Jogar no Brasil-Pel requer mais do que futebol. Exige alma, temperamento, entrega, devoção ao clube na mesma medida da paixão de sua fanática torcida e ambientação a uma cidade de identidade própria encravada no sul do Sul do Brasil. Exige também consciência do orçamento enxuto do clube. E, é evidente, exige predicados técnicos e potencial de crescimento. Em resumo, quem desembarca no Bento Freitas ainda em fase de remodelação necessita carregar o que se convencionou chamar na Baixada de "DNA xavante".
Nas últimas cinco temporadas, Rogério Zimmermann conseguiu garimpar nomes que carregavam esse DNA. Tanto é que o Brasil saiu em 2012 da Série B gaúcha e estacionou em 2016 na Série B nacional. Atravessou divisões e mudou de patamar sem arredar um centímetro de sua rígida filosofia nas contratações.
A temporada que se inicia, no entanto, apresenta desafios que vieram a reboque do sucesso. Em 2016, foram 40 jogos transmitidos em rede nacional, somadas a Copa do Brasil e a Série B. O país viu o estreante se manter na Segunda Divisão sem sustos. E a conta chegou. Seis titulares saíram: Felipe Garcia, Diogo Oliveira, Elias e Ramon, o quarteto ofensivo, Weldinho. lateral-direito, e Washington, volante.
Rogério sabe que o desafio da remontagem em 2017 cresceu como o Brasil-Pel. Desde que chegou, em maio de 2012, sempre trabalhou com 28, 29 jogadores. Ao final de cada temporada, as trocas nunca passavam de cinco nomes. Geralmente reservas, que saíam porque encerravam um ciclo ou não acompanhavam a evolução tática e técnica do time. Essa cota se mantém. O problema é que, além desses cinco, ele perdeu outros seis titulares. E terá de repor 11. Conversei com Rogério por telefone, no final da manhã de quinta-feira. Ele interrompeu uma reunião com o presidente Ricardo Fonseca e o gerente executivo de futebol Armando Desessards para me explicar o segredo do sucesso de um clube que classifica como "artesanal". No bom sentido, claro, ressalta logo em seguida.
O artesanal referido por Rogério resume a forma cuidadosa como o Brasil monta seus times. Não há recursos para contratar quatro ou cinco atacantes, alerta o técnico. É preciso trazer o número exato. Sem margem de erro. Porque quem chegar ficará até dezembro. Se houver um equívoco na contratação, terá de conviver com ele até o final do ano. Rescisão e pagamento de multas não cabem no orçamento. É pelo risco próximo do zero nas contratações que o Brasil-Pel busca jogadores com o DNA xavante.
– Os novos são escolhidos dentro do perfil do clube, precisam ser competitivos, ter entrega nos 90 minutos. Devem ser muito parecidos com os que estão aqui para que a mudança no grupo não apareça tanto. Dos cinco que já chegaram, três jogaram o Gauchão. Os outros dois têm características para atuar aqui. Treinaram uma semana e parece que estão há quatro meses no grupo – comemora Rogério.
Leia mais:
Aimoré fica no empate em 0 a 0 com o São José-SP na Copinha
Juventude goleia o Guaratinguetá pela Copa São Paulo de Futebol Júnior e encaminha classificação
Fifa revela novo troféu a ser entregue ao melhor jogador do ano
Os cinco novos a que se refere são Éder, lateral-direito trazido do Sampaio Corrêa, Aloísio, meia ex-Vila Nova-GO, Lenílson, meia que estava no Moto Clube-MA, Tiago Silva, lateral-esquerdo buscado no São José-POA, e Jean Silva, atacante vindo do Anápolis-GO. Os três últimos já jogaram o nosso Estadual, mas são desconhecidos da torcida e da imprensa. Porém, estavam sendo monitorados havia alguns meses pelo clube. Éder e Aloísio foram adversários na Série B. Os números de Éder afiançam sua contratação.
O lateral jogou 32 partidas da Série B em 2015 e 31 em 2016. Não só os números servem de garantia. Há uma rede de informantes formada por técnicos e preparadores físicos que ajudam a esquadrinhar o novo contratado. Ninguém vem no escuro. Qual o segredo do acerto nas contratações do Brasil, eu pergunto.
– Há um processo de treino bem avançado, uma metodologia legal de trabalho e uma continuidade, não só da comissão técnica e da direção, mas do grupo. Tudo pode ir por água abaixo se errar na contratação – responde Rogério, para emendar na sequência:
– Nesse momento das escolhas, talvez se definia o sucesso no ano.
Quem chega é logo apresentado ao clube. O capitão Leandro Leite, que desembarcou em 2012, o goleiro Eduardo Martini e o zagueiro Teco são alguns dos responsáveis por ciceronear os novatos. E mostrar para eles que jogar no Brasil exige temperamento, disposição e devoção a uma torcida fanática. O tal do DNA xavante.