Com um copo de café à mão, Preto está inquieto no vestiário do Estádio no Vale. Tira onda com os companheiros que passam em direção ao gramado para o treino das 16h. Ninguém escapa das brincadeiras do meia do Novo Hamburgo:
– Sou o tiozinho aqui do grupo, quase 36 anos, mas isso é bom. O Jardel, por exemplo, tem essa cara de guri, mas está bem rodado. Com quantos anos tu estás mesmo, Jardel? – pergunta Preto.
– Vinte e dois – responde o meia, 30 anos, um dos goleadores do Gauchão 2017, com três gols, para gargalhadas dos companheiros.
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O sorriso rola solto no clube líder da competição gaúcha – cinco jogos, 15 pontos. A fulminante arrancada inundou o clube de confiança. Jogadores, treinador, integrantes da comissão técnica, dirigentes, massagista e roupeiro não disfarçam a alegria com o feito obtido até agora. Está tudo dando certo desde a estreia, 1 a 0 diante do Caxias, no dia 30 de janeiro, até os 3 a 1 aplicados sobre o São Paulo, em Rio Grande, na última sexta – na segunda rodada teve uma atuação de luxo, na vitória de 2 a 1 em cima do Inter.
– No jantar de confraternização do clube, lá no começo do trabalho, eu fiz uma previsão: "Vamos longe com este grupo, deu liga" – relembrou Arno Norberto Mertins, o Gringo, 60 anos, 33 deles como roupeiro.
Deu liga mesmo. As peças foram se encaixando no quebra-cabeça montado por Beto Campos, 52 anos, um técnico obcecado pelo equilíbrio. Homem de fala tranquila, Beto é direto quando questionado sobre o sucesso de sua equipe.
– Segredos não há. O que temos é foco, concentração e um grupo disposto a acertar – resume Beto, treinador que chegou ao Estádio do Vale depois de devolver o Caxias à Série A do Gauchão.
Enquanto Beto arruma-se para ser fotografado para a reportagem – tira o óculos e boné, e estica a camiseta –, seu colega de comissão técnica Rafael Dias se aproxima silenciosamente. Dias, 33, é o preparador físico responsável pela intensidade que o time tem mostrado.
– Estamos correndo bem. Isso que o nosso grupo tem a média de idade mais alta entre todos os times do Gauchão, 27 anos – ressalta.
Do grupo de 30 jogadores – a base vem de 2016, com seis atletas contratados este ano –, seis deles têm acima de 30 anos. Problema?
– Não. Atletas como Jardel, Preto e Julio Santos têm muita vitalidade. E são inteligentes para poupar energia quando necessário – completa Dias.
Vitalidade é o que não falta ao atacante João Paulo, 32. Dentro e fora de campo. No vestiário, enquanto amarra a chuteira, diverte-se, ri, fala alto, pega no pé dos outros. O carioca de 1m85cm e muitos clubes gaúchos no currículo também atuou na Bélgica (Germinal Beerschot) e Portugal (Belenenses e Olhense). Só crispa o rosto na hora da entrevista.
– Sabemos que largamos bem, mas a competição está no começo. Precisamos ter pé no chão – diz, com vozeirão que dá eco no vestiário.
Sério mesmo é o jovem dirigente Diego Ziegg, 29, gerente de futebol do Noia. Cara de guri, é dele a função de ligação da comissão técnica com a diretoria. Um polivalente fora dos gramados.
– Até comprar o pãozinho do café da manhã para os jogadores é uma das minhas tarefas. Faço com gosto. Passo cedo na padaria e trago quentinho para eles – revela Ziegg.
Quem também não poupa esforços para ver o time lá em cima é Odilon José Costa, o Nenê, massagista do Novo Hamburgo, 59, há 17 no clube. A palavra amizade é a mais repetida no curto bate- papo. A timidez só é quebrada quando Preto deita para receber uma massagem:
– Nenê é o melhor de todos – elogia, passando a mão na careca do massagista. – Nenê, é para massagear, não alisar! – brinca Preto.
Nenê dá uma gaitada. O Novo Hamburgo 100% é só sorrisos no Gauchão.
*ZHESPORTES