Uma geração inteira de brasileiros está condenada às lembranças sombrias do fatídico 7 a 1 amargado pelo Brasil na Copa do Mundo em que ciceroneamos, com muito samba e tapinha nas costas, seleções de futebol de todo o planeta. Há quem credite a mais vexatória goleada da nossa história a um sistema inovador de jogo, a uma hipotética reinvenção do futebol, a um aclamado "futebol moderno que o Brasil não sabe praticar" e que a Alemanha teria deflagrado em nossos gramados. Balela. A Alemanha venceu a Copa porque empilhou volantes de contenção. Todas as suas vitórias foram acres, sofridas e difíceis - à exceção do jogo contra o Brasil -, como aliás precisa ser o futebol. Vejam os craques alemães, que nunca foram os atacantes: Kroos, Schweinsteiger e, o melhor deles, Sami Khedira. Todos volantes.
O jogo de futebol é difícil, estratégico, truncado. É emocionante e cheio de percalços, com glória redentora no final. Uma metáfora perfeita da vida, como escreveu o Peninha. Aquele espetáculo circense com pedaladas para trás, calcanhar e futebol-arte é um pseudo-futebol praticado e defendido por gente que não entende nada deste esporte. E o volante, neste contexto, é a peça mais importante para qualquer time.
Vejamos o exemplo do Grêmio, que tem em Edinho um símbolo da redenção do time nas mãos de Roger: com Felipão, Edinho nem fardava, assistindo resignado ao fracasso de uma meia-cancha que, muitas vezes, começou pelo Ramiro. Repare na diferença: Edinho confere as travas antes do jogo, Ramiro o topete; Edinho tem tatuagens nas mãos, Ramiro passa creme para amaciá-las; Edinho acorda e não escova os dentes para baforar no pescoço daquele meia ciscador, Ramiro desperta e come cereais. Ramiro é o genro dos sonhos, Edinho é um homem mau. Há, portanto, um abismo conceitual entre ambos para muito além dos 30 centímetros de altura que os distanciam fisicamente.
Quando Roger postou Edinho à sombra dos zagueiros, nenhum atacante mais ousou adentrar a área do Grêmio sem mostrar sua carteira de identidade. Como resultado, o time cresceu. Nada contra o Ramiro, que pode até contribuir como um coadjuvante no corredor direito deste time do Grêmio. Mas, me desculpem os admiradores desta Seleção Belga faceira, que nunca ganhou nada e que hoje lidera o Ranking da Fifa: um volante à moda antiga é fundamental. Que o diga Sami Khedira. Que o diga o espetacular Edinho.