que a Máfia só poderá ser reconhecida como organizada após ser chancelada pela diretoria do Grêmio.
– Estamos tratando do interesse de uma minoria, que se sente prejudicada. É pleno, legítimo, que queiram ser representados. Mas não é uma torcida reconhecida pelo clube. Nenhuma organizada pode ser mais valorada que o clube. Não houve determinação do MP para barrar. O BOE adotou um critério lógico. Que somente as torcidas organizadas reconhecidas poderiam levar uma faixa para o estádio visitante – afirmou Bressani, que também disse que a Máfia não participou das reuniões prévias do clássico com a Brigada Militar:
– Ainda que participasse das reuniões, não é uma torcida reconhecida pelo Grêmio. Não podemos ficar reféns da pretensão de um grupo. Eles privilegiam a si próprios mais do que a instituição ou ao clube. O reconhecimento da torcida não é feito pelo Ministério Público, mas sim pelo clube. E não há informação de que o Grêmio reconheça.
Confira a nota oficial emitida pela Máfia Tricolor:
"NÃO SE MANIFESTE, NÃO TORÇA, NÃO EXISTA!
A Torcida Máfia Tricolor vem a público declarar o flagrante desrespeito e perseguição das autoridades de segurança, que parecem não conhecer limites. No clássico Grenal 410, disputado no último domingo, 3 de julho de 2016, no Estádio Beira-Rio, nos deslocamos de maneira organizada e ordeira, respeitando todas as normas pré-estabelecidas pelas autoridades, e divulgadas durante a semana: saindo da Arena do Grêmio juntamente com o restante da torcida tricolor. No entanto, o tratamento com nossa entidade foi lamentável. Vamos aos fatos:
DESRESPEITO
Na chegada ao Beira-Rio, nos colocamos em fila para a revista dos seguranças privados, verificação de ingressos e, por fim, revista da Brigada Militar. Fomos revistados pela segurança, passamos tranquilamente nossos ingressos - os quais pagamos a fortuna de 80 reais - nos leitores e, ao sermos revistados pela BM, fomos comunicados que não entraríamos no estádio por estarmos vestindo os uniformes da nossa agremiação.
Ao interpelar o Capitão Prietto da Brigada Militar - que comandava a operação de acesso ao estádio - sobre tal procedimento, o mesmo declarou que obedecia ordens do Ministério Público, referindo-se à Promotoria do Torcedor, encarregada das decisões referentes às torcidas organizadas.
INJUSTIÇA
Ora, o Promotor Márcio Bressani manifestou-se no dia em que recebeu os cadastros da Máfia - conforme previsto no estatuto do torcedor -, dizendo que não havia problema algum de os componentes frequentarem praças esportivas de modo uniformizado, prática que facilita a identificação. A única proibição se dava em relação aos materiais e adereços, por conta do reconhecimento retirado pelo clube, em decisão extremamente política.
Tal procedimento é no mínimo estranho e mais parece uma "higienização" dos estádios de futebol. O mesmo seria aceitável caso a Máfia Tricolor estivesse envolvida em ao menos um dos incontáveis casos de confrontos entre torcidas do Grêmio nos últimos meses. Desafiamos qualquer cidadão a encontrar o nome de nossa entidade envolvido em confusão.
Muito pelo contrário. Quem pesquisar, descobrirá nossa capacidade de fazer o bem e arrecadar uma tonelada e meia de doações para desabrigados.
AUTORITARISMO E CONSTRANGIMENTO
Diante deste contexto, nos parece que algumas pessoas ainda possuem resquícios do comportamento daquele período sombrio que assolou nosso país entre 1964 e 1985 através da imposição e do autoritarismo.
Nossos torcedores foram retirados da área habitada pelos demais gremistas e comunicados de que não entrariam no Beira-Rio. Um diretor do Departamento do Torcedor Gremista questionou o procedimento enquanto ficamos isolados, sofrendo intimidações dos policiais.
Após a conversa, a Brigada se manifestou dizendo que só entraríamos sem as vestimentas da torcida, nos privando da utilização de bonés, abrigos, camisas e,pasmem, a calça de um dos torcedores. Ao interpelarmos sobre a impossibilidade da retirada da calça, foi exigido que o rapaz a virasse do avesso. Os mesmos policiais não permitiram que o torcedor fosse até um banheiro para tal procedimento, tendo ele que se despir na frente dos demais torcedores, gerando constrangimento.
Após atendida a exigência da Brigada Militar, os policiais intimidaram o torcedor, falando que o mesmo seria preso por desobediência caso desvirasse a calça dentro do estádio. O jovem ainda foi obrigado a fornecer nome completo, número de documento de identidade e telefone.
CURIOSIDADE
Também foi proibida a entrada de um trapo de menos de DOIS metros escrito "1995", em clara menção ao último título continental conquistado pelo clube. O curioso é que todos os outros trapos da torcida gremista adentraram o estádio, e qualquer foto da torcida do Grêmio confirma tal fato. Existe alguma explicação?
EXIGIMOS RESPOSTA
Alguma instituição tem que responder sobre estes procedimentos inéditos na história do futebol gaúcho e sobre quem determinou a execução deles.
Se havia alguma mudança relacionada ao trato com a Máfia Tricolor, porque as autoridades de segurança não notificaram a nossa torcida? Todos eles possuem nossos contatos e sempre nos colocamos disponíveis às conversas sobre nossa atuação nos estádios.
Já comunicamos, desde já, que como sempre aconteceu, estamos prontos para a repressão e a perseguição pelo simples fato de exigir nossos direitos, que foram violados, tanto coletiva como individualmente. Qualquer dúvida que houver sobre estes acontecimentos, o Beira-rio possui inúmeras câmeras de segurança que podem confirmar todos os fatos. Também agradecemos pelo suporte dado pelo DTG nesta situação através do diálogo junto a Brigada e pelo encaminhamento dos nossos materiais que não foram permitidos de adentrar.
PRIMEIRO PROIBIRAM DE NOS MANIFESTAR, DEPOIS DE TORCER, E AGORA NOS PARECE QUE A ORDEM É CLARA: NÃO DEIXAR A NOSSA TORCIDA EXISTIR.
ATÉ QUANDO?"