O enredo é conhecido por todos. Dez anos se passaram desde aquela tarde em Recife, onde o impossível se manifestou no Estádio dos Aflitos. Contra o Náutico, o Grêmio jogava a vida. Final do segundo tempo. Depois de escapar de um pênalti, a bola acerta o braço de Nunes dentro da área.
O árbitro Djalma Beltrami viu, erradamente, um pênalti. Indignação. Raiva. 25 minutos de fúria tricolor, até que o tiro penal fosse cobrado. E o milagre surgisse pelos pés de Galatto e, depois, pelo gol de Anderson. O Grêmio deixava definitivamente o horror da Segunda Divisão.
Diogo Olivier: a Batalha dos Aflitos mostra a sabedoria da torcida
Movido pela indignação, o Tricolor superou o inferno e reafirmou seu epíteto de Imortal. Porém, passados 10 anos, o que aconteceu com aquela indignação? Ano após ano, o Grêmio, ao mesmo tempo em que faz boas campanhas, acaba falhando no momento capital. Aquele espírito dos Aflitos até ressurgiu em 2007, quando aplicamos um quase improvável 4 a 0 no Caxias e superamos três fases na Libertadores à custa de sofrimento. Mas na hora H, faltou futebol, ânimo, raça. E, assim, acumulamos tropeços sucessivos em todas as grandes competições.
Do desespero à euforia: após 10 anos, personagens relembram a Batalha dos Aflitos
Exemplo disso aconteceu novamente em 2015. Mesmo com o grande trabalho do técnico Roger Machado, que levou o Grêmio mais longe do que muitos esperavam, a equipe não demonstra força de reação nos momentos-chave. Foi assim contra o Fluminense na Copa do Brasil. Foi assim contra o Inter no Beira-Rio, no jogo que poderia sacramentar a classificação à Libertadores. Onde está a indignação dos jogadores? Onde está aquele espírito de jamais desistir? O que se vê, em muitas partidas, há muitos anos, é uma postura passiva e indolente dos jogadores. E o resultado, nessas circunstâncias, não poderia ser outro.
Se há uma lição que o Grêmio precisa tirar da Batalha dos Aflitos é que deve trazer de volta aquela capacidade de indignação. De não desistir jamais. De se entregar até o fim para trazer o título. Nossa história foi moldada dessa forma. Nossas taças foram conquistadas na raça, no sangue e suor. Confio no trabalho do presidente Romildo Bolzan e do técnico Roger Machado. E espero que, quando recordarem daquele 26 de novembro, inspirem-se para trazer de volta, enfim, a indignação para o Tricolor. Quando isso acontecer, daremos um enorme passo para voltarmos às grandes conquistas.