Uma das máximas do futebol aponta para que quanto mais velho, melhor é o goleiro. A experiência na função muitas vezes foi credencial para grandes nomes da posição. O Juventude, porém, chegou à final do Gauchão contrariando a tese. Elias, o herói do time na classificação diante do Grêmio, na Arena, tem 20 anos.
E que temporada vive o camisa 1 do Ju. Em fevereiro, descobriu que será pai. Ele e a mulher, Juliane, já sabem que será Frederico, se for menino.
– Estou muito feliz com tudo. Acabei de fazer o jogo mais importante da minha vida (na Arena), e serei pai neste ano. Se for uma menina, ainda teremos que escolher um nome – diverte-se o goleiro, que começou a carreira como lateral-esquerdo.
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Serrano de Vacaria, Elias e o irmão mais velho, Maurício, começaram a jogar bola no Glória. Maurício era o goleiro da família. Elias, o lateral.
– Depois, acabamos trocando as posições. Me vi melhor de goleiro do que como lateral. E o Maurício passou a treinar na lateral-esquerda – conta o goleiro do Juventude.
Prata da casa, Elias está em sua terceira passagem pelo Alfredo Jaconi. A primeira vez foi aos 12 anos. Jogava nos infantis e morava na casa de parentes do pai, Zigomar, em Caxias do Sul. Voltou para casa quando a saudades bateu e retomou a carreira no Juventude aos 15 anos. Como não havia lugar no alojamento do clube (e os parentes já não estavam na caidade), retonrou para Vacaria. Voltou à base do Glória, mas não demorou a receber um convite para jogar no Porto Alegre – o extinto time de Assis Moreira, cujo estádio ficava no distante bairro do Lami, extremo sul da Capital.
– Tudo era muito longe lá. Às vezes, evitava deixar o alojamento para não ter de ficar mais de uma hora andando de ônibus – recorda o goleiro. – Mas, em seguida, fui chamado para volatr ao Juventude, para o segundo ano de juvenil. Estava com quase 17 anos. Voltei e não saí mais – lembra Elias.
O goleiro estreou no time de cima do Juventude em junho do ano passado. Na época, disputava a camisa 1 com Diego e com Airton. A vitória de 4 a 3 sobre o Madureira, no Rio, pela Série C – em dos jogos mais emocionantes daquele campeonato –, fez com que Elias Curzel (ele era chamado assim na estreia, pelo nome e sobrenome) passasse no vestibular de goleiros do Jaconi.
– Elias ainda é um goleiro em processo de formação, devido á pouca idade. Mas já é um líder em campo e um cara calmo, que mantém a serenidade em momentos difíceis. Algo que é fundamental para que um goleiro passe segurança à defesa – conta Márcio Angonese, goleiro titular do Juventude por sete temporadas e preparador de goleiros do clube.
Para Márcio, a derrota por 3 a 1 para o Grêmio na Arena, o jogo que classificou o Juventude para as finais contra o Inter, uma vez que havia vencido o jogo de ida por 2 a 0, mostrou toda a personalidade e a coragem de Elias.
– Trabalho com o Elias desde 2013. Ele toma decisões rápidas e não se assusta em jogos complicados. Na Arena, as condições de campo eram dificílimas, pois o gramado estava molhado e sempre havia muita gente na frete dele, dentro da área. Elias está pronto para as finais. Sabe que serão jogos mais tensos e mais físicos – entende Márcio.
Campeão gaúcho com o Juventude, em 1998, sobre o Inter, o ex-goleiro Humberto Flores, também aposta na serenidade do jovem arqueiro nas finais de 2016:
– Elias está em grande fase e tem feito jogos maduros. Quanto mais vai jogando, mais vai amadurecendo. Ele é calmo, mas vibrante. E não inventa defesas. Sempre trata de simplificá-las. Isso faz com que o zagueiro não precise correr na direção do goleiro porque sabe que ele vai segurar a bola com firmeza, até nos lances mais difíceis.
Observador, Elias aproveita os momentos em que Roberson, Hugo e companhia estão no ataque para analisar os goleiros adversários. Destaque do Gauchão, não será surpresa se o Juventude acabar negociando parte dos 100% dos direitos econômicos do goleiro a um time da Série A, assim que o Estadual chegar ao fim.
– Gosto de ver Marcelo Grohe, Alisson e Fábio (goleiro do São José) jogando. São caras que têm um grande controle da área e que são objetivos nas defesas – afirma Elias. – No jogo contra o Grêmio, no Jaconi, o Grohe me cumprimentou depois da partida, me deu parabéns pelo jogo, e brincou, dizendo que eu podria ter deixado passar a falta do Fred (que quase foi gol) – acrescenta ele.
Além disso, o goleiro do Juventude entende que a decisão contra o Inter terá algumas diferenças com relação à semifinal contra o Grêmio:
– O Grêmio ataca por dentro, com infiltração. Estávamos confiantes na Arena, mas ansiosos para que o jogo acabasse logo. Já o Inter chega muito pelas pontas, com os laterais, e é perigosíssimo nos cruzamentos e nas cobranças de faltas para a área. Estamos estudando bem o Inter.
Elogiado pelos ex-goleiros do Juventude, Elias sempre pede ajuda divina para trabalhar. Além das orações da mãe, Izete, cada vez que o "meu menino" vai a campo, o camisa 1 pede proteção a Nossa Senhora de Fátima e para Nossa Senhora Aparecida.
– Antes dos jogos, sempre conversamos por telefone. Dou força a ele e digo para que mantenha a calma e a fé. Quando entra em campo, ele carrega imagens das duas santinhas, e as coloca atrás da goleira. Tem dado certo, né? – entrega o pai, Zigomar.
Se o goleiro fizer contra o Inter uma atuação tão consistente como a da Arena, levando o clube ao bicampeonato, é possível que ganhe status de divindade entre a torcida do Juventude, se transformando em Santo Elias.
* ZH ESPORTES