A cada Olimpíada, os fãs da bola pesada se perguntam o porquê do futsal não estar nos Jogos. Maior referência das quadras no Brasil, que iniciou e terminou a carreira sem ver o futsal incluído no maior evento esportivo do mundo, Falcão sempre defendeu que o esporte estivesse entre as modalidades olímpicas.
— Tanto o futsal quanto o beach soccer (futebol de praia) sofrem bastante por serem esportes da Fifa. Já ouvi que a Fifa entende que se o futsal estivesse nas Olimpíadas, atrapalharia um pouco o peso do Mundial da modalidade, que vai ocorrer daqui a dois meses, por exemplo — contou em conversa com Zero Hora.
O ex-atleta, de 47 anos, eleito quatro vezes o melhor do mundo pela própria Fifa, acrescentou que a situação também pode ser resultado da "falta de interesse" de certos países.
— O futsal não é tão forte em potências olímpicas como os Estados Unidos e a China, então para eles não interessa, né?
Falta de mobilização
De acordo com o estatuto do Comitê Olímpico Internacional (COI), para ser olímpico um esporte só precisa ser “amplamente praticado por homens em pelo menos 75 países e quatro continentes e por mulheres em pelo menos 25 países e três continentes”.
A exigência com certeza é atingida pelo futsal, prática existente desde a década de 1930. Somente no Rio Grande do Sul, conforme levantamento feito por ZH em 2023, por exemplo, são mais de 400 times em atividade, entre equipes adultas e de categorias de base espalhadas por 120 cidades diferentes.
O número, se multiplicado pelas 27 unidades da federação que compõem o Brasil, chega a parâmetros gigantescos. E o mesmo ocorre em vários outros países — o problema, aponta Falcão, é que falta uma mobilização entre as federações para levar o esporte aos Jogos Olímpicos.
— Eu nunca vi as grandes potências mundiais do futsal comprarem uma briga política para ter o esporte nas Olimpíadas. Agora, no Uzbequistão (onde ocorrerá a Copa do Mundo de futsal), poderiam se juntar Brasil, Espanha, Rússia, Portugal e Itália para se sentar com a Fifa e falar: vocês podem nos ajudar? Creio que é preciso tentar, pelo menos para ter uma resposta final — sugere o ídolo, campeão mundial pela seleção brasileira em 2008 e 2012.
A relação espinhosa entre a Fifa e o COI pode ser vista no próprio futebol masculino. Apenas atletas de até 23 anos — com exceção de três jogadores acima desta idade por seleção — podem disputar as Olimpíadas. Assim, a Copa do Mundo não "perde valor", afinal, segue como o único torneio que reúne os melhores times nacionais.
Agora, no Uzbequistão, poderiam se juntar Brasil, Espanha, Rússia, Portugal e Itália para se sentar com a Fifa e falar: vocês podem nos ajudar?
FALCÃO
Melhor jogador de futsal do mundo em 2004, 2008, 2011 e 2012 em entrevista à Zero Hora.
Por outro lado, também é preciso considerar que a inserção de outro esporte coletivo nas Olimpíadas acarretaria num pesado impacto de logística e custos para o país-sede. Cada nação classificada seria representada por 14 atletas, afora comissão técnica, por exemplo.
Em uma espécie de "teste" — que ainda não resultou em efeitos concretos — o futsal foi incluído nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018, em Buenos Aires. O ouro ficou com o Brasil.
As novidades
As novas modalidades que são integradas a cada edição das Olimpíadas são indicadas pela cidade-sede e analisadas e aprovadas pelo COI. Em Paris, o breaking e a canoagem slalom extremo são as novidades. Na edição de 2028, entram beisebol, críquete, flag football, lacrosse e squash.
Em 2016, o então ministro do Esporte, George Hilton, chegou a afirmar que pediria ao COI a inclusão do futsal nas Olimpíadas como esporte de demonstração (quando as medalhas não são contabilizadas para o quadro oficial). O assunto, porém, não avançou.
O Brasil, entretanto, deu exemplo ao menos às Américas em 2007, quando o futsal foi incluído nos Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro. A seleção da casa ficou com a medalha de ouro, em final que foi sucesso de público, como lembra Falcão. A experiência do futsal no Pan não se repetiu.
— (A organização) se arrependeu depois de não ter feito a final entre Brasil e Argentina no Maracanãzinho. A gente acabou jogando no Rio-Centro para 2,2 mil pessoas e os ingressos acabaram em minutos — recorda.