Vlamir, Foguinho, Roberto, Donga e Beto; Hélio Oliveira, Róbson e Valdo; Guinga, Nei e Toninho. Essa escalação decorada e recitada pelos torcedores do Inter-SM, ficou famosa em todo Rio Grande do Sul durante o Gauchão de 1981. No clube, é o maior time de todos os tempos. Um grupo que, na fase decisiva, não perdeu nenhum dos quatro jogos contra a dupla Gre-Nal , beliscou a liderança, terminou em terceiro lugar, sagrou-se campeão do Interior e, como prêmio, ganhou uma vaga no Brasileirão do ano seguinte.
No começo daquela temporada, ser técnico não era uma ideia de Tadeu Menezes. Lateral-direito surgido no Riograndense-SM em 1968, transferiu-se para o rival dois anos depois. Teve uma breve passagem pelo Santos e voltou para o Inter-SM. Jogou no Esportivo e no Brasil e, sem acertar a renovação de contrato com o Interzinho, onde atuou em 306 ocasiões, resolveu encerrar a carreira de jogador no começo de 1981. A convite da direção, no entanto, resolveu assumir o comando do time de juniores. Mas ficou pouco tempo. Após quatro rodadas do Gauchão, o técnico Ernesto Guedes resolveu trocar o Inter-SM pelo Novo Hamburgo, e a solução encontrada foi promover Tadeu Menezes ao time principal.
– Eu nem tinha o desejo de ser técnico. Quando o presidente Eugênio Strelaiev me convidou, disse que aceitaria, mas não queria nada disso de ser interino. Apesar de um começo complicado, houve um respeito mútuo e o time engrenou – relembra Tadeu.
Escute o gol de Nei, contra o Inter, na narração de Roberto Brauner
O começo não foi promissor. O time conseguiu apenas uma vitória em 11 jogos e terminou o primeiro turno em nono entre os 12 participantes. No segundo, começou a embalar. Terminou empatado com o Novo Hamburgo do antigo técnico na terceira colocação e participou de um jogo extra para decidir com quem ficava aquele ponto a mais pela melhor campanha do Interior. Após empates em 0 a 0 no tempo normal e prorrogação, a decisão foi para os pênaltis, e o Novo Hamburgo levou a melhor.
O Inter-SM não precisou do ponto extra para se transformar na sensação do octogonal final. Já na largada, encheu a Baixada Melancólica de alegria ao aplicar 2 a 0 no Inter de Porto Alegre, com gols de Nei e Toninho. E para confirmar o bom momento, foi à Capital na segunda rodada e empatou com o Grêmio em 1 a 1. Também empatou com o Brasil e conquistou duas vitorias seguidas sobre Novo Hamburgo (3x2) e SãoPaulo (3x0). Passou a ser a ameaça à dupla Gre-Nal. Depois disso empatou com o Caxias e só foi perder na última rodada diante do São Borja.
Mas bastou começar o returno para o Inter SM incendiar novamente o campeonato. Com uma grande atuação, o time de Tadeu Menezes fez 3 a 1 no Grêmio, treinado por Ênio Andrade e que contava com todo time que conquistou o Brasileiro daquele ano. Guinga bateu um pênalti e Leão fez a defesa parcial. No rebote, o próprio Guinga mandou para a rede. Depois, Valdo lançou, Paulo Roberto falhou e Toninho ampliou. Paulo Isidoro ainda descontou no primeiro tempo. Na etapa final, novo pênalti para o Inter-SM. Róbson bateu e Leão mandou para escanteio. Na cobrança, Nei marcou de cabeça e fechou o placar, confirmando a melhor atuação do Inter-SM no campeonato.
– Naquele ano, derrotamos o Inter e o Grêmio em Santa Maria. E vencer a dupla Gre-Nal é algo festejado até hoje. A vitória sobre Grêmio foi especial, pois foi em cima de um time que tinha De León, Paulo Isidoro e que havia conquistado o Campeonato Brasileiro. E além disso, ganhamos com sobra de escore e de futebol – afirma Tadeu Menezes.
Depois da vitória, o time perdeu terreno ao empatar com Brasil e Novo Hamburgo. Reabilitou-se ao derrotar Caxias e poderia sonhar com a liderança se derrotasse o Inter no Beira-Rio. Mas ficou no empate. Guinga colocou os santa-marienses na frente, mas Assis igualou para o Inter. O empate manteve a invencibilidade nos quatros jogos contra a Dupla, mas tirou as chances de lutar pelo título. Na penúltima rodada, o Inter-SM perdeu para o São Paulo e encerrou a participação no octogonal derrotando o São Borja por 1 a 0, garantindo o título do interior e uma vaga para o Brasileirão de 1982.
O Inter foi o campeão daquele ano ao empatar o Gre-Nal da última rodada no Olímpico em 1 a 1. O colorado chegou a 21 pontos. O Grêmio ficou em segundo com 20 e o Inter de Santa-Maria em terceiro com 18.
– Ficou um gostinho de quero mais. Talvez se o modelo fosse o de hoje, nos teríamos sido campeões. No confronto direto com a Dupla Gre-Nal, nós vencemos em casa e empatamos fora. O que faltou talvez tenha sido os pontos que perdemos para os times do interior que, na época, eram muito parelhos –analisa o ex-treinador do Inter-SM.
Daquele time de 1981, o meia Valdo, que já havia atuado no Cruzeiro de Belo Horizonte, era o grande nome. O zagueiro Donga trazia a experiência. Os irmãos Centurião – Gérson e Róbson – pararam na Dupla Gre-Nal. O lateral Beto veio para o Inter, e Nei, para Grêmio.
A excepcional campanha de 1981 teve 37 jogos com 12 vitórias, 8 empates e 7 derrotas. E continuou rendendo no ano seguinte quando o Inter-SM disputou a Série Ouro do Campeonato Brasileiro (equivalente à primeira divisão), chegando até a segunda fase e alcançando o 22º lugar entre 44 participantes. E também valeu um convite do Grêmio para que Tadeu fosse o seu treinador. Mas o convite foi recusado.
– Em respeito ao Grêmio, eu disse na época que não estava preparado para dirigir um time do tamanho do Grêmio. Eu não estava preparado nem para ser técnico. Assumi um time emergente que deu certo e talvez, no Grêmio, não tivesse tempo suficiente para maturar e desenvolver meu trabalho – confessa.
Hoje, aos 70 anos, segue em Santa Maria, onde além de ter sido jogador e treinador, foi comentarista do Jornal do Almoço e das rádios locais.
– Não me arrependo de nada do que fiz e até fico lisonjeado com essa lembrança. Não estou com a guaiaca cheia, mas tenho a família formada e todos bem encaminhados – conclui Tadeu Menezes, que comandou o Inter SM em 376 jogos.