Altemir Hausmann, ex-assistente da Fifa por 23 anos e com 17 clássicos no currículo, lembra da pressão dos torcedores da Dupla.
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Em Estrela, cidade de 30 mil habitantes do Vale do Taquari, o termômetro se espicha em busca dos 37ºC. É sexta-feira. Em casa, Altemir Hausmann, que perdeu o escudo da Fifa em dezembro passado, quando fez 45 anos, 23 como assistente, olha a mulher, Roselaine. Ele ouviu que o amigo Leandro Vuaden seria o árbitro do Gre-Nal.
- Como é bom saber que tu não está no Gre-Nal.
Ela sorri. Ele, não. Ele fala.
- Antes eu queria estar no clássico. Hoje, não mais. Poderia ter uma sobrevida de cinco anos, servindo só a Federação Gaúcha de Futebol. Pensei melhor e desisti. Vou investir este tempo na família. Faz 23 anos que não tiro férias.
A vida de bandeirinha é difícil. Chega a ser cruel quando o árbitro vive num lugar pequeno, no qual todos conhecem todo o mundo:
- "Seu filho está roubando", diziam para a minha mãe na rua.
A Dona Alzi tem 77 anos, é alemoa e ficava muito braba. Queria dar nos abusados. Ela é colorada e o filho tem 17 Gre-Nais nas costas: seis vitórias do Grêmio, cinco do Inter e seis empates:
- "Tu não dá sorte com o meu time", ela brincava. Mas aí, é dentro de casa. Não saía de lá.
O nome de batismo de Altemir foi pura imposição do pai, Nildo.
- Era em homenagem ao lateral gremista Altemir (dos anos 1960). Quando nasceu meu irmão, a mãe queria dar a ele o nome de um jogador do Inter. O pai não deixou. Discutiram. Saiu Heleno, que jogou na Seleção Brasileira.
Seus dois filhos, Gustavo, 15 anos, e Arthur, 9, são gremistas, influenciados pelo cunhado, Giacomo Schossler, 30 anos.
- Não assisto a jogo do Grêmio com ele. Não dá.
Como todo gaúcho, Hausmann tem um time.
- Gostaria de ver o clássico na Arena com toda a tranquilidade do mundo, mas não vou. Sempre tem um corneteiro de plantão, querendo fazer uma piadinha. Acho que não seria legal. Não me sentiria bem.
Nos estádios, sempre notou pressão maior no estádio gremista:
- Não sei se ainda era efeito da Era Felipão, mas parece que a pressão da torcida sempre foi maior no Olímpico do que no Beira-Rio. Mas logo a gente se acostumava.
Torcedor nunca o preocupou, mas ele aprendeu, ao poucos, a reconhecer os sinais da torcida.
- Quando a gritaria, as ofensas e os coros se prolongavam, eu sentia: "Ih, caramba, me quebrei". Mas se eu ouvisse os gritos e depois um silêncio, tinha certeza: "Ah, fui bem".
O sinal dos jogadores em campo nunca foi claro:
- Alguns mentiam quando voltavam do intervalo. Diziam que eu tinha errado, quando, na real, a marcação havia sido correta. Técnicos e dirigentes, às vezes, agiam assim também.
Ele tinha estratégia para acertar impedimentos milimétricos:
- Vou resumir. É preciso posicionamento, concentração e pré-estudo dos jogadores.
Hausmann tenta se livrar do futebol aos poucos. É sua meta.
- Vou parar, não quero mais assistir tudo na TV, todo o dia.
- Será que um ex-bandeirinha pode se tornar torcedor depois da aposentadoria?
- Nem sei mais o que é isso. São 23 anos de arbitragem. Torcia até sair do quartel. Quando entrei no mundo da arbitragem comecei a torcer por mim e pelos colegas.
- Nem no Gre-Nal?
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