Um desavisado que pegasse pela metade a entrevista do equatoriano Erazo a Zero Hora, nesta sexta-feira, poderia imaginar que se tratasse de um jogador brasileiro. Acomodado com as pernas esticadas na casamata do time visitante, na Arena, depois do treino, o zagueiro esbanjava intimidade com o português, inclusive arriscando gírias.
Grêmio x Sport: tudo o que você precisa saber para acompanhar a partida
Perguntado se aprecia lances requintados, o que poderia justificar o apelido El Elegante, recebido dos torcedores do Barcelona de Guayaquil, seu clube no Equador, Erazo deu uma resposta que ficaria muito bem na boca de um jogador criado em qualquer vila do país.
Contrato até o final do ano e por produtividade: o acerto entre Grêmio e Bobô
- Dentro de campo, é bola pro mato, já era. É arroz com feijão. Se não der para sair jogando, dá um bico. Centroavante pode errar. Se o zagueiro erra, é 1 a 0 para o adversário - disse, com uma gargalhada.
Roger se diz satisfeito com desempenho do Grêmio, mas garante grupo aberto a reforços
É possível afirmar que o herdeiro da vaga de Rhodolfo na defesa do Grêmio se esforça para virar brasileiro. Prova disso foi a decisão de pagar para que lhe ensinassem o idioma, depois de ter passado os primeiros jogos pelo Flamengo praticamente sem entender o que diziam dentro de campo.
- Meu professor também sabia espanhol, mas eu só queria falar em português. Queria pegar as gírias, o sotaque, entender mesmo as palavras, como se conjugavam os verbos. Eu praticava sozinho em casa. Aprendi só de ouvido - orgulha-se.
Com proposta de TV, Copa Sul-Minas deve voltar em 2016
Aprendeu tanto que surpreendeu já na primeira entrevista, em Gramado, durante a pré-temporada. Diferentemente dos outros estrangeiros do time, Erazo não pedia aos jornalistas para repetir as perguntas. E suas respostas saíam elaboradas, expressando ideias. Algo natural para um jogador que gosta de leitura, tem a computação como hobby e, ao concluir o ensino médio, no Equador, pensou em cursar engenharia de sistemas. Projeto só não levado adiante porque, aos 16 anos, foi contratado pelo Nacional, de Quito.
- Fui campeão já no primeiro ano (2006). Depois, fui para o Barcelona. Com 22 anos, já era capitão da seleção. Foram os primeiros frutos do futebol - recorda.
Roger foca em finalizações e bolas paradas antes de enfrentar o Sport
Quando chegou ao Grêmio, no início deste ano, Erazo sonhava desfazer a imagem de zagueiro pouco confiável, resultado da criticada passagem pelo Flamengo. Não queria deixar o país tatuado com a marca do fracasso. Para isso, não só recusou ofertas de clubes como Boca Juniors e Independiente, da Argentina, Colo-Colo, do Chile, e Córdoba e Bétis, da Espanha, como usou dinheiro do próprio bolso para pagar uma diferença financeira exigida pelo Barcelona para liberá-lo.
- Disse a meu empresário (André Cury) que já não era coisa de grana, mas de orgulho. Não queria sair do Brasil pela porta dos fundos. Se Deus havia me trazido para cá, era por alguma coisa - conta.
Mais difícil ainda foi convencer a mulher, Paola, de que perderia dinheiro para jogar no Grêmio. Chateada com as críticas que o marido recebia da torcida do Flamengo e de jornalistas, ela queria vê-lo longe daqui.
- Quando falei que pagaria para ficar, ela disse: você está louco? Está acontecendo algo errado com você? - sorri o zagueiro.
Prevaleceu o desejo de Erazo e o zagueiro se diz pronto para abrir um novo capítulo em sua história de desafios. Agora, quer satisfazer "a família gremista".
- Sei que a torcida quer que eu faça o mesmo de Rhodolfo. Não penso nisso. Quero criar minha própria história, buscar meu espaço, fazer meu trabalho honesto sem prejudicar ninguém - anuncia.
O projeto terá sequência neste sábado, na Arena, contra o Sport, a partir das 19h30min. Ao seu lado, estará o garoto Thyere, que entra no lugar de Geromel, suspenso pelo terceiro cartão amarelo.
Acompanhe o Grêmio no Gremista ZH. Baixe o aplicativo:
App Store
Google Play
*ZHESPORTES